terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ana Sardinha

         É engraçado ver Ana Sardinha todas as manhãs, descendo a rua toda atrapalhada, com medo do atraso e olhando freneticamente o relógio, que funciona num tic-tac constante como que dizendo com toda a calma do mundo: “Ô Aninha, de novo na correria?!”.
            Enquanto isso Ana corre, tropeça, machuca o joelho, se recompõe e continua a correr. Sina diária da pobre Ana.
            Enfim, ao chegar ao final da rua, a coitada se prepara para a próxima fase na plataforma. Ela balança os braços, acena e grita. O ônibus azul chega soltando fumaça e recolhe Ana já toda agoniada. Assim lá vai Ana Sardinha pra sua aula de inglês.
           E ainda me perguntam o porquê de “Ana Sardinha”. Ora! Dentro de uma grande lata azul, toda apertada e quase cozida pelo calor da transpiração de tantos corpos, que outro apelido Ana poderia ter?

Por Mário Ribeiro

Transporte Público: Mudanças à vista?


        O aumento da tarifa do transporte coletivo , de R$ 1,90 para R$ 2,10, causou uma enorme agitação na comunidade de Vitória da Conquista, principalmente entre o Movimento Estudantil Secundarista. Depois de quase dois meses a população questiona o que mudou no funcionamento e principalmente na qualidade do sistema de transporte conquistense. As insatisfações são comuns dentre todos os usuários que abordamos. Dentre elas, as mais constantes são a quebra diária dos ônibus e a grande demanda de passageiros em horários de pico.
        Na quarta-feira, 17 de agosto de 2011, aconteceu uma reunião ordinária do Conselho Municipal de Transportes. O conselho é formado por representantes do poder público, do orçamento participativo, da associação unificada de moradores, das empresas privadas de transporte coletivo e do movimento secundarista, além do Secretário Municipal de Transporte, Trânsito e Infraestrutura Urbana, Luís Alberto Sellman. Foram discutidas uma série de mudanças que, de acordo com o secretário, irão garantir um importante salto na qualidade do transporte público da cidade.
        A principal pauta da reunião foi o edital do processo de licitação para a reorganização do sistema de transporte coletivo. O edital pontua o conhecimento prévio da área da cidade, parâmetros e índices técnicos (número de deficientes físicos, idosos, etc.) e um projeto de mobilidade urbana, qualificando o transporte de acordo com a necessidade da população. O edital também prevê a renovação e ampliação da frota de ônibus e a implantação do sistema de bilhete único. Esse modelo que se pretende implantar em Vitória da Conquista existe em apenas quatro cidades em todo Brasil. Ele permite ao passageiro pagar por apenas uma passagem, mesmo fazendo várias integrações de ônibus. Em todas essas cidades, porém, os governos locais concedem subsídios às empresas com o objetivo de conter a elevação do custo da tarifa.
        Em acordo proposto entre a Prefeitura e as atuais empresas de transporte coletivo, ainda antes da licitação, seriam adquiridos 15 ônibus para facilitar no transporte de passageiros em determinadas rotas. Até agora só foram colocados oito desses veículos em circulação, sendo que houve um pedido de prorrogação do prazo por parte de uma das empresas, a qual garantiu mais quatro ônibus semi-novos dentro de 30 dias. Outra proposta discutida pelo conselho seria a de colocar micro ônibus nas rotas mais curtas, para atender a demanda de passageiros.
        A “Revolta do Busú, como é intitulada a série de manifestações estudantis que ocorreram no mês de julho desse ano contra o aumento da passagem, foi de importância histórica para o Movimento, garante Saulo Moreno Rocha, representante do Movimento Estudantil Secundarista no Conselho. Dentre as conquistas da “revolta”, segundo o estudante, estão o direito à meia tarifa para estudantes durante as férias, garantia da licitação e a implantação de dois novos guichês de recarga. A última ainda está em processo de implantação e o prazo máximo é de um mês.

Por Ana Paula Marques e Lucas Dantas

Para sempre underground?

