Mariana
Kaoos
Xixi! Se
essas manifestações populares, sejam elas paradas da diversidade, marcha da
maconha, das vadias, das mulheres e assim por diante, pudessem ser traduzidas
em apenas uma palavra, eu não hesitaria em coloca-la estampada em todos os
lugares, xixi. Independente do cunho ideológico que está sendo pregado nessas
manifestações específicas, o poder público (quando está de comum acordo com
elas) e os organizadores desses eventos deveriam pensar mais na logística do
xixi.
No dia
19 de maio, por exemplo, a III parada LGBTT de Vitória da Conquista contou com
um público fixo de 200 pessoas, por volta de sete vendedores de cerveja
acompanhando o trio (fora os bares ao longo do caminho) e entre quatro a seis
banheiros químicos no ponto inicial do percurso. Ou seja, todos que estavam lá
pela farra se embriagaram de cerveja, todos que estavam pela luta também
beberam bastante e o resultado disso tudo foi aglomerados de pessoas em cada
esquina, urinando na porta das casas alheias e deixando a cidade mais fedorenta
(essa pessoa que vos fala se envergonha ao afirmar que também foi uma desses
seres nas esquinas).
“Telma, eu não sou gay!”
A tarde
ainda estava clara em Vitória da Conquista, nuvens de diferentes formatos e cores
envolvendo todo o céu da cidade que se preparava para mais um dia de luta e
orgulho. A Praça Guadalajara, como num típico dia de outono, estava cheia de
folhas ao chão contrastando com as bandeiras gays estiradas e as roupas
coloridas dos transeuntes. Já era por volta de 15h30min, cada vez mais chegavam
pessoas na concentração do que, logo após, se transformaria na III Parada do
Orgulho de Ser LGBTT de Vitória da Conquista.
Com o
trio já a postos e organizadores correndo para cá e para lá, Rosilene Santana,
coordenadora do Grupo Safo (entidade que organiza a manifestação na cidade)
explicou que “a gente precisa continuar na luta contra a homofobia, para
assegurar nossos direitos enquanto cidadãos. Infelizmente votamos confiantes na
presidente Dilma e ela nos decepcionou muito no que diz respeito aos direitos
relacionados aos homossexuais. Vetar o ‘kit gay’, por exemplo, foi um grande
retrocesso. Hoje em dia, além desse trabalho de conscientização com a população
de maneira geral, ainda temos que politizar os políticos através dos movimentos
sociais. Caso contrário, nunca iremos pra frente”.
Esperando
ser chamada ao palco para começar a discotecar, Ana Clara Rizério, de cabelos
vermelhos, jaqueta preta e um Marlboro Light entre as mãos, falava de maneira
descontraída do set que tinha preparado para a ocasião, com artistas que iam
desde Madonna a Rita Cadillac. De acordo com ela “em eventos assim as pessoas
adoram musicas dançantes. Eu gosto muito de um estilo chamado Mashup, que é a
mistura de uma música com outra, o que acaba deixando até mais divertido”. Além
de Ana Clara, o evento contou com as apresentações de Dorgi Barros, a banda
soteropolitana Suinga, a banda Tabuleiro de Musiquim e Dj Tony.
“Rubens,
eu acho que dá pé esse negócio de homem com homem e mulher com mulher...”
Ao
contrário do que muitos pensam, celebrar a diversidade sexual é exercitar o
poder da tolerância com as diferenças alheias e o respeito às escolhas. Ainda
na concentração, passeando com a filha pequena estava o produtor Massinha que traz, em seus eventos promovidos em Conquista, nomes como Psirico, Chiclete com Banana e
Ivete Sangalo, falava com todos de maneira carinhosa e delicada. Ele afirma que
“nas festas promovidas por mim também há uma grande quantidade de homossexuais,
o que é muito bom, pois o que faço é justamente com o intuito de agregar a
todas as pessoas. E sempre que posso eu dou uma passada em manifestações como a
de hoje porque acredito que a felicidade do ser humano está naquilo que ele é e
que ele faz. Então eu respeito, aprecio e me divirto também”.
Massinha
ainda diz que “só o homossexual sabe o quanto é difícil se assumir e que esse
processo se dá de maneira bem gradual consigo mesmo e com as pessoas que te
circundam. Nós ainda vivemos numa sociedade machista e homofóbica e para mudar
isso é preciso que haja uma interação com outros pensamentos e consciências.
Acho que tem que manifestar, se assumir de uma forma que não seja escandalizada
e dizer para todos que esse mundo é habitado por seres humanos e que é preciso
haver respeito. E que a recíproca seja verdadeira também, que os heterossexuais
sejam respeitados”.
A quantidade de heterossexuais presentes do início ao fim da parada pode não ter sido proporcional ao número de homossexuais,, mas foi numerosa e pacífica. A polícia que
esteve presente na manifestação serviu apenas como enfeite, pois não houve uma
briga durante a parada, muito pelo contrário. Quem se aventurou a entrar
embaixo da bandeira pôde perceber como os manifestantes estavam a fim de
distribuir amor de maneira pacífica e respeitosa e sim, a bandeira gay foi o
espaço mais gostoso para curtir o evento.
Por volta das 18h30min a banda Suinga começou o show, partindo no trio em direção à Pracinha do Gil . Embalando
clássicos como “Vumbora Amar” da banda Chiclete com Banana e hits autorais como
“Pepeu no Mar”, a banda deu um verdadeiro show, fazendo com que todos os
manifestantes tirassem seus casacos e pulassem sem parar.
Frequentador
da Parada LGBTT desde a sua primeira edição, o diretor de conteúdo da agência
Vocevê Multicomunicação, Marco Antônio Jardim Melo, acredita que “Vitória da
Conquista está crescendo muito no pólo educacional, construção civil, dentre
outros segmentos. A juventude tem que perceber isso e fazer alguma coisa. Não é
a cidade em si que fará. A parada gay tá só começando. A primeira edição foi
ótima, o ano passado foi desastroso e esse ano retomou essa proposta bacana,
não só de entretenimento, mas de bons discursos, uma alegria legal, mostrando
que todo mundo está junto. É isso que a cidade precisa começar a enxergar”.
A III
Parada do Orgulho de Ser LGBTT de Vitória da Conquista terminou em clima de
festa. Apesar dos transtornos causado na Câmara de Vereadores (você confere
isso aqui), o saldo terminou positivo, por mostrar mais uma vez a Vitória da Conquista que ser gay é legal em todos os possíveis
formatos e interpretações que essa palavra pode conter. Talvez grande parte da
população ainda não tenha a consciência necessária para conviver e respeitar o
outro de uma forma branda, mas não é por isso que a luta deve parar. Até o
próximo ano, de preferencia com mais banheiros químicos.
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