Por Murillo Nonato
No auditório II do
Luizão, módulo acadêmico da Universidade Estadual Sudoeste da Bahia (UESB)
encontravam-se vários profissionais da área da comunicação, psicologia,
educação, representantes de entidades estudantis e jovens que representavam
apenas a si mesmos (ou o interesse do que acreditavam ser o da coletividade)
reunidos para debater políticas públicas para a juventude. A discussão fazia
parte da programação do Festival da Juventude que ocorreu na cidade no último
final de semana. Na parte mais elevada do recinto havia uma mesa onde se
acomodavam os palestrantes convidados: Vladimir Pinheiro, coordenador Estadual
da Juventude e Juremar Oliveira, presidente do Conselho Estadual da Juventude
da Bahia.
Nas falas imperava o discurso da aproximação da juventude com o governo, da diversidade , necessidade e particularidades de cada um deles. A preocupação do evento com essa diversidade era nítida. Foram realizadas várias mesas para discutir a variedade e diversidade dessa parcela da população, como exemplo as rodas sobre a juventude negra, LGBT, da mulher e etc. No entanto, nem toda juventude foi lembrada.
Nas falas imperava o discurso da aproximação da juventude com o governo, da diversidade , necessidade e particularidades de cada um deles. A preocupação do evento com essa diversidade era nítida. Foram realizadas várias mesas para discutir a variedade e diversidade dessa parcela da população, como exemplo as rodas sobre a juventude negra, LGBT, da mulher e etc. No entanto, nem toda juventude foi lembrada.
Sentado na segunda fileira das cadeiras do auditório, eu dividia minha atenção entre os palestrantes e os três jovens reunidos na fileira a frente da minha: Nayana Santos Ferrais Morais, estudante de Pedagogia da UESB e Kayque Costa, estudante do IFBA e presidente do Grêmio Estudantil Interação, se dividiam para tentar interpretar em libras, a língua dos surdos emudos, tudo aquilo que estava sento dito pelos palestrantes da mesa, para Magno Prates (18), jovem surdo e estudante de informática do IFBA.
Nayana e Kayke,
voluntariamente se organizaram durante toda a palestra para tentar sanar uma
falha que a organização do evento cometera: não colocar intérprete de libras em
todas as mesas para que os jovens com deficiência auditiva pudessem acompanhar
e entender as falas como os jovens restantes. Afinal de contas, não era de
integração e aproximação de que estávamos falando? Para isso é necessário que
houvesse diálogo, comunicação... E como comunicação não é aquilo que se fala, e
sim o que se entende, percebi que havia incomunicabilidade entre jovens como
Magno e o evento como um todo.
O fluxo de informação era
rápido, os palestrantes tinham pouco tempo para explanar o conteúdo e corriam
contra o tempo. Nayana e Kayke corriam com as mãos para tentar acompanhar o
ritmo da fala de Vladimir e Juremar. A estudante de pedagogia às vezes se
atrapalhava, parava, pensava, processava a informação e tentava se lembrar dos
sinais que representavam aquelas ideias, o que nem sempre dava tempo. Em alguns
momentos ela massageia os dedos, massageia o rosto, afinal de contas a
expressão facial é de suma importância na linguagem de sinais. Chega uma hora
que cansa, não dá mais, aí ela troca de lugar com o outro voluntário.
A estudante de pedagogia
revela que ainda está em processo de aprendizagem e que traduzir
simultaneamente é ainda complicada para ela, a experiência que tem com a língua
vem do contato com os sujeitos surdos e mudos e com o curso de libras com
duração de um mês que frequentou na UESB no ano passado. O presidente do
grêmio Interação, Kayke, conta que aprendeu os sinais no contato com os alunos
com deficiência que estudam no IFBA e reforça “estamos em fase de aprendizado
ainda, não somos intérpretes, por isso geralmente é difícil ajudarmos eles,
pois os palestrantes falam muito rápido, às vezes a gente perde alguma coisa
assim ou outra, mas é assim mesmo”.
Magno fixa o olhar nas
mãos e nas expressões de seus tradutores voluntários. É sua primeira vez em um
festival e revela que a experiência tem sido positiva, mas afirma que para a
participação do sujeito surdo seja maior, o evento deveria ter se preocupado
com indivíduos portadores de necessidades especiais com as dele. Além
disso, ele lembrou que o sujeito surdo não é negligenciado apenas em festivais,
mas que no geral não existe o respeito no Brasil à lei de libras. Como no
festival foi difícil entender e se fazer entender, Magno aponta que no
dia-a-dia essa negligência da sociedade para com as pessoas é rotina. Comprar
pão, ir ao médico ou a qualquer órgão público no país, o que seria uma
atividade simples para qualquer um de nós, para pessoas como ele se torna
complexo, limitando a independência desses. “Para ir ao médico tenho que ir com
a minha mãe para poder entender. É difícil, é muito difícil, é preciso que todo
mundo faça curso de libras para poder aprender , para facilitar a comunicação”,
afirma o estudante de informática.
Para Magno, falta muita
iniciativa do governo para melhorar a vida do sujeito com deficiência, qualquer
tipo de deficiência.“É necessário que o governo tenha diálogo maior com as
pessoas que tem deficiência. É necessário avisar para todos que é muito importante,
que demora-se muito para que as políticas públicas apareçam, demora demais”,
aponta o jovem. Apesar das dificuldades o estudante afirmou que não desistiria
de ir aos festivais e de participar das discussões, mas que essa foi uma grande
falha a qual a prefeitura terá que sanar nos próximos eventos.
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