        Quando vimos a grade de programação da tenda alternativa do Festival de Inverno Bahia desse ano, tomamos um susto. Só tinha DJ! Ou seja, o espaço que antes acolhia a música alternativa e a música eletrônica foi homogeneizado. O palco alternativo não existe mais. Para entender o porquê e no que implica isso, O Rebucetê procurou a produção do evento e alguns músicos da cena alternativa local.
         Segundo Luciana Sobreira, diretora artística do evento, o palco principal exigiu um maior investimento da organização este ano, surgindo assim a necessidade de se fazer algumas mudanças. A cena pop/rock conquistense foi a escolhida para ficar de fora da edição 2011 do evento. A diretora artística argumenta ainda que a música eletrônica continua sendo explorada pelo FIB por ser um segmento que está em ascensão nacional e internacional e que essa está sendo uma fase de experimentação do palco alternativo, podendo então voltar a ceder espaço para bandas de Vitória da Conquista e região no ano que vem, já que “o Festival procura valorizar a cultura local”.
          Por outro lado tem uma galera que não concorda com o que foi argumentado pela diretora artística do Festival. “Na verdade, o Festival está mostrando cada vez, cada ano mais, o seu caráter de evento "Gringo". Ou seja, excluindo a cultura local do seu espaço. Usa o nome da Cidade, o clima (frio), a economia, a beleza do povo, mas ignora a sua cultura”, questiona Marx Eduardo, vocalista da banda Os Barcos. O músico comenta ainda que o falecido palco alternativo do Festival foi um dos responsáveis pela divulgação de sua banda, pois naquele espaço era possível entrar em contato com um público que não está necessariamente em contato direto com a cena alternativa local.
      Loro, vocalista da já veterana e agitada Ladrões de Vinil, comenta que a cena independente de Conquista perdeu espaço porque a produção do evento não está interessada em fazer “assistencialismo” para as bandas. “Eles não encaram as bandas como atração, dando atenção apenas para o lucro que vão obter com as atrações que já estão na mídia”, completa o roqueiro.
        A alta quantidade e qualidade das bandas autorais independentes na cidade é um fato comentado aos quatro ventos. No entanto o Festival de Inverno Bahia, e todo o grande empresariado que está por trás dele, parece não conhecer nem se interessar pela autêntica cultural local nem regional, mesmo tendo apoio da BahiaTursa, órgão do governo do estado.
         Assim as propostas alternativas tendem sempre a permanecer nos pequenos bares e becos da cidade... 

