terça-feira, 28 de agosto de 2012

Nessa geração puro deboche


Da Redação



Na nossa cornucópia (bagunça em cult-iês) de mentes e ideias, o rebucetê convida você pra uma noite de discotecagem gostosa em que o objetivo único e exclusive é ralar a tcheca no chão!

“Corra. pense nisso: é do lado de dentro, é do lado de fora. se informe, pense em ver os filmes que não vão passar aqui, os espetáculos que não vão poder acontecer aqui por causa disso tudo, das dificuldades que a gente conhece: saia um pouco, pense nisso: vá lá, do lado de fora, invista em informação, fure a barreira e se lance no mundo, bote os pés do lado de fora e sinta o drama, faça das suas, ande por aí, considere a possibilidade de ir para o japão num  cargueiro do lóide lavando o porão, ache um meio, se arranque e fique sabendo das coisas: por aqui, menino, continua tudo confuso, apesar do verão que não me engana. pense nisso, naquilo. vá e compare: em nova iorque, por exemplo, tudo ferve. se mande. faça das suas”*.

Esse pinta mais legal: é baile funk misturado com músicas de protesto ao som frenético das batidas pops Coreanas. DAEBAK! Loucura da nossa cabeça? Pós modernidade? Seil lá, nem freud explica!
Mais ou menos por aí, embriagados de ideias, explodindo em ritmos, cores e práticas para uma nova roupagem às noites conquistenses, vem aí a mais louca das loucas propostas dos últimos tempos. É bacaninha, é supimpa, é legal!

O Rebucetê com seu “alto astral, altas transas, lindas canções”, promovendo pela primeira vez muita “chuva, suor e cerveja”, fazendo mash up com a voz rasgante de Gaby Amarantos e o violino de Jorge Mautner. Eu vou, por que não? 

Bobeira, bestagem? Bestagem é ficar aí parado, dando mole, matando coelho na caixa d’agua, vendo a vida passar da janela. O Putetê tá chegando e quem não for já era. “Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora”.

“Não dê comidinha pros grilos, era essa. Não seja estúpido: quem gosta de grilo é o grilo que a gente sabe que existe: deixe ele lá, tá sabendo?”*

Para ver a banda passar, vamo pular, vamo pular, VAMO PULÁ! Pula, dança, sem parar, não se reprima, segure o tchan. É topzinho, chinelinho, calção, lycra limão, café coado na calcinha, aguardente num bom samba-canção. Se vacilar o jacaré abraça, eu vou me atirar na orgia com a cabeça fria, o pé quente e o coração bombando.

Quem samba na beira do mar das ideias é sereia. O Putetê e os alquimistas estão chegando e na hora ninguém escapa, debaixo da cama ninguém se esconde. Já dizia minha vó, antes mal acompanhado do que só. Dê um rolê, você vai ouvir porque atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Estilo cachorro? Você é um negão de tirar o chapéu, coisinha tão bonitinha do pai. Se tiver que ser na bala, vai. E quem não gosta de samba, bom sujeito não é. E já que o meu maracatu pesa uma tonelada, vou sorrindo vou vivendo em 78 por segundo rotações, quente feito um vulcão. É a explosão tchakabum no jeitinho que Nara gosta: arrocha, arrocha arrocha.

Então é isso aí. Viva a rapaziada, viva a poesia, viva a música e viva O Putetê! 

PS: Antes de entrar na onda verifique se a mesma está no andar. Sorria você está sendo esperado.

Serviço:
O quê: O Putetê 
Quando: 15 de Setembro
Local: Viela Sebo-Café
Horário: 20h
Entrada: R$5

Confirme presença no evento aqui!

* Citações de Torquato Neto.

A Poesia é Inútil

Por Lucas Oliveira Dantas

Foto: Divulgação
Desde a entrevista com Sonia Rangel, eu sentia que minha “crítica” sobre o “Protocolo Lunar” não poderia ser, senão, sobre a experiência do espetáculo e não sua técnica. No momento em que se iniciou o espetáculo, pensei em meu pai, Flavio Dantas.

“Quem diabos é seu pai e que cacetas eu tenho a ver com ele?”, talvez se pergunte. Explicarei.

domingo, 26 de agosto de 2012

O Rebucetê Entrevista: Leoni

Por Thaís Pimenta

A juventude pode ser compreendida como período das inciações, em que  se vivencia e experimenta as primeiras formas de  amor. As músicas a compor a  trilha sonora de cada um vêm refletir acerca dos lugares e significados que são  atribuidos à vida amorosa. Histórias de amor, romance e desilusão são temas que não se encerram e estão sempre abertos para novas versões. E assim, o modo de conceber o amor se torna a maior aposta dos grandes compositores. Leoni, principal compositor do grupo Kid Abelha e que segue carreira solo desde 1993, não foge a regra. Músicas como "Garotos" e "Educação Sentimental", cantadas para uma geração anterior, transcendem o tempo e se tornam atuais para os novos jovens.

Século XXI. Os amores  passam a transitar entre o real  e o virtual. Mas não é só o amor que passa a ter uma configuração diferente a partir dessa digitalização do mundo, as práticas de compartilhamento de músicas também são modificadas.  Leoni vem transgredir nesse sentindo também, se adaptando às novas relações estabelecidas pela internet, hoje é um dos principais artistas que debate e discute temas como download de músicas e Ecad. E todos os seus singles  são disponibilizados com link para download gratuito e para venda no Itunes.

No dia 21 desse mês, Leoni lançou seu mais novo trabalho, o EP "Parcerias". Como o nome sugere, no projeto há a participação de grandes nomes da "velha-guarda" como Ivan Lins e de uma galera mais nova no cenário musical, como Móveis Coloniais de Acaju e Fernando Anitelli do grupo Teatro Mágico. Hoje (26), Leoni se apresenta no palco  principal do Festival de Inverno Bahia, em Vitória da Conquista, onde também se apresentam a dupla Jorge e Mateus e o grupo de Axé Music Ása de Águia. Essa já é a terceira apresentação do cantor na cidade. O Rebucetê conversou com Leoni sobre a atemporalidade de suas canções, sobre o debate do download livre e Ecad e sobre as antigas e novas parceiras. O resultado dessa conversa compartilhamos com você agora!

O Rebucetê: Em suas composições temas como amor e romance sempre foram presentes. Leoni cantou isso pra juventude anterior e essas músicas se fazem presentes para os jovens de hoje. Gostaríamos que você nos falasse um pouco sobre esse processo de composição atemporal:

Leoni: As pessoas são muito parecidas, né? Então quanto mais a gente fala da gente,mais a gente se comunica com as pessoas. Quando eu fazia essas canções, principalmente no começo do Kid Abelha, " Educação Sentimental",era realmente um aprendizado com o público, de relacionamento.Quando a gente colocava dificuldade nesses problemas de alguma forma a garotada se identificava com o que tava acontecendo. E quem não era garoto na época já tinha passado por isso. E é isso que acontece com as músicas que falam desse período, inclusive era um período em que o Renato Russo elegeu se concentrar. Ele falava que o Renato Manfredini pessoalmente iria envelhecer, mas o Renato Russo nunca passaria de 27 anos, porque o assunto da Legião Urbana era esse: O mundo que eu tô vendo não é um mundo que eu vivo;queria me adaptar nesse mundo mas eu não consigo;queria mudar o mundo mas não dá. Essa vontade de  mudar e dificuldade de se adaptar é um assunto muito interessante para diversos escritores e compositores. Então eu acho que é por isso que essas músicas continuam. Sempre tem gente passando por esse processo a vida inteira. Temos a ilusão que em determidado momento nossa vida vai tá resolvida, que vamos ter uma carreia bacana, estável, a familia também, e as coisas nunca são assim. Então de alguma forma  nós estamos sempre passando por isso.

