Mariana Kaoos
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Uma das coisas que mais me chamou a atenção em São Paulo é
que quando você vai ao cinema, ao museu ou ao teatro, você tem lugar marcado
para sentar e isso é respeitado por todas as pessoas. Pois bem, no dia 13 de
junho o Teatro Sergio Cardoso, localizado no bairro italiano Bixiga, deu início
ao Cena Brasil Internacional, festival de teatro que, após uma temporada no Rio
de Janeiro, trouxe a sua programação para a capital paulista e para Lorena, cidade
do interior do estado.
Chego na portaria esperando a rebuceteira Maria Eduarda e
logo me deparo com Ana Clara Rizério, que trabalha na produção do festival.
Linda, com sapatilha de oncinha, cabelos vermelhos desbotados e um crachá no
pescoço com sua foto, Clarinha sorri e vem me abraçar. Entre tragos de cigarro
marlboro light, deixa-se confessar o quanto está feliz e realizada com essa
correria do festival. "No Rio nós realizamos o Cena Brasil em quatro
espaços na cidade. Foi muito trabalho, mas o público nos recepcionou de uma
ótima maneira. O grande lance desse festival é que trabalhamos com quinze companhias teatrais do mundo todo e todas elas oferecem workshops umas às
outras. Então para mim que estou na produção, é um aprendizado muito grande
participar dos processos de composição do espetáculo e dos próprios
atores".
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O Cena Brasil Internacional tem como patrocinador o
Ministério da Cultura e o Banco do Brasil, que nos últimos anos vem oferecendo
um apoio financeiro a diversas manifestações culturais. De acordo com Wagner
Vasconcelos, representante do Banco do Brasil, existe uma série de critérios
para o apoio a essas iniciativas: “Sempre temos elementos nos quais nos
apoiamos como qualidade, fomento, formação de uma nova platéia para o teatro.
No caso desse festival é uma troca de linguagens entre os grupos , ou seja,
algo que ultrapassa o palco. Queremos agregar isso a experiência coletiva em
diversos níveis”, diz Wagner.
Muito simpático, de brinco de ouro na orelha, o coordenador
de produção, Carlos Chapéu, afirmou que o objetivo do Cena Brasil Internacional
é fomentar a arte a um preço acessível e com qualidade. “A curadoria do
festival procurou expandir a diversidade de espetáculos mostrados aqui. Outro
ponto que priorizamos foi a viabilização dos ingressos para o público, até
porque é inadmissível um projeto que tenha apoio do governo colocar uma entrada
com alto custo”.
O ato em si
Passada a euforia, subimos em direção ao teatro. Com meu
ingresso marcando a poltrona D14, dei sorte, pois a única cadeira que não
estava ocupada era justamente a da minha frente, possibilitando assim, uma
visão melhor do espetáculo. As luzes se apagaram, um dos coordenadores
culturais do Banco do Brasil deu as boas vindas e logo após o silêncio se fez
absoluto.
Luzes se acedem mostrando uma sala de estar. Sofá, mesa azul
com cadeiras, abajour, telefone, um vinho e cigarros. Um homem nú, em pé, alisa
a cabeça de um outro homem nu de quatro, com uma bola na boca. O público deduz
que ele representa um cachorro. Balança a perna como se estivesse abanando o
rabo. "Vamos embora, não há mais nada para a gente aqui", diz o homem
em pé. O outro homem nu que representava o cão levanta-se, coloca um chapéu de
caubói e começa a cantar um clássico americano, dando a entender que a cena
mudou. Agora ele é homem, agora ele é o pai.
As cenas iniciais da peça "Isso te Interessa", da
Companhia Brasileira de Teatro, parecem meio confusas. O roteiro propõe uma
interação entre ato, história e narrativa, o espetáculo parece turvo à primeira
vista, mas passado o estranhamento, o expectador logo se envereda pela forma
como a trama se passa. A história contada não é nada muito impressionante,
aborda o universo familiar e seus dramas cotidianos entres três gerações
sucessivas. O que realmente surpreende é o formato dos atores em cena. Todos
permanecem pelados até o fim da peça assim como também passam pelo cachorro da
família e falam as falas dos outros personagens, assumindo uma posição de
narradores.
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O ator Ranieri Gonzales, que dá um show de interpretação e
cantoria, explica que isso foi uma imposição da autora, Noelle Renaude. "O
espetáculo é bem técnico e todos temos que realizar quatro coisas no palco que
é fazer a narrativa, contar a historia, viver os personagens e não colocá-los
de maneira forte, apenas anuncia-los. A única coisa que a autora pediu foi
isso, que fizessemos ao mesmo tempo cachorros, pais, mães e filhos”. Quando
indagado sobre o nu, ele acrescenta, “nós, junto com o diretor Marcio Abreu, fizemos quatro figurinos para o espetáculo, mas percebemos que eles não
levariam o texto e a família ao lugar que queríamos chegar. O nu não é algo
novo no teatro, mas conseguimos alcançar as nossas expectativas através dele.
Geralmente as pessoas que nos assistem se habituam ao não figurino, chegando até a nos ver de roupas”.
A Companhia Brasileira de Teatro nasceu em Curitiba, em
1999, através do diretor Márcio Abreu, que tem como base a pesquisa teatral,
criação de espetáculos e formação de público. A peça "Isso te Interessa?" conta
com os atores Giovana Soar, Nadja Naira, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini e
tem uma duração de 45 minutos, embora pareça como dez tamanha genialidade do
que é mostrado.
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