Por Ana Paula Marques e Rafael Flores

Cem anos de Jorge Amado é comemorado em toda Bahia


        Vitória da Conquista será palco de mais uma das varias homenagens que vem ocorrendo ao centenário do escritor baiano Jorge Amado. Acontecerá entre os dias 30 de agosto a primeiro de setembro, o XX Encontro do Programa Nacional de Incentivo a Leitura, o Proler, realizado por meio de uma parceria entre a Fundação Biblioteca Nacional, Uesb e Prefeituras Municipais de Vitória da Conquista, Jequié e Itapetinga. Esse ano um dos assuntos abordados será As Artes da Terra: Momento cultural. Centenário de Jorge Amado entre saberes e sabores, onde as principais obras do autor serão abordadas em uma espécie de homenagem ao mesmo.
            Jorge foi um dos principais escritores da segunda fase do modernismo, período literário que compreende da década de 1930 a 1945. Com características únicas e peculiares que imprimi em seu trabalho como a descrição da realidade cacaueira baiana no início do século passado ou a analise da sociedade local através de personagens clássicos como a mulher de força e luta que vem do interior pra vencer na vida, Tieta do Agreste, a os marginalizados ou excluídos da sociedade como retrata em Capitães de Areia, Jorge foi precursor de um estilo próprio que veio a desencadear e influenciar, através da sua principal característica, a regionalização, outros autores como Adonias Filho e até mesmo Guimarães Rosa.
            O escritor Ilheense estaria completando seus 99 anos nesta ultima quarta feira, 17 de agosto. A ideia é que haja uma série de comemorações em diversos locais do estado até o ano que vem, quando ele chegaria ao seu centenário. Em Ilhéus, as celebrações ocorreram com uma alvorada de fogos seguida por um ato ecumênico na Catedral de São Sebastião, às sete horas da manhã. Já na capital baiana houve um grande evento no Teatro Castro Alves, que realizou uma conferência com o escritor moçambicano Mia Couto que teve como tema “Um Mar Vivo: Como Jorge é Amado em África”. Além disso, a Fundação Casa de Jorge Amado, localizada no Pelourinho, já abriu as portas anunciando o inicio do Ano Jorge Amado. De acordo com Aninha Franco, escritora soteropolitana e coordenadora do Theatro XVIII que fica no Centro Histórico, “Jorge era um baiano que compreendia a Bahia do século XX, esse é o grande carisma da obra dele. Seus personagens ainda podem ser encontrados na cidade, mas rareiam. Ele, Caymmi, Carybé e Voltaire Fraga, cavalheiros, cavaleiros, conseguiram registrar essa cidade tão especial em histórias, músicas, imagens e fotos. Uma Bahia bonita, delicada, gentil e humana. O Pelourinho se prepara para homenagea-lo com grande fervor”.
            Além da homenagem ao escritor que faleceu em 2001, o Encontro de Incentivo a Leitura irá oferecer gratuitamente dez oficinas de leitura e uma exposição fotográfica para cerca de 300 participantes. O evento acontecerá na Praça Matriz, no distrito de José Gonçalves, município de Vitória da Conquista. De acordo com Camillo Cavalcanti, professor de literatura da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, “é de suma importância relembrar Jorge Amado em eventos como esse, que agrega um público misto de todas as idades. Conheço        Jorge através do meu amigo -também baiano- Eduardo Portela, ex-presidente da UNESCO que este ano homenageou seu velho camarada publicando Jorge Amado: A sabedoria da fábula. A grandeza de nosso Amado Jorge foi ter entrado e saído da militância comunista, evidenciando coragem, circularidade e renovação permanentes. De uma motivação pluridimensional, sua obra abrange o baiano, o telúrico e o político, entre mágico e real, superando as limitações do documento, sempre linear, que ameaçam o regionalismo. Foi um romancista da solidariedade humana, não apenas de uma classe. Nele palpitam todos os símbolos sociais da região, em sua verdadeira caracterização verbal e estilística”.
Por Mariana Kaoos

Novas eleições do Colegiado de Comunicação movimentam o curso


        O curso de Comunicação Social da UESB passou na última semana por um complicado processo eleitoral. A eleição para coordenador de colegiado se instalou num ambiente de dúvidas. A categoria discente questionou as intenções, posturas e propostas da única chapa inscrita.
        A votação ocorreu na ultima quinta-feira, 18 de agosto, causando uma confusa movimentação nos corredores da universidade. Dos 78 votos retirados da urna, 37 votaram a favor, 33 se opuseram à chapa, duas pessoas votaram em branco e seis anularam o voto. O grande problema dessa história é que das 78 cédulas retiradas da urna, apenas 77 foram respaldados com assinaturas dos eleitores. Ou seja, existe um voto a mais que não se sabe de onde veio. A decisão primeira da comissão eleitoral, composta pela professora Ana Claudia Pacheco, pela estudante Elisa Batista, e pelo secretário do colegiado Daniel Almeida foi de impugnar as eleições. No entanto, devido ao edital e a uma consulta a outras instâncias da universidade, validou-se a vitória da chapa. Segundo a presidente da comissão eleitoral, Ana Claudia, “Não houve fraude alguma. Dentro dos votos contabilizados retirados da urna, um não foi respaldado com assinatura, mas isso não inviabiliza o processo eleitoral. Houve sim, uma desatenção da mesa em relação a esse voto, mas não haverá impugnação da votação”.
        A chapa eleita é composta pelos docentes Dannilo Duarte, ministrante da disciplina Comunicação e Tecnologia e Adriana Camargo, professora de Fotojornalismo. Ambos prometem lutar para sanar as deficiências do curso, como por exemplo, a falta do laboratório de suas respectivas disciplinas. Segundo Dannilo, que concorreu pela primeira vez ao cargo de coordenador do curso, “Não houve confusão alguma no processo eleitoral. O que ocorreu foi que um estudante possivelmente votou e esqueceu-se de assinar. A comissão eleitoral tem autonomia para tomar decisões. Foi uma decisão madura por avaliar e registrar isso em ata, mantendo o resultado das eleições. Acredito que isso tenha sido apenas um pequeno incidente. A minha posição agora, é aguardar a plenária do colegiado para que haja a homologação da chapa”.
        Alguns estudantes enxergam que esse processo eleitoral foi atropelado e falho no que tange a divulgação e o estimulo para com a categoria discente. De acordo com Halanna Andrade, estudantes do 6° semestre do curso, “Não temos comunicação dentro do curso de comunicação! Os estudantes foram saber em cima da hora sobre as eleições, mas isso já é uma prática antiga, não temos a cultura desse processo de campanha e muito menos de entender a necessidade de um colegiado e de coordenadores. Cabe agora a nós, alunos do curso, nos mobilizarmos para cobrar dos novos coordenadores as promessas que fizeram e principalmente uma postura que dialogue com os estudantes e construam juntos essa nova coordenação”.
Por Mariana Kaoos