OR: Em seus trabalhos você sempre trouxe grandes parcerias. No passado com Cazuza, Hebert Viana, agora com Moveís Colonias e Teatro Mágio, entre outros. Como se estabelece essa relação entre você e esse seus "parceiros"?

Leoni e Móveis no Festival da Juventude/ Foto: Ayume Oliveira
Leoni:Eu sou um cara inviel com os meus parceiros, sempre gostei disso. Eu continuo compondo com o pessoal da minha geração. Eu gosto muito de compor com Frejat, Paulinho Moska, mas tem inúmeros artistas novos que eu tenho vontade de copor  também. E agora eu tô lançando um EP só  de parceiras recentes. É o primeiro volume de Eps com parcerias. Nesse tem  Movéis Coloniais, Teatro Mágico, mas tem com Paulinho Moska e  tem Ivan Lins, da geração anterior.Que me deixa um bocado honrado, Lins é um artista que eu admirava quando era adolescente. Eu gosto dessa conversa, colaboração. E não quero parar com isso não, sempre encontro com um artista interessante quero mais do que ficar amigo, quero virar parceiro.

OR: Todos seus trabalhos recentes são agora disponibilidados para download livre e também à venda no Itunes. Qual a importancia de disponibilizar as duas possibilidades?

Leoni: Eu boto a venda porque pode ser que alguém queira comprar, não vou desperdiçar essa oportunidade. Mas, o mais importante pra mim é que as pessoas baixem minhas músicas e as divulguem, pois isso vai gerar mais shows, um contato maior com as pessoas, eu vou conseguir mostrar o meu trabalho.Já que é muito dificil entrar nas grandes rádios, nos grandes programas de tv sem você ter uma gravadora, pelo menos eu chego na casa das pessoas através do download. Quando alguma pessoa baixa uma música no meu site, gosta muito, envia para um amigo, que aí envia pra outro e a música vai circulando dessa forma. Mas de qualquer forma está lá a venda no Itunes. Alguns artistas nos Estado Unidos que dão e vendem músicas descobrem também que eles vendem mais quando dão mais. Tem um artista famoso nos EUA que ele colocava no site duas canções com o link para download gratuito e o link para comprar no Itunes, quando ele tirou o link gratuito pra fazer um teste, as vendas no Itunes caíram, como as pessoas não conheciam as músicas porque não tinham o download gratuito acabam não comprando.

OR: Falando agora um pouco sobre o Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorias - Ecad, que este ano passou por mais uma CPI. Você acha que hoje a classe artistica está mais organizada para lidar com a questão dos direitos autorais?

Leoni: Não, eu não acho. Mas já tem uma parte da classe que está mobilizada pra isso e que entende que o direito autoral como ele é hoje ele engessa a circulação de informação e de cultura. Ele foi criado em uma epoca que não havia digitalização, compartilhamento e aí eu fico meio revoltado de ver que os estudios de cinema e as gravadoras conseguiram inventar o termo pirataria digital. Pirataria é uma coisa muito violenta, né? Piratas são aqueles que entravam, saquevam, roubavam, matavam. Quem compartilha da música da gente é porque gosta, faz por carinho. Não existe pirataria digital, existe compartilhamento. Meu fã não é pirata. Quem gosta de mostrar minhas música pros amigos não está me roubando, pelo ao contrário,ele tá me ajudando, tá distribuindo  minha música de graça, eu tenho que ser grato, eu não tenho que condenar esse cara, ir pra justiça, proibi-lo de fazer isso. E os artistas estão começando a perceber que  tem que ser repensado o direito autoral, do jeito que tá é um mal pra todo mundo, é um mal pro artista e pra sociedade.

O Rebucetê Indica:

Conheça a parceria entre Leoni e Paulinho Moska, que está presente no EP Parcerias:

sábado, 25 de agosto de 2012

Se botar na vitrine nem vai valer 1,99


Por Mariana Kaoos

Foto: Divulgação
Nunca tive o hábito de acompanhar uma telenovela do início ao fim. Ao contrário de seriados ou até mesmo filmes, as novelas exigem uma dedicação cotidiana, já que a sua estrutura é de ser exibida diariamente. Geralmente sua proposta é sempre igual, com suas fórmulas velhas e desgastadas. Seu núcleo melodramático gira em torno de uma história de amor, uma mocinha e uma vilã, que sabota o relacionamento da mocinha protagonista durante toda a trama. Depois de uma média de sete meses de sofrimento, finalmente o bem vence o mal, a vilã paga por todas as suas sabotagens(ou é presa ou morre) e a mocinha fica com o amado. Os fins de novela também são muito parecidos: é sempre um dia claro de sol e céu azul, todo o elenco que interpreta os personagens “bonzinhos” estão reunidos num grande almoço ou festa, brindando com champanhe e sorrindo bastante. A palavra, geralmente escrita com letras brancas, “FIM” aparece, os atores batem palmas e a novela se finda para ser ocupada por outra em seu lugar. É um ciclo vicioso.

Apesar da narrativa ser a mesma, a forma como ela é contada se diferencia de maneira abrupta a depender do horário em que a novela é apresentada. Seguindo a linha da Rede Globo (maior emissora que produz e exporta telenovelas no país) às 17h30min é exibida a eterna e cansativa Malhação, voltada para um público jovem, em sua maioria pré adolescente. Malhação além de entreter, parece querer educar. Em cada temporada ela aborda temas diferentes que surgem na vida dos jovens como drogas, homossexualidade, problemas familiares, sexo, dentre vários outros.  Logo em seguida, às 18horas, o foco parece ser “destinado” ao público feminino. Geralmente as tramas são de época e, visivelmente, o romance impera em todas. Nos últimos dois anos, a Globo inovou nesse horário, exibindo a novela “Cordel Encantado” que, como nenhuma outra, conseguiu prender o telespectador através da magia e da fantasia, com histórias de reis e princesas e a atual Amor Eterno Amor, de cunho espírita. Apesar de seguir uma doutrina religiosa, ela é bem aceita pelos diversos segmentos de público.

Na trama das 19h30min as novelas seguem tendenciosas pelo gênero da comédia. O romance ainda está presente, assim como a vilã, a mocinha e o galã, mas as estórias são mais leves e distraem o público de maneira descontraída. Nesse horário e no que é exibido nele, sempre há um personagem atrapalhado ou malandro, que se mete em diversas enrascadas e nunca consegue se “endireitar” (até o fim da novela, claro). Por fim, existem as novelas exibidas as 21h00min. Essas procuram ser mais diferenciadas. Geralmente impróprias para menores de 14/16 anos, as “novelas das nove” sempre contém um toque de erotismo e/ou violência. Nesse horário o núcleo principal é de classe média rica, o primeiro capitulo geralmente é gravado em algum outro país e o cenário, ao longo dos episódios , são exuberantes. A maioria das novelas se passam no eixo Rio-São Paulo. Sim, existe a presença de classes mais baixas e imagens de favelas e lugares não tão exuberantes assim, mas esse lado da trama sempre vem carregado de estereótipos e muitas vezes são taxados como ruins, perversos e perigosos. Para esse horário são escalados autores conceituados para escrever as tramas como Manoel Carlos, com sua forte característica de buscar retratar de forma real o cotidiano das pessoas (ricas?) como em Laços de Família, História de Amor, Mulheres Apaixonadas e Viver a Vida, e Gilberto Braga que sempre abusa do suspense em suas estórias como em Paraíso Tropical, Celebridade e Insensato Coração.

