Por
Mariana Kaoos e Lucas Oliveira Dantas
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Foto: Thaminy Brito |
Com um
nome que foi passado de geração em geração dentro da família e que remete aos
primórdios da mitologia grega, Achiles Neto, quando criança, sempre participava
dos desfiles cívicos referentes ao Sete de Setembro, o Dia da Independência do
Brasil. Por conta da pele morena rosada e do cabelo de cuia (que possuía até
então) ele sempre saia fantasiado de índio, representando assim uma parte da
cultura que nos compõem e nos torna brasileiros.
Mais de
dez anos se passaram e lá estava Achiles, pintado de índio no intuito de
representar um pouco da inocência e da vida de sonhos de quando se é criança. A
noite era do lançamento do seu primeiro disco, em parceria com Marcus Marinho,
intitulado Pandora. Achiles explica que o nome foi uma escolha mais de
Marquinhos, que gostava muito de uma banda de heavy metal chamada Pandora.
“Essa escolha em especial acaba mostrando um pouco do que nos propomos a fazer,
que é não classificar e ter que se adequar em um estilo musical. É saber
perpassar por todos e transformar isso numa coisa só”, afirma. Para a surpresa
da grande maioria do público, isso pôde ser confirmado logo no inicio do show,
quando, após cantar uma música mais calma, Achiles e sua banda, composta por Bruno
Silva no baixo, Tarcísio Santos na guitarra, Date Sena, percussão, Júnior
Andrade, bateria, e Marcus Marinho no violão, lançaram um “Chega de
Saudade”, hino da bossa nova, numa versão bem rock ’n’ roll.
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Foto: Thaminy Brito |
Achiles
é de uma geração de novos artistas conquistenses que têm movimentado a cena
musical da cidade de “dentro para fora”: todos são jovens com um público
específico formado, geralmente de amigos e conhecidos, mas que aos poucos
evoluem em termos de audiência, conseguindo uma base de apreciação cada vez
maior e mais diversa. Isso pôde ser notado na estréia de A Caixa de Pandora,
onde na platéia do Centro de Cultura via-se, além de amigos e familiares,
admiradores e parceiros, especialmente do meio acadêmico e da elite intelectual
da cidade.
Com um
ingresso a preço de custo (R$4,00 meia entrada), o público foi se acomodando
aos poucos no teatro que contava com um cenário composto por baús e “bolas” em
tons amadeirados e brancos. Tereza Raquel, executiva da Produções Pedrada
(produtora que esteve a frente do evento) afirma que a criação da Caixa
de Pandora se deu de maneira coletiva. “Nós contamos com Luana Couto na
idealização do cenário e Tadeu Cajado na colaboração. Além disso, tivemos o
privilégio de trabalhar com Wandick e Paulo Cézar na iluminação. A gente já
vinha criando uma linha de produções mais voltadas para o dancehall e ragga.
Produzir um artista do porte de Achiles, que pra gente é completo, foi um
grande desafio por tentar corresponder às expectativas dele, às do público e às
nossas também.”
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Foto: Thaminy Brito |
Talvez
por ser a estréia, o show começou de maneira desengonçada, com espaços longos
dentre as canções do setlist. A abertura, realizada por Geslanei Brito, com a
leitura de texto em homenagem à estrela do show, pareceu fora de lugar, apesar
da beleza do que fora dito pelo legendário músico conquistense, por conta
desses silêncios que marcavam a cadência do show. Em conversa com O Rebucetê,
Geslanei comentou que sua relação com Achiles Neto e Marcus Marinhos se deu,
inicialmente, pela surpresa em se deparar com artistas tão jovens e maduros.
“Eu tomei um choque ao ouvir Agonilia, por exemplo, por identificar tanta
filosofia e angústia numa letra. A procura de Achiles e Marcus de perceber as
coisas, de querer transmitir arte de uma forma mais agradável, de uma maneira
que alcance a todos, é louvável”, comenta. Algumas tecnicalidades - como
uma fumaça de gelo seco impiedosamente fedida e uma iluminação que pouco
dialogava com a dramaticidade de algumas músicas - também incomodavam o
desenvolver do show, mas duas coisas muito importantes suplantavam esses
defeitos técnicos: a competente banda de Achiles e o artista em si.
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Foto: Thaminy Brito |
Se ele
parecia nervoso no começo do show, ao longo do repertório, sua comunicação com
o público ia relaxando, com falas menos longas e mais pontuais sobre o trabalho
que era apresentado. Enquanto o show “A Caixa de Pandora” necessitava de uma
direção de palco mais presente, o artista que o apresentava parece estar no
topo do jogo. Um intéprete impecável, Achiles Neto emocionou a platéia com
carisma e uma habilidade vocal de tirar o fôlego. O ponto alto do show foi a
sua interpretação para “Cocoa”, que afirmou ser “uma música encomendada por
Marquinhos para falar da região de onde ele veio, de Ipiaú, no sul da Bahia”.
Achiles finalizou o espetáculo repetindo a música de sua autoria “João do BNH”
e a composição de Gonzaguinha imortalizada pela voz de Maria Bethânia, “O
que é o que é”. O público muito comovido levantou-se e foi dançar na frente do
palco.
Excelente, a matéria.
ResponderExcluirAbração à galera do O Rebucetê!