quarta-feira, 30 de maio de 2012

"Não temos medo de onça, nós somos muitas onças"

 Por Ana Paula Marques


Foto: Lucas Dantas
Por voltas das 11h30 dessa quarta feira, 30 de maio de 2012, o Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA - da zona rural de Vitória da Conquista declarou ocupada a agência do Banco do Brasil, localizada na Praça Barão do Rio Branco. Com gritos de guerra, faixas, bandeiras e violões, os camponeses reivindicavam uma solução para o endividamento e abertura de créditos para as famílias, abertura essa que, segundo os militantes, foi impedida há algum tempo pelo gerente do banco, Valdir Canguçu.  A ocupação também fez parte da Jornada Nacional de Luta Camponesa que está acontecendo em todo o Brasil até  de junho, na qual os camponeses estão realizando diversas intervenções com o objetivo de reafirmar o compromisso de luta com o campesinato e com os trabalhadores urbanos e principalmente cobrar ações do estado brasileiro para a garantia e fortalecimento da produção de alimentos no campo. Deste modo, gera-se renda para as famílias camponesas e o abastecimento para as famílias da cidade torna-se mais saudável.

Momentos depois da declaração de ocupação feita por um dos líderes do Movimento, cerca de oito policiais militares chegaram ao local, causando um pequeno tumulto. Os manifestantes procuraram conversar e explicar a situação aos PMs, os quais permaneceram no local armados e até então, mantiveram um diálogo, pedindo  que não houvesse nenhuma agressão ao patrimônio público por parte dos militantes. Segundo Edelson Moreira, um dos representantes do MPA em Vitória da Conquista, estão acontecendo manifestações a nível nacional e estadual. “Ontem tivemos manifestações no estado em dois espaços: na Receita Federal de Conquista e no norte ocupamos a Embasa. Nossa pauta aqui no estado é discutir políticas públicas para o campesinato, pois há algum tempo estão sendo feitas apenas medidas emergenciais que não têm solucionado os problemas dos agricultores”, disse Edelson, se referindo ao problema da seca que o estado sofre atualmente.


Foto: Lucas Dantas
Dentre as reivindicações estaduais, as principais são: água de qualidade para as comunidades e a criação de um programa que contemple as etapas de produção e reabertura das escolas rurais com adaptação dos currículos escolares utilizando pedagogias compatíveis com a realidade camponesa. Nacionalmente os camponeses lutam pela solução definitiva do problema do endividamento agrícola, pela criação de um programa massivo de transição para a agroecologia, com crédito apropriado, políticas de comercialização e logística para insumos agroecológicos, reconhecimento e criação de um programa público que pague os serviços sócio ambientais realizados pelas famílias camponesas, ligação imediata de energia para as famílias cadastradas no Luz Para Todos, criação de mecanismos para reações emergenciais de problemas de catástrofes ambientes, entre outros.

Em meio à gritos de  “Aha, uhu, fora Canguçu!”, os manifestantes, inclusive crianças e idosos, abriram rodas de coco de embolada e cantaram modinhas acompanhadas pelo violão. “Queremos solução, polícia é pra ladrão” ecoou na agência a partir do momento em que os seguranças impediram a utilização dos banheiros pelos camponeses, que logo revidaram, fazendo com que o policiais intervissem mais uma vez. Uma ameaça aos estudantes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), que estavam ali presentes apoiando o movimento social, partiu do Tenente Pedro Alberto, que disse que os estudantes pagariam pela responsabilidade. 


Foto: Lucas Dantas
Quase duas horas depois, a situação foi parcialmente resolvida. Os manifestantes conseguiram firmar um acordo com o banco, o qual propôs que as famílias voltassem na agência para regularizarem suas situações, pagando 3% do valor de suas dívidas, podendo então fazer um novo crédito através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf somente após outros 20% restantes estiverem devidamente quitadas. Contudo, o Banco do Brasil, se propõe a financiar os créditos do Pronaf somente para o monocultivo da mandioca e o movimento entende toda e qualquer monocultura como prejudicial à agroecologia. Dessa forma, os camponeses permanecerão mobilizados, promovendo intervenções e espaços de formação política durante toda a semana em vários lugares da cidade.

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