“mas a telenovela é a educação sentimental da classe média nacional...”*

Se as telenovelas perduram até hoje com elevados pontos no IBOPE é porque, de fato, elas buscam uma aproximação com o público e este de alguma forma se identifica com elas. Nesse ano de 2012, a Rede Globo, vem exibindo em horários de pico duas novelas em que, visivelmente, é abordado o cotidiano e ascensão de classes antes não exploradas na tevê, as classes D e E. Com Avenida Brasil às 21 horas e Cheias de Charme às 19h30min, a Globo vem garantindo publico através de investimento em estórias que vão desde o lixão e o dia a dia de bairros mais populares do Rio de Janeiro à vida de empregadas domésticas. Enquanto Avenida Brasil alcança elevadíssimos índices de audiência, mas expõe-se de maneira tensa e violenta a cada capítulo, Cheias de Charme também é sucesso nacional tendo no seu enredo a descontração como princípio e se tornando popular com o telespectador por ter como foco algo que provavelmente mova a maioria dos seres humanos: o alcance, a conquista dos sonhos e da celebridade.

Foto: Divulgação
Cheias de Charme possui como trama principal a história de três empregadas domésticas batalhadoras que acabam se conhecendo na delegacia, formando um grupo (as Empreguetes) e fazendo sucesso. Maria do Rosário, Maria da Penha e Maria Aparecida, interpretadas por Leandra Leal, Thaís Araújo e Isabelle Drummond, respectivamente, tem suas especificidades, características muito peculiares a cada uma, mas compactuam do mesmo principio: realizar seus sonhos, resolverem suas vidas amorosas e ajudar a todos que amam. Outros personagens significativos surgem causando forte impacto na novela como a cantora de eletroforró Chayenne (interpretada pela maravilhosa Cláudia Abreu) que se apresenta como a principal vilã de Cheias de Charme, mas acabou se tornando a personagem mais engraçada e popular. Trazendo uma visão do artista superficial e “fake” aparece Fabian (quem assume o papel é o ator Ricardo Tozzi), galanteador, de olhos azuis e pele bronzeada artificialmente. É cantor na novela, cheio de fãs, as quais ele chama de “bonitas” e apaixonado por Rosário.

Com a mínima, mas ainda assim, ascensão econômica das classes D e E, não só as telenovelas como também diversos outros programas da Rede Globo parecem vir se apropriando e conquistando esse segmento de público. Antes, em novelas exibidas nos três horários, empregado doméstico geralmente era negro, pobre e estático na sua condição social. Quando tinham ambição de conquistar algo a mais e “subir” de vida, se aliavam a algum vilão da trama e em seguida, também se davam mal. Quando não, eram bons, apaixonados e servis a seus patrões. A participação dessa classe na dramaturgia brasileira findava-se ai. Agora, a emissora parece ter enxergado o novo filão para alcançar audiência e novos públicos e, a meu ver, daqui por diante, vai explora-lo até ele também se desgastar.

Apesar de inserida numa emissora que manipula, se apropria e cria os gostos populares, Cheias de Charme acerta na narrativa, tornando as noites semanais engraçadas, como também reflexivas. É a comédia pastelão que agrada a família como um todo e que talvez devolva para ela o que a própria Globo, ao longo dos anos, tirou: essa coragem de sair da letargia e da posição social em que se está inserido e lutar pelos próprios sonhos.
  
*frase de jorge mautner na sua música Vida Cotidiana.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

“Boa arte em qualquer lugar, ela pega você!” - O Rebucetê Entrevista: Sonia Rangel

Por Lucas Oliveira Dantas


Sonia Rangel/ Foto: Divulgação
O espetáculo Protocolo Lunar surge a partir da pesquisa científica e trabalho do Grupo Os Imaginários, sediado na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (Ufba), e orientado pela Prof. Doutora em Artes Cênicas pela Ufba Sonia Rangel.No auge de seus quase 40 anos em cena, Sonia – acompanhada de seus colegas de produção Enjolras Matos [pronuncia-se “Anjorrá”] (co-diretor) e Yarassarath Lyra (atriz) – nos concedeu uma entrevista que transbordava a tranquilidade de quem tem mais experiência de vida e, portanto, muito a ensinar.

Esta lógica, inclusive, é a coluna vertebral da trama do espetáculo que, depois de uma bem sucedida turnê por diversas cidades do Brasil, se encerra em Vitória da Conquista. Desenvolvida a partir do intercâmbio de experiências de todo encontro entre jovem e velho, “Protocolo Lunar” é fruto de um intenso trabalho de ensino, pesquisa e extensão, passando pelas maravilhas e instabilidades do trabalho acadêmico, mas culminando no contato com diversos públicos e reações – todas tendo a emoção pela curiosidade do mundo como ponto comum.

O Rebucetê: O espetáculo “Protocolo Lunar” é descrito como “poesia de imagens” e o trabalho do grupo “Os Imaginários” é fruto de uma pesquisa teórica que recai justamente no universo da poesia e da ciência; fale-nos um pouco sobre esse processo de criação, como tais pesquisas sobre sonho, imaginação e criação se traduzem na peça.

Sonia Rangel: Esse campo ligado a imaginário, sonho e poesia, é um campo estético – parte da filosofia da arte, a Estética – que está muito vinculado às minhas preocupações de professora, artista. Então, isso chega até a sala de aula e de lá esse processo criativo, [Protocolo Lunar] especificamente, ganhou uma qualidade e visibilidade dentro do contexto de Salvador, e fora, e estamos até hoje nisso. É uma costura de muitos olhares e muitas demandas.

Tem um vínculo também que é interessante porque um poema que está usado na dramaturgia, faz parte do último livro que publiquei, no final do ano de 2009, chamado “O Olho Desarmado – Objeto Poético e Trajeto Criativo”. Este espetáculo, os temas que a gente trata nele – essa relação poesia, ciência, olhar o céu e ter curiosidade sobre as coisas do mundo – deriva, um pouco, desse livro. Então, é um ciclo que, além de agregar muitos criadores, é essa conjugação de pessoas, lugares, desejos que faz com que o espetáculo [seja] uma arte que quando dá certo é uma beleza, mas não é fácil de dar certo.

OR: Você diz isso por conta dos meandros da pesquisa e os direcionamentos que podem se tomar?

SR: Nem é tanto pelos meandros da pesquisa, mas é por essa instabilidade de você não ter a certeza de que você vai ter o financiamento. [...] Você lida com essas circunstâncias contingenciais da vida das pessoas e da vida cultural, da cidade, do país. Então, às vezes uma série de fatores, magicamente – entre aspas porque tem muito trabalho por traz! –, se junta e dá certo alguma coisa. Então, esse “dar certo” é sempre um jogo no escuro, é sempre um passo sobre o abismo. Às vezes, você cai num lugar muito bonito como é esse momento que a gente tá atravessando agora: não é o primeiro espetáculo do grupo e, também, este [grupo] não é o mesmo, nesses anos de conjugação, estabilidade e instabilidade que estão conectadas nesse lugar que a gente atua.

Protocolo Luna/ Foto: Divulgação
OR: A história de “Protocolo Lunar” se desenvolve a partir do encontro entre uma menina – e sua sede de conhecimento – e uma velha – com sua bagagem de vida. Por que este encontro de gerações é o ponto inicial da trama?

SR: Talvez porque a senhora – mais jovem – que está aqui na sua frente [risos]… quando a gente vai chegando numa certa idade, vai ficando mais menino, vai se interessando por isso; talvez porque essa temática da criança é retomada, ela já fez parte dos meus escritos, da minha pintura e outros meios expressivos que trabalho, mas isso reapareceu forte no livro “O Olho Desarmado” […] e é um pouco também… a maior parte dos meninos que estão no grupo vem da licenciatura, então tem esse vínculo com a arte enquanto processo educativo. Quer dizer, o arquétipo mais comum de conhecimento é essa conversa entre quem está terminando a vida e começando a vida.

OR: Mesmo com uma linha de trama que abrange todos os públicos, a peça é destinada ao público infanto-juvenil? Por que ele, qual a importância de fomentar o teatro neste nicho específico?