A arte em sua função mais nobre



Romeu Ferreira é graduado em História e Estudos Sociais , artista plástico, escultor, ilustrador, arte terapeuta e especialista em Saúde mental. Atualmente desenvolve um trabalho no Centro de Atenção Psicosocial (CAPS II), onde coordena uma oficina terapêutica. O principal objetivo desta é auxiliar no tratamento de pessoas com deficiências mentais através do contato com a arte.
O historiador era voluntário no CAPS quando teve a idéia de promover uma oficina de pintura na instituição. O projeto foi apresentado à UESB e hoje funciona como projeto de extensão da universidade. Além disso, segundo ele, a troca de experiências com os usuários influencia no seu trabalho como artista. “Eu me inspirei em fazer esse trabalho justamente por que eu sou artista. Eu falei: ‘Bem, se eu sou artista e faço um trabalho e tal, por que eu não posso ajudar o outro? ’ Aí eu comecei a desenvolver esse projeto.” A oficina de pintura é a mais antiga do Centro, existe há sete anos. Tanto ela quanto as outras oficinas oferecidas (teatro, tecelagem, etc.) promovem resultados significativos.
As telas produzidas pelos alunos de Ferreira são muito interessantes. Enquanto alguns trabalhos revelam-se pouco elaborados e se parecem às vezes com desenhos infantis, outros sugerem entendimento técnico, e são dotados de riqueza em detalhes, cores e harmonia. “Isso acontece por que cada pessoa é diferente. Cada transtorno, ou doença mental é diferente. Então cada qual faz um trabalho de acordo com seu estado de espírito. E cada um tem seu limite, tem gente que faz um trabalho mais elaborado por ele estar melhor, não estar transtornado ou em crise. Ele vai melhorando, a arte vai melhorando também, ele vai elaborando mais, vai pintando com mais delicadeza, vai criando mais, vai desenvolvendo mais.” – explica Ferreira.

Quem participa da oficina não se cansa de exaltar a importância da assistência que recebem no centro, o quanto gostam das oficinas e o quanto Romeu os ajuda. “É difícil a gente dar uma alta para um usuário da oficina por que ele não quer sair, gosta de mais da oficina.”, comenta o artista.
São exemplos como esse que nos fazem compreender o quão útil e transformadora a arte é.
O CAPS II situa-se na Rua dos Andrades, nº 227, Centro.

Por Bianca Brito





Este texto foi postada originalmente para a 1ª edição d' O rebucetê

Em OFF: O que você não vê no Oficina de Notícias

Trechos que "não foram ao ar" da entrevista com Aninha Franco:

Ana Maria Pedreira Franco de Castro, baiana, poetisa, advogada, dramaturga, escritora, jornalista e porque não dizer, gourmet?!
Anarquista desde a adolescência Aninha vem, junto com outros pensadores baianos, moldando o cenário cultural do estado. A frente da Republica, um misto de encontro gastronômico, troca de ideia e acervo bibliográfico com mais de 7 mil livros, no Pelourinho, e com novos projetos teatrais para esse ano(junto com a atriz Rita Assemany), Aninha fala um pouco da diversidade que há em seu trabalho e em primeira mão, nos conta os segredos dos esperados espetáculos.


Oficina de Notícias - Na década de 80, você, junto com a atriz Rita Assemany, manteve um bar chamado O Blefe, no bairro do Rio Vermelho. O que ele representou para o cenário cultural de Salvador da época? Quem o frequentava?

