sexta-feira, 18 de maio de 2012

Diário de Bordo: Festival Sónar (Dia 1)

Por Ana Clara Rizério

Foto: Ana Clara Rizério
O Sónar - Festival Internacional de Música Avançada e Arte New Media - foi criado em 1994, em Barcelona, por três produtores que, devido ao enorme sucesso e formato inovador vêm sido realizado em outros lugares do mundo desde 2002.  O festival reúne entretenimento em forma de apresentações musicais, cinema e flertes com a arte New Media, a qual, de acordo à Wikipédia, é um gênero artístico que engloba trabalhos criados com e através do uso de novas mídias, como animação, computação gráfica, artes digitais, internet, etc.

Nos dias 11 e 12 de maio foi realizada a primeira edição do festival no Brasil (em São Paulo) e eu, como adepta da música eletrônica, fã dos festivais de música europeus e, principalmente, espectadora de novos artistas – que são sempre muito bem incentivados pela proposta do festival – não pude perder.  Comprei os ingressos, passagem, coloquei a mochila nas costas e “parti pra capital”.

O line-up do primeiro dia contou com mais de vinte artistas, mas eu já tinha minhas atrações imperdíveis em mente. Seriam elas o James Blake (apresentando um set DJ na abertura do festival), Kraftwerk (apresentando um show em 3D criado para uma retrospectiva no MoMA NY), e Chromeo no palco principal, além do Cut Chemist e Dj Marky com o Patife no palco Sonar Village. O Kraftwerk foi a atração escalada de última hora para cobrir o buraco deixado pela Björk, mas acabou se tornando uma das minhas grandes alegrias de ir ao festival. Além disso, havia outros dois palcos menores (você confere a programação completa aqui).

Com o estômago borbulhando de ansiedade, cheguei no Parque Anhembi por volta de 21h, de carro, com mais três amigos. Logo de cara a surpresa nada agradável no valor de 30 reais por vaga de estacionamento. Mas nós já sabíamos que seria assim, então acabou não se tornando um grande drama.

Como eu havia comprado os ingressos pela internet, saí logo e fui até a fila para retirá-los. Aí sim veio a grande surpresa. Encontrei uma fila que levei mais de 5 minutos contados para chegar ao final e haviam apenas SEIS caixas trabalhando com as retiradas e vendas no momento. Murchei por dentro. Por incrível que pareça, até o website que gerava o voucher dos ingressos (e um código de barras que permitiria a entrada) tinha sido tirado do ar. Loucura. Não demorou muito para que o caos fosse instalado. Não havia sequer uma pessoa ou segurança que pudesse nos fornecer alguma informação. O público automaticamente formou outra fila, exigiu que os serviços fossem separados e iniciaram-se os gritos de protesto e xingamentos, chutes nas grades e tudo o que se tem “direito”, levando os produtores ao completo desespero. Foi liberada a entrada com voucher, mas quem não o tinha ainda teve que esperar (numa fila muito menor, ao menos). O tempo médio de espera era de quarenta minutos, e chegou aos nossos ouvidos que os shows tinham sido atrasados em uma hora e meia por conta da confusão na entrada. Menos mal, ainda assim incômodo.

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Finalmente, ingresso na mão, entrando no festival. Já havia perdido a discotecagem do James Blake e a primeira música do Kraftwerk (que pude ouvir enquanto passava pelas quatro barreiras na entrada e apresentava incansavelmente os documentos), “We Are The Robots”.

O Kraftwerk é uma banda alemã formada em 1970 por dois músicos, Ralf Hütter e Florian Schneider, que trabalharam com muitos outros músicos ligados à música experimental e ao movimento Krautrock até 1975, quando Wolfgang Flür e Karl Batos se juntaram ao grupo, ao que se transformou na formação original. Foram os inventores e percussores do que hoje conhecemos como música Techno, reinventando totalmente o estilo através do uso somente de sintetizadores para a sua execução. Ou seja, são os Beatles da música eletrônica a qual temos acesso hoje, e fizeram tudo isso usando tecladinhos, gravadores de fita K7 e barulhos esquisitos que sampleavam por aí.

