quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Rebucetê Entrevista: Vendo 147

Por Thaís Pimenta


Festival da Juventude/ Foto: Rafael Flores
A Vendo 147 é um quinteto formado por dois guitarristas, Pedro Itan e Eduardo Costa, um baixista Caio Parish, e na bateria Dimmy, o "Demolidor", e Glauco Neves. Uma composição quase normal de uma banda, exceto pelo Clone Drum, ideia que os baianos importaram da Suécia, que consiste basicamente em dois bateristas que tocam frente a frente, dividindo um mesmo bumbo. 


O diferencial da banda não para por aí. Se tratando de sua sonoridade, a Vendo 147 também traz ao seu som a incorporação da guitarra baiana. Uma banda que começou com um rock pesado, mas hoje tem influências de outras vertentes, como afirma o baterista Glauco: “somos uma banda independente porque trabalhamos em uma cena que não tem preconceitos”. 


Vitória da Conquista, no primeiro dia do Festival da Juventude, sediou a  segunda edição do projeto "Vendo 147 Convida". A banda trouxe à cidade o consagrado Pepeu Gomes, um dos maiores guitarrista do país que marcou a música popular brasileira, e ainda dois nomes da nova geração da MPB: Lucas Santtana e Nina Becker. Na oportunidade, a Vendo 147 conversou com O Rebucetê e falaram sobre o processo de autogestão da banda, sua sonoridade e como foi idealizado o show para o Festival da Juventude. A entrevista você confere agora:

O Rebucetê: A Vendo 147 é uma das bandas que mais vem se destacando no cenário musical independente na Bahia. Glauco Neves, um dos clones, editou o primeiro vídeo clipe da banda; a arte do EP “Godofredo” é assinada por Duardo Costa, um dos guitarristas. Como se dá esse processo de autogestão da banda?

Pedro: Desde o início usamos essa ferramenta de autogestão para conseguir compor todo processo de trabalho, internet principalmente e investimento total, né?  A gente na verdade, procurou começar trabalhando de uma forma legal, primeiramente produzindo nosso material, produzindo disco, produzindo o que pudesse pra lançar. E, além disso, tem todo um esquema da banda, temos mais uma galera que trabalha com a gente.

Glauco: Só na banda a gente já teve muita sorte, temos um designer, um diretor de arte, temos um super produtor, tem o super técnico de áudio, de vídeo. Cada um consegue agregar uma coisa a banda. O engraçado é que não procuramos isso antes de formar a banda, naturalmente cada um com uma habilidade e foi se encaixando. Então começamos assim: o Dimmy produzia, corria atrás, fechava o show;  Pedrinho e eu, ficávamos atrás da questão de equipamentos, acessórios, e eu gravava; Duardo desenhava, e Caio... ele só tocava baixo (risos). Algum amigo tirava foto, outro amigo escrevia, e nós mesmos fazíamos rede social, mas de qualquer forma, hoje nossa equipe cresceu e temos mais pessoas nos ajudando.

OR: Apesar de ser uma banda relativamente nova, a maioria dos integrantes já tem uma longa história com a música. Como juntar as experiência e bagagem de cada um e converter nesse som autêntico que a banda traz?

Glauco: É uma maravilha porque já passamos por várias bandas antes, sabemos dos vacilos e bobagens que já fizemos, e não que não queremos fazer mais. Paramos pra pensar mais um pouquinho: “vamos lançar um caminho, um objetivo”. E hoje estar fazendo esse show aqui que é maravilhoso, uma coisa realmente surreal, estar cantando com Lucas, com Pepeu, com Nina. Precisamos lançar uns projetos legais, sabe?

Pedro: Porque já teve um tempo que tocávamos em barzinho e achamos legal, mas estamos agora em uma fase que de batalhar, correr a trás do que realmente vale a pena pra banda, no sentido de mídia, de retorno mesmo pra banda.

OR: Pode-se dizer que nos anos 80 o axé sufocou outros ritmos no cenário baiano. O rock já tem seu espaço garantido na Bahia?

