Por Mariana Kaoos e Rafael Flores
Foto: Rafael Flores |
OR: Desde a primeira gestão do
Governo Jaques Wagner houve um processo de descentralização muito grande dos
editais de produção cultural da capital para o interior. Essa política tem
funcionado e quais são os principais resultados desses editais?
AR: Olha, eu prefiro não dizer que seja política de interiorização, pois não se trata apenas de ir para o interior. Se trata de ir pra determinados territórios aonde as políticas não chegavam, esses territórios às vezes são na própria na capital. As políticas culturais se concentravam em alguns lugares da cidade de Salvador e em poucas cidades do interior. Um vasto território da Bahia e dentro da própria Salvador não tinha acesso às políticas culturais. Então eu acredito que essa política é corretíssima. Nos últimos anos chamamos a política de “territorialização". Nós temos todo compromisso com ela e acreditamos que dará bons frutos. Inclusive estamos discutindo toda uma política de editais, estamos levando em conta muito a questão da “territorialização”.
OR: Nós estamos percebendo ao
longo dos anos que o carnaval de Salvador vive um momento de crise de
identidade cultural, com a super exploração dos camarotes em lugares públicos e
o aumento dos blocos de corda. Qual a colaboração que a Secretaria de Cultura oferece
para que esse carnaval seja repensado?
AR: Veja bem, a SECULT já oferece
apoio efetivamente. As nossas propostas para o carnaval são fundamentais para
fazer com que ele seja da diversidade, agregando a todos os públicos. Tudo tem
levado o carnaval da Bahia a se tornar monotemático, excluindo muitas
alternativas, muitos tipos de música e muitas formas de viver esse carnaval.
Queremos que o carnaval seja diverso, que contenha várias coisas e que as
pessoas possam escolhê-las. Porém, a festa não é uma atribuição da Secretaria
Estadual, ela é pensada e realizada através do governo municipal, é uma atribuição
da cidade de Salvador. A Secretaria Estadual optou por entrar nisso com programas
a favor da diversidade, então nós temos o "Carnaval Pipoca", privilegiando o
folião pipoca, o “Carnaval Ouro Negro”, privilegiando os blocos afros, os quais
possuem uma dificuldade imensa de entrar no circuito por falta de patrocínio e
financiamento. Temos o projeto “Outros Carnavais”, voltado para as cidades do
interior. Esse ano apoiamos e implantamos ele na cidade de Maragojipe. E por
fim, temos o “Carnaval do Pelourinho”, assumido inteiramente pela Secretaria.
Agora em 2012, realizamos no Pelourinho uma homenagem a Luiz Gonzaga, uma
homenagem a guitarra baiana, tivemos shows de samba e blocos abertos por todo o
centro histórico. É dessa forma que contribuímos, acreditando que enquanto
pudermos ajudar a transformar o carnaval em festa popular, nós iremos fazer.
Esse festejo totalmente voltado para determinadas linhas e excluindo outras se
torna uma péssima opção.
OR: Partindo da sua experiência e contribuição com o curso de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como o senhor analisa a grande quantidade de cursos de Comunicação em faculdades públicas e particulares na Bahia?
AR: Olha, eu sai da Facom ( Faculdade de Comunicação da UFBA), mas agora sou professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências - Professor Milton Santos, o qual vem com experiências multidisciplinares, com essa coisa nova. Então eu acho que houve proliferação, o que foi importante, mas tem seus lados negativos também. A proliferação dos cursos de Comunicação foi importante pela democratização dos cursos, ampliação do número de pessoas com acesso aos cursos. A dificuldade é que a área foi se consolidando, se institucionalizando muito e por exemplo ela vem perdendo a relação com a cultura. Eu acho isso muito ruim para as áreas de comunicação. Houve uma política deliberada de separar comunicação de cultura, eu acho uma asneira esse negócio. E claro, tem uma parte da proliferação que é complicada porque no governo FHC houve uma ampliação das escolas privadas e aí era só uma questão de caça níquel, porque era uma área que tinha muitos alunos.
OR: Há pouco tempo ocorreu o
Festival da Juventude na cidade de Vitória da Conquista, no qual o senhor
compôs uma mesa. Qual a possibilidade da Secretaria de Cultura estimular
festivais como esse em outros lugares do estado?
AR: Olha, produzindo é meio complicado. Nós produzimos pouquíssimas
coisas diretamente. Fizemos um evento em Feira de Santana e em Salvador, que
celebrou a cultura do sertão, mas mesmo assim o nosso objetivo é tomar a frente
do projeto somente esse ano. Ano que vem queremos entrar apenas com o apoio, deixando
a produção nas mãos da sociedade civil. A nossa ideia é incentivar áreas novas
e apoiar coisas que achamos importantes para a cultura do estado. Produzir é
mais complicado. Estimular para que aconteça nós temos todo interesse do mundo.
Em relação ao Festival da Juventude, a Prefeitura Municipal é que é a mãe desse
evento, mas não restam dúvidas de que seria importantíssimo outras cidades da
Bahia estarem realizando eventos como esse, dedicando espaços assim para a discussão
da juventude, que é fundamental. Os jovens têm um peso enorme na cultura
brasileira, é preciso que temas que abordem essa juventude sejam abordados em
todo o país.
OR: O senhor considera a
juventude de hoje apática no que diz respeito ao espírito político?
AR: Olha, não sei se a juventude é apática politicamente. Ela tem formas de fazer política diferente das juventudes anteriores. As características da minha juventude, por exemplo, era uma política dentro dos partidos, do movimento estudantil. Acredito que a forma mais intensa que a juventude atual segue é em outras instâncias, de outras maneiras. Hoje em dia, a forma de se fazer política perpassa um caminho mais cultural, porém, não menos poderoso.
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