Aninha Franco - O bar surgiu como uma opção de sobrevivência. Era o lugar alternativo da cidade porque era um lugar pensante. Tinha uma rádio ali. O bar ficava na frente do teatro Maria Bethânia, que hoje é a churrascaria Fogo de Chão, no Largo Colombo. Ali virou o coração da cidade.

ON - Alguma vez você usou esse espaço como fonte de pesquisa e referência em seus trabalhos?

AF - Nossa, eu aprendi sobre a alma humana, mas eu acabaria virando alcoólatra (risos). O maior problema das pessoas é que elas não conseguem conviver com elas mesmas. Seu primeiro interlocutor é você, você tem que conviver consigo,
conversar e decidir com você. Hanna Arendt, filósofa alemã, diz que o grande problema de um assassino é que quando ele mata alguém, é que ele vai conviver com um assassino. É em cima disso que ela vai, e pra isso que serve a filosofia, é pra você entender o ser humano. Geralmente o ser humano não faz essa relação dele com ele mesmo e ele quer o outro. Essa é a historia dos bares e um bêbado que quer isso é talvez a coisa mais insuportável que exista sobre a terra.

ON - Na época do bar você já escrevia?

AF - Comecei a escrever aos 7 anos de idade e nunca mais parei. Eu era a caçula. Meu pai sempre me trazia um livro de Monteiro Lobato todas às sextas- feiras. Eu era uma criança absolutamente energética e sempre ficava de castigo. Eu estava sempre tentando me conter. A única coisa que me concentrava, a única coisa que me parava era um livro e até hoje é assim.

ON - Em uma entrevista concedida à TVE, Rita Assemany comentou que vocês estavam produzindo uma peça. Quais os projetos para esse ano?

AF - Essa nova peça com a Rita é sobre sonhos, que é uma coisa que as pessoas estão precisando desesperadamente na vida. Paralelamente eu estou escrevendo Éramos Gays, com direção do Guerreiro. É um musical sobre como é maravilhoso ser viado. E tem uma música. Eu vou cantá-la em primeira mão... (letra em um box a parte, na versão física do mural)

ON - Na sua visão como se apropriar dos novos meios de comunicação do século XXI pra produção cultural independente?

AF - Porra, bicho, isso tudo tinha que tá linkado, né? Porque nós temos uma coisa preciosíssima, uma cultura linda e maravilhosa. Aí entra Obama para visitar o país e isso repercute no mundo inteiro. Ele cita dois pensadores brasileiros, Paulo Coelho, que não é pensador nem brasileiro, é esotérico, que é um país a parte. E Jorge Ben, com seu lindo Brasil, mas que é de 1968, que é "Moro num país tropical,abençoado por Deus e bonito por natureza.

É o Brasil com z, é a bunda e o carnaval. Uma das matérias que mais me emocionou ultimamente, foi sobre um homem chamado Tom Job Azulai. Ele é cineasta. Na época da ditadura, quando ele era embaixador, começou a ser pressionado a denunciar pessoas. Ele é brasileiríssimo, e conseguiu um filme sobre tortura no Brasil, mostrando dentro da embaixada e foi demitido, expulso, perdeu todas as regalias de um embaixador. Ele disse "Eu não podia. Antes de tudo vem a dignidade e a honra de um homem". E ele saiu do país pra fazer cinema, que era uma das coisas que ele podia fazer, acabou realizando um documentário lindo sobre os doces bárbaros.
ON - E você acha que isso tem a ver com a apropriação dos meios e comunicação independente?

AF - Isso tem a ver com tudo, eu acho que nós precisamos mostrar esse Brasil de homens dignos. A gente precisa mostrar isso. Bruna Surfistinha teve um lançamento tão extraordinário... Não tenho nada contra, mas precisamos mostrar outro Brasil. A gente tem que cuidar do país, tudo é questão de políticas publicas. É a mesma questão do crack, da falta de educação, as pessoas não são educadas para ver nada. Precisamos ser educados para ver, ouvir, assistir, entender e consumir.



Por Rafael Flores, Mariana Kaoos e Bárbara Jardim




Este texto foi postada originalmente para a 1ª edição d' O rebucetê



É o eletrobrega, sensação!


