quarta-feira, 27 de junho de 2012

Por isso ninguem vê minha sacola


Mariana Kaoos

Foto: Divulgação.
Há exatamente um ano, aqui, em Vitória da Conquista, estudantes do curso de comunicação social da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia se aglutinavam aos fins de semana para discutir sobre os posicionamentos da atual mídia hegemônica, bem como de possíveis soluções e meios para transformar a comunicação do país. Para a grande maioria, foi o primeiro contato com essas ramificações da comunicação, como o debate sobre a democratização da mesma, a qualidade de formação do comunicador, um estudo mais ampliado sobre as opressões, dentre varias outras coisas. As tais reuniões demarcavam não só um fluxo de consciência maior acerca da realidade do país, mas uma apresentação a temas que seriam abordados mais adiante, no Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecom) que, naquele ano, 2011, aconteceria em Belém do Pará.
Esses estudantes de Vitória da Conquista enfrentaram dois dias de viagem num micro-ônibus que apitava quando o motorista ultrapassava os 100km/h. Sem banheiro, parando de posto em posto, o jeito era não tomar banho, comer biscoito recheado e aguardar a tão esperada chegada na terra do carimbó. E assim foi, o ônibus parou por volta das 5 horas da manhã na Universidade Federal do Pará. Os estudantes, com muito calor, foram recepcionados pela comissão organizadora do evento e logo se alojaram numa das salas, com o ar condicionado quebrado.

Durante uma semana, aquela sala, bem como o resto da universidade, era o local de moradia não só daquelas pessoas que vieram da Bahia, mas de todas as outras delegações, dos quatro cantos do país, que foram chegando aos poucos. Tinha gente de Alagoas com seu sotaque engraçado e também de Sergipe, sérios a primeira vista, mas cheios de poesia para oferecer. Tinha gente do Mato Grosso que, mais adiante viraria lenda pela forma de se vestir e também tinham lindas moças do Rio, nos fazendo lembrar aquela música chamada “Ela é carioca”, que um dia o maestro Tom Jobim tocou em seu piano. A sensação que o encontro oferecia era de que aquilo tudo era um universo paralelo, regado a coletividade e ideologias, a curtição, a sérios e intensos debates e, principalmente, a união. É claro que tensões políticas e estranhamentos também caracterizaram aquela semana, mas foi algo facilmente descartado se comparado às gratificações causadas ali. Embora muitas daquelas pessoas estivessem se vendo pela primeira vez, os elos criados foram fortes o suficiente para perdurarem até os dias atuais.

Passado um ano, novos estudantes que compõem o curso de comunicação social da Uesb e de todo o Brasil se reúnem em pré-encontros para um novo Enecom. Dessa vez o “bat-local” será Brasília, mais especificamente na Universidade de Brasília (UNB), entre os dias 13 a 20 de julho. Tendo como base o debate da democratização da comunicação, o Enecom 2012, traz o tema “A voz do oprimido está no ar”. O encontro está sendo construído por estudantes de todo o país que acreditam ser possível uma nova roupagem para os tradicionais meios de comunicação. Espera ai, eu disse nova roupagem? Na verdade, o que a maioria desses estudantes procura é, através do embasamento teórico e de práticas consolidadas (mesmo que ainda pouco exercitadas), fazer uma revolução dos meios, com uma linguagem popular e poder na mão das massas. Ousado, não?

Sim, ousadíssimo, mas a maioria das grandes e boas ideias também são. O Enecom bate às portas dos cursos de comunicação do país, convidando todos os estudantes para uma percepção diferenciada das já estabelecidas por aí, para muita festa (as culturais são sempre as melhores), muitos encaminhamentos e muita consciência do papel de cada um nessa sociedade que compomos. Na certa, aqueles mesmos estudantes baianos que saíram aos prantos de Belém, emocionados, extasiados, acreditando ser possível transformar as coisas de acordo com seus sonhos, chegarão sorridentes em Brasília constatando que bem aos pouquinhos, mas com muita força, parte desses sonhos já está se tornando realidade.

Eu caio de bossa.

Viva a rapaziada!

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