SR: É engraçado porque a gente se viu trabalhando com esse público, porque a questão do teatro de animação e boneco tem esse vínculo muito próximo, mas o texto não faz concessão. Em nenhum momento a gente pensou “vamos fazer uma coisa dessa forma para que a criança perceba, entenda.” Tem coisas no texto, inclusive, que são adultas – que são palavras, sentimentos, relações para um adulto entender –, mas que para a criança, também, cria uma curiosidade, ela vai atrás disso. Quer dizer, o texto não subestima nem a inteligência, nem a sensibilidade da criança. Então, ele cai num lugar que é aberto. É o tema da infância e da velhice em qualquer idade e momento da vida.

OR: A senhora acha que é importante, as produções voltadas para o público infantil terem essa perspectiva de não fazer concessões?

SR: Não sei… essa é a opção da gente, a que a gente está afirmando. A gente não pensou “vamos pesquisar uma linguagem para tratar do universo da criança”. Eu acho que, às vezes, o adulto subestima muito a criança; o entendimento dela, a lógica, o que ela sente – criança não tem problema, não pensa, não sabe das coisas; participa pouco, às vezes, de um universo que ela já entende. Eu acho que há um lugar de subestimar.
Eu penso que a medida dessa relação com a criança deve ser também por temas da vida, do geral das coisas, o brincar com o conhecimento do mundo, o ter curiosidade pelo mundo… é algo que é a vida toda, não é só a criança. E ela, às vezes, é subestimada – no sentido da sua própria inteligência – em determinadas produções. Agora, existem formas e formas de se fazer – não estou dizendo que a minha é a melhor e nem é a única. De alguma forma, é o lugar que a gente acabou chegando como forma de trabalho.
Boa arte em qualquer lugar, ela pega você! Uma coisa boa de ouvir, de ver. Não precisa ser datado.

OR: A peça também é descrita como “uma aventura compartilhada entre palco e plateia” e a temporada passou por diversos lugares do Brasil. Como, ao longo da turnê, se desenvolve esta “aventura”; conte-nos histórias sobre esta relação.

Protocolo Lunar/ Foto: Divulgação
Yarassarath: É interessante que uma coisa comum é o encantamento que a plateia tem com a linguagem, com a atmosfera que o espetáculo promove. [...]  O interessante também é como chega, nas crianças, a curiosidade que a criança tem de saber como se move... a parte técnica. Teve uma pergunta fantástica de uma menina: “como foi que nasceu essa história?” Quer dizer, ela acompanhou [a trama]. E outro “que espécie de música é essa?”… quer dizer, é um espetáculo que provoca.

Enjolras: E teve um espetáculo que um menino, de uns 12 anos, chorou o espetáculo todo e, no final, ele pediu se podia abraçar, fazer foto com a atriz. Mas ele se emocionou com espetáculo; é um trabalho que encanta muito os adultos também.

OR: Qual o sentimentos de vocês, enquanto equipe, de estar em contato com essas reações do público?

Y: É maravilhoso! Você está terminando o espetáculo, fazendo os agradecimentos, e a pessoa ali na plateia louca pra falar com você, pulando de lá, querendo falar com você. É muito bom você ter essa recepção. Isso é muito interessante porque provoca!

SR: Muitas pessoas depois mandam mensagens, contando suas reações ao espetáculo, dizendo porque foi importante, ou se reconhecendo em circunstâncias, reativando a criança – dando vontade também de fazer poesia.

E: Também tem muito da nostalgia, quando o velho vê a história causa essa nostalgia.

OR: Por fim, na Bahia e no Brasil há uma evidente disparidade na circulação da produção artística; a música acaba sendo mais facilmente disseminada, não somente pela iniciativa privada, mas também pela participação do incentivo público nos eventos fomentados no estado. Como a senhora pensa, analisa, as políticas públicas para a cultura na Bahia, especialmente para a circulação teatral?

SR: Olha, eu não posso me queixar. Estou exatamente usufruindo de uma política pública. Esse grupo não teria a menor condição de fazer o que está fazendo se não fosse ao âmbito desse acordo. Todos no grupo temos a sobrevivência garantida por outras fontes; ninguém sobrevive do teatro, mas faz teatro – esse profissionalismo que é mais pela paixão do que ser remunerado por aquilo. E então, acho que há [necessidade] desse lugar de apoiar o artista que está em formação e egresso de escola, tentando se firmar.

Eu penso que na hora em que muitas coisas se multiplicam, como se ampliaram as extensões, atingindo lugares e regiões e grupos que antes não se atingia, quando você amplia, possivelmente, ocorre o percentual de que, em algum momento, aquilo falhe. Mas, no teatro – especialmente lá em Salvador – você vê um movimento dos grupos se organizando, se cooperativando, se firmando e multiplicando profissionalmente; como você vê também políticas públicas tentando atingir esses grupos. É impossível num país como o nosso, a cultura em qualquer ramo, sobreviver sem a presença do Estado.

***
Protocolo Lunar está em cartaz hoje [24] e amanhã [25] no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima – com duas sessões diárias: às 16h e depois às 20h. Ingressos podem ser comprados na Sede do Coletivo Suíça Bahiana, no Viela Sebo-Café. Hoje às 17h30 bate-papo com a autora, Sonia Rangel. Amanhã – das 9h às 13h – haverá oficina de teatro de animação. Ambos os eventos no Centro de Cultura.

O Rebucetê Entrevista: Agridoce

Por Ana Paula Marques


Foto: Divulgação
Inspirados na melancolia das canções de artistas como Nick DrakeJeff Buckley, Velvet Underground e Iron&Wine, Pitty e seu guitarrista Martin Mendonça resolveram se jogar numa nova experiência sonora. O projeto Agridoce, o qual surgiu inicialmente sem nenhuma pretensão, imediatamente ganhou uma repercurssão positiva. A dupla fechou com o selo Vigilante e partiu para a Serra da Cantareira, onde montaram um estúdio caseiro, batizado de "Agridocelândia", para gravar o primeiro material audiovisual. Entre indicações para um dos principais prêmios da música brasileira e shows por todo o país, a turnê do Agridoce chega em Vitória da Conquista nessa sexta-feira (24), trazendo um show diferente daquele que o público "pittymaníaco" está acostumado a ver. Antes de começar a se aquecer para a noite conquistense que promete ser uma das mais frias da estação, confira a entrevista que a dupla nos concedeu, para falar um pouco sobre o projeto e a expectativa para a apresentação de mais tarde, na abertura do Festival de Inverno Bahia 2012.

O Rebucetê - Vocês deram um "time" para se dedicarem ao projeto Agridoce, que é bastante diferente do som que vocês apresentaram ao longo desses últimos anos além da banda Pitty (Inkoma, Cascadura, Martin & Eduardo) e do que o público estava acostumado a ouvir. Para vocês, como está sendo essa experiência?

Martin – Tem sido um grande aprendizado e uma diversão. O show do Agridoce é uma experiência de palco muito distinta da que estávamos acostumados, tanto no formato quanto na sonoridade, e temos que estar mais focados pois existe um espaço muito maior para cada elemento, forçando-nos a sermos mais cuidadosos e comprometidos com os arranjos. O contexto todo é muito diferente e tenho achado massa poder circular por outros meios e pessoas.

Pitty - Pra mim tem tanto o contexto de aprendizado intenso que Martin mencionou quanto o de aventura. É uma descoberta e uma quebra de paradigmas pessoal, um reinvento. Tocar com o Agridoce foi se colocar como uma criança diante de algo que ainda não se sabe direito, e ir seguindo a intuição, e se permitir uma novidade. E isso tudo traz muita adrenalina e excitação diante do desafio.

OR - Vocês ficaram surpresos com a repercussão do Agridoce, que no início não possuía nenhum tipo de pretensão?

