sábado, 5 de maio de 2012

O Rebucetê Entrevista: Isabela Silveira


Por Lucas Oliveira Dantas


Foto: Purki
O primeiro Festival da Juventude de Vitória da Conquista está sendo um espaço cultural para a cidade de diversas formas. Como parte da programação oficial, está acontecendo o “De Solos e Coletivos – Mini Festival Itinerante” realizado pelo Núcleo VAGAPARA, em parceria com o Coletivo Quitanda.


Na ativa há cinco anos, o VAGAPARA é um coletivo de artistas cênicos que atuam coletiva e colaborativamente. Suas atividades se desenvolvem nas áreas de dança, teatro, audiovisual, performance, além de outras linguagens, que são compartilhadas internamente ou em colaboração com artistas externos ao grupo, com o objetivo de explorar as capacidades e interesses particulares de cada integrante, mantendo-se sempre em atividade.



Em conversa com O Rebucete, a atriz, dançarina, produtora cultural e mestra em Teatro pela Ufba, Isabela Silveira, falou sobre o mini festival, seu trabalho e as oficinas ministradas pelo grupo durante os três dias de Festival da Juventude.


O Rebucetê - O Núcleo VAGAPARA foi contemplado com edital de distribuição de espetáculos de dança e vocês, além de Conquista, têm excursionado pelo estado e em outros lugares. Como tem sido essa experiência e qual importância dela para o trabalho do grupo.


Isabela Silveira - O projeto que estamos apresentando em Vitória da Conquista desde ontem [03/05] até domingo está em sua terceira edição. Ele começou com o Núcleo VAGAPARA e o Coletivo Quitando apresentando, dentro do Fundo de Cultura, em 2010/2011, espetáculos em Barreiras, Bom Jesus da Lapa e Santa Maria da Vitória. E tem sido uma experiência bárbara! Porque a ideia do “De Solos e Coletivos” é criar uma aproximação entre os artistas criadores que não são necessariamente de grupos ou companhias, mas de núcleos ou aglomerados artísticos, e também com trabalho solo, para compartilhar experiências. Então a gente se junta para apresentar, mas também tem interesse em se juntar com artistas que estejam em nossas platéias ou oficinas. Tem sido uma experiência fantástica, com redes sendo criadas e fortalecendo a produção das artes cênicas na Bahia.


OR - Há alguns meses o Vagapara esteve em Vitória da Conquista apresentando o espetáculo “Fragmentos de um só”, com os segmentos “Calçolas”, “Em gole” e “Cartografia de um relevo interno”, apresentado por você. Qual a relação entre o “Cartografia” e a intervenção urbana “Isto é apenas uma mulher”?


Foto: Purki
IS - “Isto é apenas uma mulher” é um desdobramento na rua de um videodança que eu produzi em Porto Alegre, o “Mulheres de Magritte” e ele está ligado à ideia de feminino e identidade. No processo de criação, vou pra uma sala de ensaio com Márcio Nonato, meu colaborador, e ele nota que aquela imagem que é uma mulher com um pano na cabeça fazendo uma movimentação super lenta, poderia ter um desdobramento muito interessante na rua.


Esse nome parece muito com os nomes das obras de Magritte, que inspirou primeiro o videodança; porque o Magritte, um pintor belga, pinta quadros que são um pouco difíceis de entender exatamente o que ele quer dizer ou que metáfora está ali instalada, e os títulos ajudam muito a perceber e fazer a leitura e acompanhar, às vezes a ironia, às vezes a dureza daquela obra. A obra mais famosa do Magritte é a “Isto não é um cachimbo” que é um cachimbo pintado e nele está escrito embaixo “isto não é um caximbo”. Então essa ideia de ruído, de trânsito, do que é do que não é, eu trouxe para mim como mulher e acabo pesquisando isso dentro da ideia de feminino.
Imagem: Google


O solo “Cartografia de um relevo interno” fala de novo sobre feminino e identidade, só que ao invés de se valer dos princípios, ou do Magritte, ou da dança que inspiraram os outros trabalhos, o “Cartografias” fala de um universo teatral e foi criado em um espetáculo coletivo chamado “Fragmentos de um só”. Então, a coisa que liga todas essas coisas sou eu e minhas questões de feminino e idêntidade.


OR - Isso nos leva à próxima pergunta que é a importância dessas questões de gênero e da feminilidade no seu trabalho.


IR - É toda! Não sou como Lisa Vietra [colega de Núcleo VAGAPARA] que é uma estudante de gênero e sexualidade, com embasamento teórico, de forma que essas questões estão embricadas na vida dela, também acadêmica. Mas eu gosto muito dos espetáculos que tenham uma possibilidade autoral, em alguma dimensão; e como eu sou mulher, e como as questões de identidade e o papel da mulher me afligem, eu acabo trazendo tudo isso para o cotidiano.


E a contemporaneidade está discutindo, de fato, todas essas “caixinhas” do que é homem, do que é mulher, do que é gay, do que é heterossexual. Essas caixinhas foram implodidas e a gente hoje tem um grande questionamento coletivo que está refletido tanto no meu trabalho, quanto nos outros trabalhos que vocês verão no Mini Festival Intinerante.


OR - Fale um pouco sobre a oficina de produção que vocês estão ministrando na cidade.


IR - A gente está ministrando duas oficinas dentro do “De solos e coletivos”, uma de criação artística que é com Lucas Valentin e Lisa Vietra, que são do VAGAPARA, e com Isaura Tupiniquim e Mab Cardoso. E de manhã tem a oficina de produção, comigo, onde basicamente eu compartilho as minhas experiências e conhecimentos, as ferramentas, a gente discute um pouco sobre esse fazer cultural, para além dos projetos e editais, num pensamento macro.


No primeiro dia de aula teve gente que não tinha conhecimento algum de produção, mas também gente que tinha esse conhecimento. Mas a reflexão sobre o fazer está lá na oficina, que vai até domingo, quando vamos trabalhar especificamente com projetos, mas antes estamos nesses conceitos macros, o que é um projeto, o que é produção cultural, qual o papel do produtor, o que é cultura - conceitos tais que precisam orientar o nosso fazer.

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