"Ela vai dançar"

Por Thaís Pimenta

Foto: Luíza Audaz

As pequenas mesas de madeira, típicas de barzinho, que em dias normais compõem o espaço de dentro do Xamparia Music Bar, naquela noite estavam desmontadas. Alocadas no canto da parede, abriam espaço para uma nova proposta de som alternativo, o "Vitrolada Cultural", um dos projetos da Miscelânea Produções Culturais. O espaço, geralmente destinado à voz e violão, cedeu lugar, nessa última quinta-feira (24), para uma banqueta usada como suporte para o notebook, uma mesa de áudio para discotecagem e um pequeno jogo de luzes ao chão. No comando dessa experiência sonora estava a apreciadora e estudiosa da música popular brasileira , Renas Barreto, idealizadora do projeto.

O Xamparia Music Bar, localizado na Rua João Pessoa no centro da cidade de Vitória da Conquista, reúne, toda sexta e sábado, um público que além da cerveja procura uma boa música e entre um gole e outro, apreciam MPB. Porém, as noites de quinta-feira não eram exploradas. Deste modo, Renas Barreto teve um saque genial e apresentou a proposta à Vandet Rosário, proprietária do estabelecimento. A vitrolada tem como objetivo primordial mostrar que há sim música brasileira dançante com conteúdo: “Sentia falta de um espaço assim aqui em Conquista, com essas músicas. Então, pensei em fazer o que eu gostaria de ouvir, pensei em um dia na semana que a gente possa dançar e curtir essa boa música brasileira, de A à Z, desde a década de 50 até agora, mas  que sempre tenha um conceito, uma ideologia”, afirma Renas.

Para abrir a noite, “Quando você apareceu”, poema de Alice Ruiz, seguido da voz de Katia B que começou a soar Xamparia adentro com “ Só deixo o meu coração na mão de quem pode.”  A segunda música a ser tocada, “ Boa Hora”, da banda Fino Coletivo, exprimia o que eu e talvez os outros freqüentadores assíduos do Xamparia estávamos pensando: "Boa hora para  a proposta do Vitrolada Cultural, boa hora para se escutar música de qualidade".

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Foto: Luíza Audaz

Renas Barreto é geógrafa e especialista em Ciências Socias. Quando ainda morava em Minas Gerais fazia algo parecido: montava um set e reunia os amigos da Universidade Federal de Uberlândia - UFU, onde dava aula, para curtir diversas fases da música popular brasileira. Na noite de quinta-feira, no Xamparia, o repertório preparado por Renas visitou vertentes como Rock, Samba Rock, Soul, Reggae, Forró e Samba de Raiz. Tom Zé, Jorge Ben, Eddie, Criolo, Tim Maia, Bezerra da Silva e Rita Lee foram alguns dos nomes que estiveram presentes no set . Dentre tantas brasilidades houve espaço também para a música latina, por exemplo, Orishas e Manu Chao, sempre utilizando como fundamento para sua escolha, músicas com um sentido ideológico por trás da composição. “Quando se trata de tocar alguma música que tem um outro linguajar, seja em espanhol ou na língua inglesa, também  penso nessa questão do que elas propõem, a reflexão que pode trazer”, explica.

Nome conhecido dos festivais de música de Vitória da Conquista e dos barzinhos da cidade, o cantor e compositor Ítalo Silva  acredita que a proposta do "Vitrolada Cultural" é super válida e precisa. “É uma proposta para nos divertir, interagir com essa loucura que é a noite e ao mesmo tempo viver os valores que essas músicas trazem. Ainda mais se for analisada  com essa seriedade que Renas fez, de reunir uma gama de diferentes estilos musicais em  uma noite só”.

Foto: Luíza Audaz

No fim da noite, aqueles que haviam chegado vestidos com casacos, os amarraram na cintura ou deixaram pelas cadeiras, sinalizando que a proposta de fazer todo mundo dançar deu certo e fez a a temperatura da noite subir. Até mesmo Vandet não ficou fora dessa e pela primeira vez na história do bar foi vista remexendo as cadeiras. E eu? Ah, eu saí de lá me sentindo a menina de Eddie, aquela menina que balança, que vai dançar a noite inteira e cantar todas as músicas.

O Projeto Vitrolada Cultural continua todas às quintas-feiras,  no mesmo local, das 19:00 às 23:00 hrs