sexta-feira, 11 de maio de 2012

Um festival para as juventudes. Todas as juventudes.

Por Murillo Nonato

No auditório II do Luizão, módulo acadêmico da Universidade Estadual Sudoeste da Bahia (UESB) encontravam-se vários profissionais da área da comunicação, psicologia, educação, representantes de entidades estudantis e jovens que representavam apenas a si mesmos (ou o interesse do que acreditavam ser o da coletividade) reunidos para debater políticas públicas para a juventude. A discussão fazia parte da programação do Festival da Juventude que ocorreu na cidade no último final de semana. Na parte mais elevada do recinto havia uma mesa onde se acomodavam os palestrantes convidados: Vladimir Pinheiro, coordenador Estadual da Juventude e Juremar Oliveira, presidente do Conselho Estadual da Juventude da Bahia.


Nas falas imperava o discurso da aproximação da juventude com o governo, da diversidade , necessidade e particularidades de cada um deles. A preocupação do evento com essa diversidade era nítida. Foram realizadas várias mesas para discutir a variedade e diversidade dessa parcela da população, como exemplo as rodas sobre a juventude negra, LGBT, da mulher e etc. No entanto, nem toda juventude foi lembrada.


Sentado na segunda fileira das cadeiras do auditório, eu dividia minha atenção entre os palestrantes e os três jovens reunidos na fileira a frente da minha: Nayana Santos Ferrais Morais, estudante de Pedagogia da UESB e Kayque Costa,  estudante do IFBA e presidente do Grêmio Estudantil Interação, se dividiam para tentar interpretar em libras, a língua dos surdos emudos, tudo aquilo que estava sento dito pelos palestrantes da mesa, para Magno Prates (18), jovem surdo e estudante de informática do IFBA.

Nayana e Kayke, voluntariamente se organizaram durante toda a palestra para tentar sanar uma falha que a organização do evento cometera: não colocar intérprete de libras em todas as mesas para que os jovens com deficiência auditiva pudessem acompanhar e entender as falas como os jovens restantes. Afinal de contas, não era de integração e aproximação de que estávamos falando? Para isso é necessário que houvesse diálogo, comunicação... E como comunicação não é aquilo que se fala, e sim o que se entende, percebi que havia incomunicabilidade entre jovens como Magno e o evento como um todo.

O fluxo de informação era rápido, os palestrantes tinham pouco tempo para explanar o conteúdo e corriam contra o tempo. Nayana e Kayke corriam com as mãos para tentar acompanhar o ritmo da fala de Vladimir e Juremar. A estudante de pedagogia às vezes se atrapalhava, parava, pensava, processava a informação e tentava se lembrar dos sinais que representavam aquelas ideias, o que nem sempre dava tempo. Em alguns momentos ela massageia os dedos, massageia  o rosto, afinal de contas a expressão facial é de suma importância na linguagem de sinais. Chega uma hora que cansa, não dá mais, aí ela troca de lugar com o outro voluntário.

A estudante de pedagogia revela que ainda está em processo de aprendizagem e que traduzir simultaneamente é ainda complicada para ela, a experiência que tem com a língua vem do contato com os sujeitos surdos e mudos e com o curso de libras com duração de um mês que frequentou na UESB no ano passado.  O presidente do grêmio Interação, Kayke, conta que aprendeu os sinais no contato com os alunos com deficiência que estudam no IFBA e reforça “estamos em fase de aprendizado ainda, não somos intérpretes, por isso geralmente é difícil ajudarmos eles, pois os palestrantes falam muito rápido, às vezes a gente perde alguma coisa assim ou outra, mas é assim mesmo”.

Magno fixa o olhar nas mãos e nas expressões de seus tradutores voluntários. É sua primeira vez em um festival e revela que a experiência tem sido positiva, mas afirma que para a participação do sujeito surdo seja maior, o evento deveria ter se preocupado com indivíduos portadores de necessidades especiais com as dele.  Além disso, ele lembrou que o sujeito surdo não é negligenciado apenas em festivais, mas que no geral não existe o respeito no Brasil à lei de libras. Como no festival foi difícil entender e se fazer entender, Magno aponta que no dia-a-dia essa negligência da sociedade para com as pessoas é rotina. Comprar pão, ir ao médico ou a qualquer órgão público no país, o que seria uma atividade simples para qualquer um de nós, para pessoas como ele se torna complexo, limitando a independência desses. “Para ir ao médico tenho que ir com a minha mãe para poder entender. É difícil, é muito difícil, é preciso que todo mundo faça curso de libras para poder aprender , para facilitar a comunicação”, afirma o estudante de informática.

Para Magno, falta muita iniciativa do governo para melhorar a vida do sujeito com deficiência, qualquer tipo de deficiência.“É necessário que o governo tenha diálogo maior com as pessoas que tem deficiência. É necessário avisar para todos que é muito importante, que demora-se muito para que as políticas públicas apareçam, demora demais”, aponta o jovem. Apesar das dificuldades o estudante afirmou que não desistiria de ir aos festivais e de participar das discussões, mas que essa foi uma grande falha a qual a prefeitura terá que sanar nos próximos eventos.

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