Dimmy: Quando começou, a indústria do axé realmente dominava as rádios, dominaram os canais de divulgação, imprensa, e quase tudo ao seu redor. Mas acredito que foi um mal necessário, percebemos que a Bahia tem um salto a mais na área musical do que outros estados por causa da indústria do axé. O Rock ficou sufocado assim como todos os outros estilos ficaram sufocados no início, mas com o passar do tempo a gente foi ganhando espaço porque todos se aproveitaram desse espaço.

Glauco: Mas assim, o rock é um estilo que serve pra reclamar, todo roqueiro só reclama, se tiver em São Paulo vai falar: “pow São Paulo é foda só toca sertanejo”; o roqueiro do Rio de Janeiro fala: “pow, aqui só rola  funk”.  Acho que se um dia falarem: “pow, o rock domina tudo”, isso não vai ser rock mais (risos).  Somos uma banda independente porque trabalhamos em uma cena que não tem preconceitos, isso dá pra perceber na nossa música, começamos com uma banda até pesada e hoje quando você escuta o nosso disco novo, percebe que há outras a vertentes, e até o  axé a banda também traz.

OR: Visualmente o que mais chama atenção na banda é o clone drum. Gostaria que vocês falassem um pouco mais sobre essa experiência de dois bateristas dividindo o mesmo bumbo.

Glauco: É aquela coisa, volume a mais, trabalho a mais, acho que é tudo a mais. Mas começou primeiramente com a proposta de fazer um diferencial, e isso pra gente é legal. E nesse trabalho que fazemos juntos na bateria parece complicado as olhos dos outros, mas pra gente se tornou fácil por vários motivos, inclusive toda a história de vida até como músicos. E até complicado entrar nisso se não vou ter que contar a minha infância. Eu já toquei Clone quando era pequeno e é surreal isso. Dimmy me mostrou porque ele tocou com uma banda que ele viu, que fazia o show com a The Monters na suíça, então pensei: “ Ah, isso aí eu já vi”, como se não fosse novidade. Mas daí a pessoa tocar realmente, montar uma banda, eu nunca tinha feito isso. E é isso, é muito barulho ao mesmo tempo. As pessoas olham e pensam: “Pow, como não tá rolando um desencontro?”. Trabalhamos bastante isso para rolar a sincronia, deixar o som limpo.

OR: A Vendo 147 traz a guitarra baiana para compor o seu som. Como foi se apropriar de tal instrumento típico do carnaval, do trio elétrico, e adaptá-lo ao rock? O rock também está aberto a outras sonoridades?

Pedro: A guitarra baiana é um instrumento incrível. Pepeu Gomes, Armandinho, foram os baianos que fundaram isso aí, e é incrível. Então quando eu peguei a primeira vez em uma guitarra baiana, nossa, foi demais! Pra mim esse é um instrumento muito especial. E é um instrumento que acho que dá pra tocar em qualquer estilo, da música clássica ao blues, metal. Tem a ver com aquela história que Glauco falou, o rock tem que sempre ser o contraponto dá história, nos anos 60 a guitarra entrou na música brasileira mau vista, né? E hoje nos colocarmos elementos de axé é nossa forma de fazer rock dentro do rock.

OR: Dentro do Festival de Juventude, a “Vendo 147 Convida” três grandes nomes do cenário musical brasileiro: Pepeu Gomes, Nina Becker e Lucas Santtana. Como foi pensado o show?  Como é lidar com essa mistura de musicalidade? Vocês acompanham o trabalho desses artistas?  
Vendo 147 Convida Nina Becker no Festival da Juventude/
Foto: Rafael Flores 


Dimmy: Parece que essa história começou no ano passado em Belém no Conexão Vivo. O Lucas tocou com a banda dele, e Pepeu fez uma participação com Marcus André, a gente conversou e tal, e pensou: “ esse lance que o cara vez seria legal fazer também”, ai ficamos nisso. Depois Gilmar veio conversar com a gente: “pow, aquele projeto que vocês tinham, a 'Vendo 147 Convida', a proposta é legal”. Então começamos a pensar nos nomes, aí veio a ideia. Pepeu sempre foi influência pra gente, O Lucas Santtana muito amigo nosso e a gente queria fazer com uma menina também, uma menina que fizesse que tivesse um diferencial no som. E hoje, quando passamos o som com Nina Becker, percebemos que acertamos na escolha. 

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