segunda-feira, 28 de maio de 2012

Deixa o coração falar também

Por Mariana Kaoos e Rafael Flores


Foto: Rafael Flores

Vinícius era poetinha, embora odiasse que lhe chamassem dessa forma.  Sempre afirmou que o uísque era o melhor amigo do homem, “um cão engarrafado”. Teve inúmeros parceiros, dentre os mais conhecidos estão Tom Jobim (maestro de todos nós!) e Chico Buarque de Holanda. Era ciumentíssimo com suas músicas como, por exemplo, em “Gente Humilde” que assinou junto com Chico e Toquinho, mas, por ciúmes, não escreveu uma linha sequer. Casou-se sete vezes e foi apaixonado por todas as mulheres com quem viveu. Quando sentia que a paixão estava esvaindo-se, Vinicius ficava triste, melancólico, parava de escrever, parava de assobiar, dizia que “o amor é a coisa mais triste quando se desfaz”, mas logo se reerguia a procura de um novo sentimento. Justamente por essa e todas as outras características peculiares que lhes pertenciam, Vinícius de Moraes foi e ainda é uma das maiores referências na música e na poesia brasileira.

Um tributo à Vinícius de Moraes foi realizado em Vitória da Conquista na última sexta, 25, com a participação de diferentes artistas, tanto da cena musical quanto do teatro. O salão da Associação Atlética do Banco do Brasil - AABB, foi decorado com toldos e mesas redondas para receber a festa. Os lustres do ambiente lembravam os bailes da terceira idade, mas o público, que lotou o espaço, era composto de diferentes faixas etárias, todos fãs do poetinha camarada.

Gilmar Gama/Foto: Rafael Flores
A renda arrecadada com os ingressos vendidos já tem destino certo. Será revertida inteiramente para a Casa do Câncer de Vitória da Conquista. O projeto foi criado por Maria do Carmo Gômes, a Carminha, há 12 anos com o intuíto de hospedar os pacientes com câncer das cidades vizinhas, os quais não encontravam abrigo ou não tinham condição de permancer na cidade para  tratamento. “A instituição sobrevive de donativos da sociedade. Graças a comunidade conquistense a capacidade da casa hoje é de 90 pessoas, com pretensão de aumento”. Gilmar Gama, realizador do evento, explica que escolheu a Casa do Câncer para beneficiar por conta do respaldo e serviço da instituição na região sudoeste da Bahia e norte de Minas Gerais.

Como o evento foi filantrópico e não houve um rigorosidade na curadoria dos artistas, algumas falhas foram notadas. Artistas com um certo renome na cidade decepcionaram a  expectativa do público. Exemplo claro disso foi o cantor Evandro Correira, que subiu ao palco e passou vexame, parando de tocar o violão que acompanhava a voz da sua filha Marlua e interpretando de forma precária a canção que lhe foi proposta. “Foram pessoas que espontaneamente se dispuseram, se colocaram a disposição de abraçar a causa e foram chegando, não houve um critério do ponto de vista artístico para a composição do evento”, explica Gilmar.

Ítalo Silva/Foto: Mariana Kaoos
Por outro lado, o jovem Ítalo Silva, ganhador do festival “Por Isso É Que Eu Canto” em 2010, quebrou a monotonia do salão com suas interpretações de alto nível das músicas “Deixa”, “Rosa de Hiroshima” e “Carta ao Tom 74”. Seus gestos no palco lembraram muito as performances marcantes da Pimentinha, apelido dado por Vinícius a Elis Regina. Ítalo nos disse que sua ligação com o poeta é muito estreita, apesar de não terem convivido no mesmo espaço de tempo. “Bebo muito na fonte de intérpretes com Bethânia, Elis e Clara Nunes e em compositores, como Edu Lobo e Baden Powell. Todos esses meus ídolos tem uma ligação forte com Vinícius.”, comenta o cantor e compositor. Outra grande interprete foi Cristina Rocha, que mesmo gripada, fez todo mundo cantar junto ao som de “Chega de Saudade” e “A Tonga da Mironga do Cabulete”. Cristina explica que ele “talvez seja o ultimo poeta do amor que temos. A maneira como ele usa as palavras, a maneira como ele trata a mulher, é tudo muito singular. Podemos afirmar que Vinicius de Moraes seria um romântico na era moderna”.

Cristina Rocha/ Foto: Rafael Flores

Vinícius sentava todo fim de tarde na orla de Ipanema, vendo as normalistas passarem. Além de poeta, cantor e compositor, foi também diplomata, atuando em países como a França, foi, é e ainda será um dos maiores expoentes da cultura nacional. Diante de eventos como esse, que mesmo com algumas falhas obteve bons resultados num sentido filantrópico, ele provavelmente estaria sentado, tomando seu uísque e sorrindo para todos nós. Ao final do espetáculo, todos os convidados encarnaram o poetinha e seus camaradinhas e abraçados entoaram “Tarde em Itapoã”, acompanhada em coro por um público revigorado. Assim, unir a paixão contida em todas as obras do poeta com o amor com que Carminha cuida da Casa do Câncer foi uma ideia feliz e deve ser copiada e replicada em outros eventos da cidade.

Pra completar, nós pedimos sua benção. Saravá!

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