M - Sim. Na verdade cada novo desdobramento do projeto como fazer shows,  conceder entrevistas ou ser nomeado em premiações é uma surpresa. É interessante também ver como esse projeto bateu para pessoas e de formas bem diferentes das que estávamos acostumados com nossos trabalhos anteriores, e como isso tem gerado novas experiências e diálogos.
P - Fomos seguindo o fluxo, e cada coisa que acontecia nos impulsionava para um próximo passo. Primeiro as demos na internet, depois a decisão de gravar um disco, depois de levar isso pro palco... a despretensão foi boa nesse sentido, de intensificar a surpresa com a receptividade e com a amplitude que as coisas foram tomando.

OR - Vocês pensam em extender o projeto ou ele será apenas um registro dessa fase de descoberta musical?

M - A gente não sabe. O projeto vai durar o quanto durar e se depois dessa turnê pintar a vontade de continuar e gravar outro disco a gente grava. No Agridoce a gente segue a bússola da vontade e a única coisa não fazemos são planos a médio/longo prazo.

P - O que vale mesmo é que de qualquer forma é uma experiência que fica entranhada na alma, e tudo o que for feito depois disso estará irremediavelmente permeado por essa vivência.

OR - Qual a expectativa de apresentar o Agridoce no palco do Festival de Inverno, um pouco menos de quatro anos depois de trazer o show do álbum "Anacrônico"? O que o público conquistense já pode esperar do show?

Foto: Divulgação
M - Tocamos o disco na íntegra, canções inéditas e algumas versões. Estamos numa fase de bastante entrosamento no palco e super empolgados por participar de um festival tão plural.

P - Exato. E do lado de cá, esperamos que estejam abertos a essa nova experiência, a partilhar desse novo universo com a gente. É um show bastante sensorial e lúdico, diferente de um show de rock que é mais físico.  

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Rebucetê Entrevista: O Círculo

Por Rafael Flores

O Círculo no Conexão Vivo BH/ Foto: Andre Fossati

O Círculo é sinônimo de público fiel, daquele que lota os shows, se emociona e acompanha cada música. Com seis anos de trajetória, o grupo formado por Roy (vocal), Israel Jabar (teclado), Taciano Vasconcellos (guitarra), Daniel Ragoni (bateria) e Jr. Martins (baixo), se apresenta nesta quinta-feira no Viela-Sebo Café, em Vitória da Conquista. Trazem na bagagem algumas novidades, como o recente álbum "Estúdio Ao Vivo 5.0", em comemoração dos cinco anos da banda, completados no ano passado e o clipe de "Rosa Maria", lançado esta semana.


A banda acabou de fazer um show de grandes proporções no Teatro Vila Velha, em Salvador, local propulsor de inúmeros movimentos culturais baianos, desde a música às artes cênicas. Seguindo a linha "ao vivo" do último álbum gravado, O Círculo está preparando um novo material com o áudio da apresentação. Segundo os integrantes, a gravação conta "com a presença emocionante do público" e não haverá lançamento nem uma versão física do produto, a princípio só será disponibilizada para download nas redes sociais. Para os que ficaram curiosos, O Rebucetê recebeu com exclusividade as faixas "No Ar", "Deixar-se" e "Quando as mãos se beijam", tendo a última sido executada apenas uma vez. Para ter acesso às faixas é só acessar o link: O círculo Ao Vivo na Vila da Música

Para saber mais detalhes sobre o que banda tem feito e o que está prestes a fazer, confira a breve entrevista que o guitarrista Taciano Vasconcelos nos concedeu:

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Canto somente o que não pode mais se calar - O Rebucetê Entrevista: Ramanaia

Por Mariana Kaoos/

Ramanaia/ Foto: Luiza Audaz
Logo quando vim morar aqui na cidade de Vitória da Conquista, em 2003, sempre observava pelas ruas inúmeras pessoas vestidas com uma blusa preta com a foto de Janis Joplin estampada e logo acima, em vermelho, os escritos “Agosto de Rock”*. Essas pessoas, em sua maioria, tinham outros traços em comum. Usavam tênis all star, fumavam cigarro, eram cabeludos, transitavam por lugares como a “praça da normal” **, o bar Paraki, a “rinha de galo” onde se jogava sinuca e o bar Encontro que na época vendia uma cachaça chamada Cearense a R$1,00. Essas pessoas, muitas vezes, tinham em comum o mesmo gosto musical e compunham o então chamado cenário alternativo da cidade.

Festivais de música alternativa (agregando o rock, reggae, música eletrônica) como o Fest Rock, Agosto de Rock e Rock Vertente aconteciam com certa frequência na cidade. Aos domingos, também era comum encontrar milhares de pessoas reunidas na porta da concha acústica do Centro de Cultura esperando os seguranças abrirem as grades para os shows que sempre aconteciam por lá. Bandas como Sorrow's Embrace, Paralips, Ardefeto, Ganga Zumba, Adarrum, Seres do Reggae, 0800, eram grandes conhecidas na cidade. Explosões de produções artísticas eram constante também em outros segmentos como o teatro. Conquista fervia. A cultura local era consumida dentro da própria cidade e o cenário alternativo, entre trancos e barrancos, parecia sobreviver de si mesmo e do seu público.

Os anos se passaram, os espaços que sediavam esses shows foram fechando e, os ainda existentes se tornando cada vez mais precários. Os músicos que tocavam nas bandas locais precisaram procurar outras formas de sobrevivência, trabalhando fora e tendo menos tempo para o som. Várias bandas acabaram, festivais alternativos cessaram e por certo tempo, o cenário pareceu estar morto.

Em janeiro de 2010, surgiu então o Coletivo Suíça Baiana, atrelado a rede Fora do Eixo, que existe em todo o Brasil. Com o intuito de oferecer opções culturais dentro da cidade, o Suíça vem promovendo desde então alguns festivais, bem como noites fora do eixo, que acontecem nas quintas e sextas feiras, no Viela Sebo Café. Nessa ultima sexta, 17 de agosto, foi a vez das bandas Scambo e Ramanaia se apresentarem.

Sobrevivendo ao longo de seis anos em meio a todas as dificuldades que Conquista vem oferecendo, a banda Ramanaia, composta pelos músicos mais conhecidos como Marcelão, Moura Brown, Melch, Uiá e Felipão, oferece ao publico um som autoral como tambem novas versões de artistas como Bob Marley, Luiz Melodia e S.O.J.A. Em entrevista para O Rebucetê, os meninos falaram um pouco das dificuldades de se manterem sobrevivendo artisticamente e de politicas publicas voltadas para a cultura. Confiram.

Mariana Kaoos: Sabe-se que Vitória da Conquista sempre teve um cenário alternativo muito intenso mas que isso vem morrendo de alguns anos para cá. Queria que vocês traçassem um panorama desse cenário, já que estão inseridos nele há mais ou menos dez anos.

Ramanaia/ Foto: Luiza Audaz
Felipe: Aqui em Vitória da Conquista temos “o cenário alternativo” que começou no final da década de 90 com o “Agosto de Rock*”. Naquela época as bandas eram muitas e o público acompanhava todos os shows. De repente o rock subiu, chegou no estopim e deu uma defasada. Foi quando iniciou-se o período do xote-reggae. As mesmas bandas de rock começaram a formar outras bandas. Em seguida veio apenas o reggae com as bandas Impisa Roots, Ganga Zumba, Malanas, Adarrum, Seres do Reggae, etc. Tivemos umas seis bandas e todas acabaram. Logo depois veio a cena rave ainda do mesmo grupo. Quem curtiu o rock, o xote reggae, o  reggae, foi pra curtir a rave. A policia federal veio, deu uma pegada por conta das drogas. Então acabou-se a rave e ficou um buraco por um tempo. Por fim, veio o ragga, que é o que vem tomando as noites conquistenses. Os meninos do Complexo Ragga e todos os outros mc’s tem feito um trabalho muito bom e acho que o Ramanaia entra ai também, porque na verdade nós não morremos. Das bandas antigas, as únicas que permaneceram ao longo desse tempo todo foi a Cinco Contra Um, Cama de Jornal e a gente, só que com outro nome. A cena alternativa na cidade hoje está fraca, precária. Você toca no viela porque é o único lugar que temos no momento, mas acabou. O cenário alternativo de Conquista é tão fraco que se resume ao Fora do Eixo, que nem é mais tão alternativo assim. Eles viraram completamente comerciais e pouco limitados. A cena alternativa de conquista acabou. Só o som continua alternativo e olhe lá.

