Por Ana Paula Marques e Rafael Flores
Emicida no Festival Suíça Bahiana/ Foto: Rafael Flores |
Não é a primeira vez em que Emicida se posiciona contra atos que criminalizam ou que expulsam comunidades do seu local de vivência. "O Pinheirinho é a Guerra de Canudos do século 21, força ao povo neste momento onde os porcos agiram com as suas artimanhas sórdidas", disse o rapper no seu Twitter, pouco tempo depois de a Polícia Militar de São Paulo (PMSP) e da Guarda Civil Metropolitana (GCM) da cidade de São José dos Campos (SP) invadirem a ocupação conhecida como Pinheirinho. A violenta desocupação da comunidade ficou conhecida como “Massacre do Pinheirinho” após demonstração de violência e brutalidade por parte das forças policiais na expulsão e intimidação dos moradores despejados em meio a uma enorme confusão judicial.
Foto: Rafael Flores |
Ter
problemas com a justiça e com a instituição policial por uma letra de rap,
porém, não foi apenas privilégio do jovem rapper. Nos anos 90, o grupo Pavilhão
9, formado no bairro do Grajaú em São Paulo, causou controvérsia com o
lançamento do álbum de estréia "Primeiro Ato". A faixa intitulada "Otários
Fardados", a qual indagava "A quem devemos temer? Polícia ou ladrão?", provocou
a ira da instituição. Revoltados com a letra, policiais acabaram descobrindo o
telefone da gravadora e passaram a ameaçar os integrantes da banda. Por
questões de segurança, o vocalista Rho$$i e os outros integrantes passaram a
apresentar-se escondendo o rosto por trás de gorros e pinturas. Além do
Pavilhão 9, o grupo Facção Central, principal nome do gangsta rap brasileiro, teve seu videoclipe de "Isso
aqui é uma guerra", na época vinculado na MTV, censurado pelo
Ministério Público e seus integrantes processados.
Hip Hop Consciência/ Foto: Rafael Flores |
Emicida está solto, sua rima pode voltar a bater nesses assuntos torpes, dos quais
poucos tem coragem de falar. As tags #DedoNaFerida e #LiberdadeEmicida protagonizando
os Trending Topics do Twitter mostram o incômodo provocado nas redes com a
falha escancarada da mesma Polícia que expulsou as famílias da comunidade
Eliana Silva. A instituição policial está em crise, a sociedade está de olhos
bem abertos para suas discrepancias, os funcionários públicos que deviam nos
proteger nos assustam. A pesquisa Índice de Confiança na Justiça, divulgada nesta terça-feira (15) pela Fundação Getúlio Vargas, nos mostra que 77% da população com renda de até dois salários mínimos não confia na polícia. Quando a remuneração é maior que dez salários mínimos, a rejeição cai para 59%. Dialogando com esses dados e em resposta à detenção do Emicida, o mineiro MC Rashid tuitou: “#LiberdadeEmicida Policiais, nossas crianças tem medo de vocês,
nossas mães tbm! Nós odiamos vocês, não respeitamos! #dedonaferida”.
No 13 de maio, aniversário da Abolição da Escravatura, o jovem negro Emicida mostrou que o
Hip Hop, criado nos guetos jamaicanos em Nova York, funciona muito bem como um
megafone para a situação social em que o nosso país se encontra. Já dizia
Chico Science, também influenciado pelo Hip Hop pernambucano: "eu me
organizando posso desorganizar". O movimento tem se organizado cada vez
mais e os seus militantes têm toda razão quando caracterizam o movimento como
uma arma. Entretanto, políticas públicas para a cultura são escassas, ainda mais se tratando de políticas que abracem a cultura da periferia da margem; e essa mobilização dos jovens de periferia em torno da arte
talvez não tenha tanto alcance enquanto os moldes educacionais, políticos e
culturais continuarem estáticos e presos ao atual modelo de Estado.
Se liguem na playlist que preparamos para você ouvir depois de ler e entender melhor nosso texto:
Se liguem na playlist que preparamos para você ouvir depois de ler e entender melhor nosso texto:
Felizmente parte da classe artística nacional ainda vive e não se rendeu ao "comfortably numb way of life". É pena que os cantores e bandas detentores de maior público e dos holofotes da mídia de massa não tenham ainda a consciência de que deveriam fazer coro, cada qual com seu estilo e talento, aos poucos que usam seu talento e recursos para despertar mentes para o processo de estrangulamento social que a base da pirâmide vem sofrendo sob o slogan que chega a ser irônico, "Brasil, um país rico e sem pobreza". Acorda Brasil!
ResponderExcluirCaíque Santos.