O repertório do show nunca é variado (até mesmo porque há tempos eles não lançam coisa nova). Muita gente, principalmente os fãs do Dubstep (que, na minha opinião, poderiam todos explodir juntos, rs), acharam o show um tédio. Realmente, não é o tipo de música dançante que agrada a todos. Mas não deixa de ser impressionante escutar músicas feitas há mais de 30 anos (com instrumentos precários e analógicos) totalmente remasterizadas, digitalizadas e tocadas pelo melhor equipamento. É, realmente, um show para quem sabe apreciar. O que surpreendeu a mim (e ao público, com certeza) foram as projeções em 3D. De um globo terrestre que girava em direção à platéia e parecia saltar para fora do palco, a carros correndo rápido pelas Autobahn alemãs (auto estradas onde não existe limite máximo de velocidade), aos números e códigos em verde escorrendo pela tela num efeito Matrix. Tudo surpreendeu, até mesmo a mim que já os assisti há dois anos com o mesmo repertório.

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Foto: Ana Clara Rizério

Saindo do show, um tempo para respirar, ir ao banheiro e checar a estrutura. Assustadora. A produção de São Paulo conseguiu transformar o Sónar num shopping Center. Lounge da Ellus, tendas da MTV espalhadas por todo lugar, uma garrafa de água por cinco reais e uma fatia de pizza por dez. Acho que ele perdeu um pouco da proposta trazida pelas edições europeias, que é a democratização da música eletrônica e a pura diversão. Pude perceber que a grana tomou conta, o nome do patrocinador estava estampado em todo o lugar. Brindes, marcas, cores... Foi uma mega estrutura, tudo muito caro sem necessidade. E é sempre um custo extra pro consumidor, que já pagou caro só para estar ali. Queria ter visto toda essa grana revertida nas bilheterias, resolvendo a confusão.

Continuando a programação! O show seguinte foi o do Cut Chemist, no palco Village. Cut Chemist é o nome artístico do DJ norte americano Lucas MacFadden, ex integrante da banda de funk Ozomatic e DJ de hip hop do grupo Jurassic 5.

Um show ao qual fui sem expectativas. Dei de cara com influências R&B norte americano e HipHop pesado, com peso de Rock e elementos sombrios, o que serviu para fortalecer bastante o ritmo de sequência do palco (ele seria seguido pelo Doom, um rapper influenciado pelo lado mais dark e denso do HipHop). Entre brincadeiras, fazia switches e operava as pickups de costas, fazendo o público gritar. Qualidade indiscutível.

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Na sequência veio o Chromeo no palco principal (foi uma das bandas mais difíceis de baixar o material pela internet, então eu quase não conhecia nada a respeito da banda). Duo musical entre P-Thugg (teclados e sintetizador) e Dave 1 (guitarra e vocal). Produzidos por nomes importantes como Tiga e A-Track (esse último parte do Duck Sauce, autores do hit “Barbra Streisand”), já lançaram 3 discos e sua música é famosa por popularizar ritmos como Funk e Pop oitentistas nos dias atuais.

E que pancada. Impossível ficar parado. Os sopros e sintetizadores, além da percussão completamente inusitada (dividida pelos dois numa estrutura de palco muito divertida) são comichões que te fazem rebolar, e MUITO! Misturam elementos eletrônicos e letras atualíssimas (como na música Gangsta, por exemplo) a um ritmo famoso por não deixar ninguém parado, à nata do funk music. É o tipo de música que não pode faltar em nenhuma caixa de som.

Por último, mas não menos importante, veio o duelo entre DJ Marky e DJ Patife, difusores internacionalmente conhecidos do Drum’n’Bass produzido no Brasil (aquele ritmo gostoso usado pela Fernanda Porto em músicas como Sambassim (produção, inclusive, do próprio DJ Marky). São muito conhecidos também por suas técnicas de Scratch, efeito que consiste em mexer o vinil na vitrola durante a música, causando um barulho de arranhão.

Os caras são reis, sabem o que fazem. Assisti e participei de uma multidão que dançava e pulava sem parar no ritmo acelerado da batida, e urrava a cada switch e música nova. Pude assistir, finalmente, a um dos meus ídolos de vida, daqueles que a gente compra, aos 12 anos, um CD no hipermercado, e escuta até que ele crie outro furo. Senti naquela batida os motivos pelos quais me interessei pela música eletrônica. Pulei, dancei. E aí entraram os acordes de “Carolina Carol Bela”, sua música de trabalho. “E ela mora no meu peito...” Me emocionei. Valeu, Sónar, que experiência! Amanhã tem mais.

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