Marcelão: Existe a questão de apoio e tudo mais. O termo “alternativo” sugere que é o que anda com as próprias pernas, é a cena que não tem apoio, que está paralela a cultura de massa, dos eventos de massa com apoio financeiro e etc. Há dois ou três anos, existiam espaços que eram cedidos para a cultura alternativa. Hoje, todos esses espaços fecharam.

Mariana Kaoos: Como a Ramanaia faz pra sobreviver aqui e difundir a cultura do reggae na cidade?

Marcelão: Acredito que em nós existe muito presente a questão da amizade. Convivemos há anos, isso faz com que a gente sobreviva. Investimos na banda, mesmo que não seja grande, há um investimento que tiramos do nosso bolso. A gente sobrevive por conta do gostar, do querer, da nossa vontade. E a resposta do público também contribui, a gente vê que o pessoal gosta e isso nos estimula a seguir em frente mesmo com todas essas dificuldades de espaço, investimento e etc.

Felipão: Quando você pergunta como a Ramanaia faz para sobreviver, a resposta é básica e simples: não sobrevive. A gente não sobrevive de musica. A Ramanaia está tocando pela primeira vez esse ano em Conquista, dia 17 de agosto, com Scambo. Uma banda que era para estar tocando aqui uma vez ao mês pelo menos. É questão de espaço mesmo. A Ramanaia poderia tocar no viela, mas olha a concorrência para tocar aqui. Todas as bandas de Conquista tem que tocar aqui porque não tem mais lugar. Não é mais uma opção tocar aqui, é a única. A gente sempre vai tocar porque gostamos. Está mais do que claro em nossa mente que pode passar 30 anos e estaremos tocando. Se um dia a banda der certo e entrar mesmo no mercado, ótimo! Largamos tudo pra sobreviver disso, se não, fico feliz também por aqui.

Mariana Kaoos: Esse ano é um ano eleitoral e tempo de reflexões a respeito das políticas da cidade. Vocês enquanto artistas acreditam que o que é necessário para se implantar dentro das políticas publicas para cultura?

Uiá: Eu acho que a gente precisa primeiro descentralizar. Há muito tempo não existe interior, a questão da hierarquia urbana tem que cair por terra. Primeiramente descentralizar as politicas públicas. A Funceb, que são os fomentadores da cultura na Bahia, centraliza muito a cultura a partir de Salvador. Isso é questão histórica, secular. Desde as capitanias da Bahia, tudo o que está em torno dela, o que é interior, depende dela. Desde o sec XVIII e reflete até hoje. A maioria do fomento vai pra capital, isso é a primeira coisa que precisa se quebrar. É preciso fazer o poder público entender que o interior também produz cultura e depende de nós cobrar, ocupar espaços. Politicamente não existem espaços vazios, existem espaços que devem ser ocupados. Aqui em Vitória da Conquista já tem uma iniciativa boa que é o Suíça Bahiana, o Fora do Eixo. Os meninos estavam falando que é uma questão capitalista, mas pra além disso é um núcleo de ocupação de espaço, de ver os projetos, pleitear e acabou. Não importa se esses projetos são feitos num ambiente que da pra 100, 300 pessoas, se é cobrado 20 reais pra entrar. Não é a historia que eu queria ver, mas há dez anos a gente não tinha essa abertura. Ninguém pensava em pleitear um projeto na Funceb, em pedir financiamento da Conexão Vivo ou qualquer empresa que seja. O que importa é a iniciativa, é uma coisa que pra mim é básica, fundamental e tem mudado aos pouquinhos. A gente também tem que conseguir dar continuidade a isso, sobreviver. A nossa conversa foi em torno da sobrevivência e não da existência. Existir a gente vai existir sempre, é uma questão natural das coisas, mas a gente tem que conseguir permanecer.  Estávamos há mais de seis meses sem ensaiar e eu vim e Felipe também por uma questão de sobrevivência no espaço. É isso que temos que pensar, temos essa possibilidade, é viável.

Mariana Kaoos: Além de músicos vocês são artistas que influenciam na cultura de Vitória da  Conquista. O que vocês, enquanto tais, pretendem fazer para que o cenário alternativo sobreviva na cidade?

Felipão: É complicado falar assim porque é a coisa da formiguinha, de cada um fazer sua parte. É pouco, mas é isso por enquanto, não desaparecer, continuar existindo, tocando, fazer o que for possível e expandir. A gente tinha um objetivo grande de sair da Bahia esse ano, tentar outros mercados pra ver ate que ponto a gente consegue ir. E temos a convicção plena de que quando uma banda daqui alavancar, todas as outras também sobem. Achei que isso fosse acontecer com Antonio Brother. Não é querer pongar em ninguém, é subir todo mundo junto. O olhar do povo muda, do público, do empresário, dos investidores.

Marcelão: Não adianta fazer trabalho individual. Tem que ser partes integradas, elas que vão formar um todo muito maior. Tem tantas potencialidades aqui em Conquista, tanto no Blues, como no Reggae, Rock, Ragga, Chorinho. Eu vejo uma riqueza enorme aqui dentro, mas falta essas partes se integrarem pra subir, junto a gente vai muito mais LONGE. O pessoal do Blues faz um ótimo trabalho, mas essa junção é precisa. Faltam projetos que fortaleçam isso. A qualidade é demais. Tem o Distintivo Blues também com um som muito bom, muita gente aqui com trabalhos autorais incríveis. Tem que expandir, não ser só Conquista, mas a região sudoeste como um todo. Eu vejo o Fora do Eixo como positivo, importante, mas não era SÓ isso que eu queria ver, mas eu vejo sim com bons olhos, ate porque é melhor acontecer alguma coisa do que não acontecer nada. Mas eles ainda limitam essa busca, dá pra ampliar. Essa coisa, integrar, isso é importante. Por exemplo, a gente poderia produzir um belo DVD das riquezas musicais de conquista com seus estilos diferenciados. Mas não existe isso. Um pensa, outro com certeza está pensando também, mas falta chegar e fazer um projeto e correr atrás. Os empresários tem grana para investir, falta realmente ideias que se unam e não sejam projetos só para valorizar determinado grupo, mas a cultura como um todo.

*Festival de banda alternativa que teve três edições na cidade.
**Praça Guadalajara

Um Tributo ao Homem


Por Maria Eduarda Carvalho

Capa do tributo
Os jovenzinhos que provocaram alvoroço por volta do final da década de 60 são agora distintos senhores. Sir Mick Jagger, o irresistível Chico Buarque, Jimi Hendrix se estivesse vivo... Caetano Veloso, um dos símbolos dessa geração forever young e personificação do Tropicalismo, obviamente não fugiu a regra e acabou de completar 70 anos. Dono de um repertório invejável pela sagacidade das letras e a riqueza de sons, o leonino não deixou um segundo sequer de encaracolar as mentes de nós, pobres mortais.
Aquela juventude... Foto: Divulgação.
Quase meio século de relação intensa com a música rendeu a Caetano um presente de aniversário mais que especial, para ele e, é claro, os fãs. “A Tribute to Caetano Veloso”, álbum lançado no dia 6 de Agosto, reuniu artistas da nova geração da MPB e também nomes internacionais numa homenagem que elevou o poeta ao nível de Tom Jobim, quando observada sua imagem para fora do país. As canções em diferentes línguas interpretadas por artistas do mundo todo são como um rio percorrendo as veias abertas desse latino. Em sua maioria, as composições figuram os álbuns da década de 70 e 80, com um pouco de Qualquer Coisa, Uns, Circuladô e o também aniversariante Transa que completa, em 2012, 40 anos de sua existência intrigante e magnífica.