Quem poderia imaginar que o brega seria o novo “cool”? Pois é, ele está em alta e quem exemplifica isso muito bem é a banda Uó. Formada em Goiânia pelos amigos goianos Davi Sabbag, Mateus Carrilho e Candy Mel, a Uó se propõe a cafonizar a música pop, absorvendo ao máximo do formato paraense do tecnobrega.
O boom da banda, veio com o desempenho do vídeo Shake de Amor no YouTube, que alcançou cem mil visualizações em menos de duas semanas. É uma versão da música Whip my hair de Willow Smith em ritmo tecnobrega. O clipe se passa na periferia de Goiânia, a música é comicamente inspirada na história da apresentadora Luciana Gimenez com o rock star Mick Jagger. Tinha tudo para ser mais um vídeo tosco da internet, no entanto, toda a composição intencionalmente trash (as roupas chamativas, a escolha do cenário, o carro antigo, o sangue jorrando a La tarantino) e a letra divertida, deram certo.
Eles chamaram atenção e já foram citados por personalidades internacionais com o DJ e produtor norte-americano Diplo e o blogueiro Perez Hilton. Nós, rebuceteiros ficamos interessados e viciados no ritmo, queríamos saber mais e fizemos uma entrevista com o Davi, integrante do grupo. Pode ir se despindo de seus preconceitos e se entregar a essa mistura. Agora o electrobrega é sensação!


O Rebucetê: Como surgiu a idéia de montar a banda? Quanto tempo de estrada ela já tem?

Davi Sabbag: A idéia surgiu de uma festa de amigos com temática brega. Montamos uma banda pra ser a atração da festa. Eu e o Mateus gravamos o vídeo e fizemos a música e soltamos de divulgação. Ganhou uma repercussão bacana e a festa lotou a casa. As pessoas já gostaram de cara da gente, daí decidimos continuar. Temos 10 meses, começamos em outubro.

O Rebucetê: Por que resolveram apostar em um música que mescla o tecnobrega com o pop americano? Como vocês definem esse som?
Davi Sabbag: Porque nós queríamos unir tudo que gostávamos em um estilo só. A batida do tecnobrega é envolvente, e a música pop chega mais fácil nas pessoas. Acreditamos que a junção das duas resultaria em algo inusitado, misturando mais sintetizadores, guitarras e sons que normalmente não se escutam no tecnobrega raiz. Nós normalmente chamamos de Eletrobrega, ou sendo mais ousados, New Melody.

O Rebucetê: Oclipe de Shake de Amor atualmente tem mais de 132 mil exibições no You Tube.
Vocês esperavam tamanha repercussão?

Davi Sabbag: Agora que estou respondendo, já tem 140.000! Não achávamos que ia acontecer, mas esperávamos sim. Nós corremos atrás de tudo, e investimos bastante carinho nesse vídeo. Contratamos uma equipe, mais ou menos na camaradagem, a música já tinha passado pelas mãos do Gorky e do Pedro para dar uma tunada... Foi um esforço coletivo, que está dando certo.
O Rebucetê: Vocês acabaram de lançar um EP chamado Me Emoldurei de Presente para te Ter, com cinco músicas. Como foi o
processo de produção? Já tem uma nova música de trabalho e um novo
vídeo vindo por aí?

Davi Sabbag: Nós tínhamos as músicas já prontas (mas não gravadas), com exceção de "O Gosto Amargo do Perfume". Pegamos a produção dos meninos do Bonde do Role (Rodrigo Gorky e Pedro D'eyrot) e juntos remontamos as músicas, colocando mais pressão e gravando as vozes, aqui em Goiânia e em São Paulo. A nova vai ser justamente "O Gosto Amargo", com vídeo saindo até o mês que vem.

O Rebucetê: A banda anunciou no twitter que vairolar uma turnê pelo Nordeste. A Bahia está incluída? Seria ótimo se passassem por Vitória da Conquista...

Davi Sabbag: Ainda não temos previsão para a Bahia, infelizmente. Mas estamos esperando!

Por Murillo Nonato.


Este texto foi postada originalmente para a 1ª edição d' O rebucetê

Acessibilidade na Comunicação - O que eu tenho a ver com isso?