O time escolhido para a homenagem foi impecável, nomes como “Da Maior Importância” com Tulipa Ruiz, que interpreta a canção com a graça de sempre, e Marcelo Camelo, um dos compositores mais importantes da recente história da nova MPB, que cantou “De Manhã” (primeira música composta por Caetano) com toda a fragilidade que, nesse caso, é concedida às primogênitas. Avançando um pouco nos anos e na geração dos intérpretes, Sérgio Dias, eterno Mutante, tomou para si “London London”, que algum tempo atrás já teve uma versão figurada no trabalho da cantora Cibelle.
O músico Devendra Banhart. Foto: Arquivo pessoal do cantor.
Na época, Cibelle convidou Devendra Banhart para a missão e, agora, o artista na companhia do brasileiro Rodrigo Amarante dá o ar da sua graça cantando “Quem me dera”, numa versão intimista capaz de arrepiar até o último fio repetindo ao final da canção trechos de outras músicas do Pena de Pavão de Krishna. Mas essas não foram as únicas relações do músico folk com o mestre Caetano; além da versão de “Nu com a minha música”, feita ainda ao lado de Amarante somado à presença de Marisa Monte - para outra coletânea internacional -, Devendra também cantou com o próprio Caetano em Nova York no final de 2010, na ocasião os músicos foram acompanhados do cantor Beck que, na presente coletânea, canta “Michelangelo Antonioni”.

Jorge Drexler e Quinho cantando, respectivamente, “Fora da Ordem” e “Qualquer coisa”, se apropriaram muito mais do que somente das canções. Alguma coisa nas versões interpretadas denunciaram tamanha absorção da verdade dessas músicas que marcou uma espécie de assinatura de escritura de posse, como se lhes fosse passado, com registro em cartório, a propriedade das canções. A fidelidade harmônica à original, da versão da cantora Céu para “Eclipse Oculto”, já havia se mostrado nas canções anteriores. Mas dessa vez, infelizmente, a empreitada não foi tão bem sucedida. Logo a cantora que sempre se destaca em participações especiais, se revelando uma ótima intérprete, não obteve êxito cantando uma versão com arranjos quase idênticos ao original, despertando pouco interesse diante de tantas novidades.

As canções seguem e a emoção vai alternando conforme o player viaja pelas 16 faixas; todas muito delicadas e bem produzidas, algumas mais à vontade quase se passando por autorais. Outras ainda mantendo a distância simbólica que sugere o termo "tributo" - e é claro que é o caso das mornas, as que não vão grudar na cabeça nem disputar com a original o título de versão definitiva. Mas por sorte são também a minoria dos casos.

Se você ainda não ouviu o álbum, não se preocupe. O Rebucetê, esse grandioso blog com amor no coração te dá um link esperto pra baixar e conferir as delícias do resultado de abdução feita por uma certa Caetanave.

Clique e baixe agora mesmo: A Tribute to Caetano Veloso.zip

domingo, 19 de agosto de 2012

Depois da Gritaria, da Noite, da Casa Cheia - O Rebucetê Entrevista: Pedro Pondé

Por Luiza Audaz

Pedro Pondé/ Foto: Luiza Audaz
As coberturas das Noites Fora do Eixo em Vitória da Conquista tem sido um verdadeiro espetáculo. Foram diversas entrevistas e vídeos com bandas de diferentes lugares do país que têm presenteado a casa com uma efusão de diversidade musical e reunido um público de diferentes cenas, em convite a dar uma saída pela noite, rever os amigos, interagir com gente nova e curtir o melhor do som.

A noite da última sexta (17) não seria diferente, o Viela Sebo Café contava com um público ansioso pra curtir o reggae da Ramanaia e rever a banda Scambo, agora de volta, que chegava direto do show de lançamento do novo álbum FLARE, acontecido na noite anterior no Teatro Vila Velha em Salvador. Cheios de gás e energia, os garotos chegaram prontos a compartilhar e celebrar com o público conquistense.

A banda possui em sua formação atual Tosto (guitarra), Graco (guitarra e voz), Ricardo (bateria), conta com a participação do baixista Tiago Ribeiro e com o impulso e energia do produtor Fernando Maia que reuniu os músicos e também engatou o processo de retomada. Assim, a Scambo, depois de quase 10 anos sem se apresentar nos palcos da cidade, subiu ao palco do Viela iniciando o show com músicas conhecidas do público, com um repertório que contemplava grande parte dos CDs da trajetória, surpreendendo  e agradando o público e a quem se enganou ao pensar que o FLARE seria o maior contemplado.

Dessa vez minha missão estava para traduzir as coberturas em audiovisual para um treino com as palavras, trabalhar com imagens, recortando as expressões, sons e cores de muitas dessas noites se converteu numa troca de palavras com o vocalista da banda Scambo, Pedro Pondé, que rendeu a seguinte entrevista. Falamos, dentre outras coisas, sobre o lançamento do novo álbum que vem com uma pegada acústica e sobre a influência do teatro na carreira do cantor, refletida no trabalho com a música e vista em suas interpretações efusivas. 

sábado, 18 de agosto de 2012

#34 Rebucetv - O Rebucetê Entrevista: Banda Maldita

A pedido do nosso leitor Adson Silva, reencontramos a banda carioca Maldita no bastidores do Festival Rock Cordel para uma breve conversa. As novidades na banda, tais como o novo vocalista e a inserção do funk carioca junto à receptividade do público de Vitória da Conquista foram os temas citados. Confiram: 

Produção: Ana Paula Marques e Thaís Pimenta
Imagens/Edição: Rafael Flores
Música: Mama Eu - Maldita



sexta-feira, 17 de agosto de 2012

#33 Rebucetv - Conexão Ragga-Dubstep

Pode-se dizer que o Ragga é a cena da moda em Vitória da Conquista. Desde o Festival da Juventude (maio), as festas do gênero - realizadas pela Pedrada Produções - têm lotado o Viela Sebo Café com um público cada vez mais variado e abrangente, além da galera da cena alternativa de antes.

Durante nossa viagem ao Enecom-DF, tivemos bons contatos com a cena do Ragga brasiliense. E em Brasília nos deparamos com outra cena já consolidada que passa a dar os primeiros passos em Vitória da Conquista e região: o Dubstep.

Se liguem um pouco mais sobre os dois gêneros, filhos do ritmo jamaicano do Reggae, no Rebucetv #33.

Imagens: Luiza Audaz, Vinicius Gil, Guilherme Nogueira
Edição: Luiza Audaz

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

“Contra infames com dentes a rir e fazer o matuto chorar” – O Rebucetê entrevista: Banda Mucambo

Por Thaís Pimenta

Foto: Divulgação
Encontrar local para ensaiar, para eles sempre foi uma “pedra no sapato”. Um bando de estudantes sem dinheiro, “sem moral”, mas com muita vontade de tocar.  Um dia o ensaio era na casa de um, outro dia na casa de outro, testando a fusão de ritmos diferentes e a paciência dos vizinhos. Foi assim que se deram os primeiros passos da banda Mucambo, formada por Beto (vocal), Junior Figueiredo (guitarra), Maurício Chaves (contra-baixo), Binho (bateria), Márcio (percussão), Lucas Ribas (sopro-madeira). Da cidade de Macaúbas no interior da Bahia e juntos desde 2005, a banda traz um rock pesado, que lembra Nação Zumbi, mas se torna original e singular ao agregar elementos do Baião e Maracatu, com a Alfaia, a Caixa e o Agogô, e ainda elementos dos reisados, com a introdução da flauta, gaita e pífano.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Rebucetê Entrevista: Rogério Big Bross

Por Ana Paula Marques

Big Bross/ Foto: Arquivo Pessoal

Sábado (11/08), a programação do Rock Cordel se estendeu um pouco além dos shows no palco da Praça Barão do Rio Branco. Um bate-papo descontraído reuniu, no Viela Sebo-Café, músicos, jornalistas e pessoas interessadas em conhecer um pouco mais sobre o ramo da distribuição independente. A conversa foi mediada por Rogério Big Bross, soteropolitano, produtor do Festival Big Bands, DJ por diversão e responsável pelo selo Big Bross Records.

Big, como é conhecido pelos mais íntimos, trabalha há 20 anos no cenário alternativo de Salvador. O produtor, que também já foi músico, foi responsável pelos lançamentos de bandas como Retrofoguetes, Pastel de Miolos, Ronei Jorge, The Honkers, Lou e Tritor. Com sua banquinha e sua mochila, levou sons alternativos baianos para os principais festivais do Brasil, como Porão do Rock (Brasília) e Abril Pro Rock (Recife). Das permutas musicais, veio a sacada de transformar a distribuidora no selo Big Bross Records que é, ainda hoje, totalmente informal. Atualmente, Big também integra o Coletivo Quina Cultural, vinculado ao Circuito Fora do Eixo, ao lado da produtora Cássia Cardoso. Através do Circuito, ele mantém seus discos circulando por vários estados brasileiros.

domingo, 12 de agosto de 2012

Festival Rock Cordel se despede de Vitória da Conquista

Por Murillo Nonato e Rafael Flores

Público da terceira noite de Rock Cordel/ Foto: Rafael Flores
Ontem (12/08), a Praça Barão do Rio Branco de Vitória da Conquista acolheu a terceira e última noite do Festival Rock Cordel, projeto realizado pelo Banco do Nordeste em parceria com o Circuito Fora do Eixo. Nas noites anteriores, subiram ao palco novas e velhas bandas da cena local como Na Terra do Oz, Ladrões de Vinil, Cama de Jornal e Os Barcos. Além dessas atrações, recebemos também alguns visitantes, Warcursed (PB), Maldita (RJ), Pietros (RJ), entre outras.

A abertura da noite de despedida do Festival ficou por conta da banda jequieense Neubera Kundera. No momento de sua apresentação o público reunido na praça ainda era escasso e tímido, seus maiores entusiastas eram um senhor idoso, aparentemente bêbado, hippie, que dançava ao mesmo tempo em que tentava vender a sua arte e uma criança sapeca de aproximadamente cinco anos que pulava de um lado ao outro. Apesar disso os rapazes não deixaram de mostrar sua bagagem com muita energia e trouxeram no seu repertório músicas autorais, a exemplo de “Draga” e “Gnomo”, que segundo os próprios, evidencia algumas de suas referências musicais, como Gilberto Gil e o ritmo afro reggae. Mostrando a pluralidade do grupo, eles finalizaram o show com um medley da canção de trabalho “Iceberg” e “Alcapone” do Raul Seixas, dizendo: “Muita gente diz que ‘Iceberg’ se parece com Raul. É melhor parecer com o Raul que com o Restart. Foda-se”.

sábado, 11 de agosto de 2012

Segundo dia de Rock Cordel apresenta novidades da cena independente

Por Rafael Flores

Maldita/ Foto: Rafael Flores
Vitória da Conquista recebeu ontem cerca de 4 mil pessoas na Praça Barão do Rio Branco, durante o segundo dia do Festival Rock Cordel.
Sete bandas se apresentaram, dentre elas a local Os Barcos e as cariocas Pietros e Maldita.

A banda de Itabuna Mendigo Blues abriu cedo a noite de sexta. Influenciados também por Charles Bukowski, Paulo Leminski e John Fante, o som da banda mistura o rock setentista e o blues norte-americano com a música regional.  Com a praça já preenchida por um público diverso, a segunda a entrar no palco foi a conquistense Impiza Roots, que esquentou a galera com seu reggae, incorporando um tom social nas canções.

Feito um Deus, feito um Diabo, veio dizendo que sim

por Mariana Kaoos

Foto: Anabel Mascarenhas
Em 2001, mais precisamente no dia 7 de agosto, Caetano Veloso se encontrava na concha acústica do Teatro Castro Alves, se apresentando para um vasto público e gravando o DVD “Noites do Norte - Ao Vivo”. Era seu aniversário. Dona Canô (sua mãe), seus filhos e sua então mulher, Paula Lavigne, fizeram-lhe uma surpresa, levando um bolo ao palco e cantando parabéns junto com a platéia. No fim do show, entre um copo d’água e a volta para o “bis” ele recebeu a notícia de que o escritor baiano e amigo íntimo, Jorge Amado, tinha acabado de falecer. Muito emocionado Caetano voltou, deu o aviso para as pessoas e afirmou para todos a sua tristeza, como também a importância de Jorge para ele e para o mundo. “Hoje a gente tem que celebrar é a vida de Jorge Amado”. Afirmou. Em seguida, entoou os versos de Milagres do Povo, recebendo muitos aplausos e fazendo todos cantarem juntos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Bandas locais marcam território no primeiro dia de Rock Cordel

Por Rafael Flores

Público durante o show da Ladrões de Vinil/ Foto: Rafael Flores
Começou ontem na praça Barão do Rio Branco em Vitória da Conquista, o Festival Rock Cordel, realizado pelo Banco do Nordeste em parceria com o Suíça Bahiana Coletivo/Circuito Fora do Eixo. Conquista é uma das poucas cidades do interior do Nordeste, e única cidade baiana, a receber o festival, cuja primeira edição ocorreu em Fortaleza em 2007. Agora no segundo semestre, ele ainda ocorre em Teresina (PI), Recife (PE) e Maceió (AL), fazendo parte das ações de comemoração dos 60 anos do Banco do Nordeste. 

Segundo Gilmar Dantas, produtor cultural do Coletivo Suíça Bahiana, Vitória da Conquista foi escolhida para sediar o festival, por conta de sua localização estratégica e de sua história musical recente de produções autorais que já possui um público formado pra esse tipo de evento. Ainda segundo a produção a curadoria do evento priorizou a escolha das bandas locais, mas sem esquecer que as trocas feitas com os artistas de outras regiões do país também são importantes para o avanço da cena.

Nessa terra a dor é grande, a ambição pequena

Por Mariana Kaoos

Foto: Mayana Morbeck
Em Ilhéus as coisas parecem não funcionar. De fato, a impressão que o Festival Amar Amado vem causando é de que o descaso da própria cidade, bem como da produção do evento, superam qualquer tentativa de fomentar a cultura popular local e de exaltar o centenário do escritor grapiúna.

A programação do Festival se divide entre dois locais principais: o centro histórico, que compreende a Casa Jorge Amado, a Casa dos Artistas e o Teatro Municipal e o outro ponto, Centro de Convenções, que fica mais afastado, localizado precisamente no fim da Avenida Soares Lopes (orla e principal avenida da cidade). Sim, há espaços interessantes que começam no período matutino e se estendem até as 22h, quando ocorre o encerramento com shows de bandas da terra e uma atração principal a nível nacional, mas, pela distância dos locais escolhidos para sediar o evento, torna-se difícil poder acompanhar os atrativos que acontecem um seguido do outro. O Cabaré Literário (parte da programação de cunho voltado para a literatura), tampouco foi divulgado nas escolas e ambientes acadêmicos. Ele ficou inserido no Centro de Convenções, o que acabou atraindo pouquíssimo público para a grandiosidade das mesas, debates e rodas de conversa propostos. Por que não tê-lo colocado no Bataclan, localizado na 2 de julho e mais próximo ao centro histórico?