É comum que ao nos depararmos com a palavra Acessibilidade, pensemos que ela se refere apenas à estrutura física dos espaços. No entanto o conceito se estende a necessidade que todos possuem de acesso aos diferentes meios, sejam estes de locomoção ou de comunicação. A legislação brasileira referente às pessoas com deficiência é considerada uma das mais avançadas da América Latina, porém o poder
público, as empresas e a sociedade civil deixam sempre em segundo plano a inclusão dos cidadãos através de seu direito de se comunicar.
Pessoas com deficiências possuem maior necessidade de contato com políticas que a incluam no dinamismo da sociedade.

Nesse contexto, a comunicação exerce um papel importantíssimo. A mídia funciona como o palco das relações contemporâneas. Porque excluir alguém de toda a informação que circula dentre os meios de comunicação, sejam eles de massa ou não?

Este ano empresas de radiodifusão anunciaram o serviço de áudio descrição, o qual adapta o conteúdo de certa programação para o fácil entendimento do público com alguma deficiência visual. Este serviço deveria ser fornecido desde 2001, como previsto no artigo 19 da lei nº 10.098/00. No entanto, só está disponível em sinal digital, o qual ainda é restrito aos grandes centros. A Rede Globo passou a exibir filmes com áudio descrição na Tela Quente, às segundas-feiras, e na Temperatura Máxima, aos domingos. O SBT adaptou o seriado Chaves, e a edição de sábado do Jornal SBT Manhã. Já a MTV elegeu o programa Comédia MTV. Por enquanto as emissoras exibem apenas duas horas semanais de sua programação com o serviço, a meta de aumento dessa produção é de 20 horas para 2021.

Entretanto o que temos de acessível às pessoas com deficiência na programação da tevê aberta? Linguagem de libras (comunicação para surdos através de gestos), por exemplo, só se vê no horário político e quando as emissoras vão anunciar a classificação indicativa da programação. Na UESB temos uma rádio e uma tevê universitárias. Qual a preocupação destes meios com a acessibilidade? Será que eles se preocupam com isso? Disponibilizam as pautas mais importantes em uma linguagem que aproxime as pessoas com deficiência?

A Comunicação precisa ser tratada como prioritária dentre os instrumentos de inclusão, pois se comunicar é uma necessidade humana. A acessibilidade na comunicação deve significar que os meios sejam capazes de chegar a todos, inclusive a pessoas com deficiência. Nesse sentido não se trata apenas de permitir a elas o acesso ao conteúdo que é veiculado na mídia, e sim também aproximá-las dos processos de produção deste conteúdo. Importante pensar também que qualquer espaço público e coletivo tem que ser garantido para que esse grupo de pessoas possa ter acesso à informação.

Apesar do formato dos meios tradicionais parecer tão “imexível”, é possível pensar formas diferenciadas de compartilhamento das informações. Aí entra o importante papel do estudante de comunicação, o qual tem maior possibilidade de experimentar e construir materiais alternativos aos que encontramos na mídia tradicional e até mesmo em nossas instituições de ensino. Dessa forma é possível aproximar a comunicação de toda a sociedade, sabendo respeitar as limitações de cada grupo.

O que você anda dizendo? (texto tirado da cartilha de Combate às opressões da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação)

Qualquer tipo de linguagem vem acompanhado de idéias pré-estabelecidas sobre determinado tema. E ser cuidadoso quanto à linguagem e discurso é um dos princípios básicos no combate às opressões. As expressões que se referem às pessoas com deficiência propagam, voluntária ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação. “Deficientes", “pessoas deficientes", "portadoras de deficiência" ou "portadoras de necessidades especiais" são algumas das terminologias as quais carregam consigo uma série de significados que reforçam os preconceitos e a exclusão. “Pessoas com deficiência’ é, atualmente, a expressão mais adequada e mais utilizada pelas entidades que lidam com tal assunto.

Rebucetando:

Um das preocupações desse jornal é sempre tentar sair do lero-lero e pensar em uma comunicação que inclua. O rebucetê é feito para/pelos estudantes de Comunicação Social e aqui mesmo, dentro do nosso curso, temos um colega cadeirante e com baixa visão. O pensado para atingi-lo seria repassar todos os nossos textos para o Núcleo de Acessibilidade da UESB. Ainda não é o ideal, mas é o começo.

Por Rafael Flores. 





Este texto foi postada originalmente para a 1ª edição d' O rebucetê