terça-feira, 12 de junho de 2012

Sobre um romance que tive

Por Murillo Nonato

O coração vinha a boca, a mão suava, garganta seca. Me sentia ridículo, estúpido. O amor deixa a gente ridículo e estúpido. Alguém quer contestar? A cada encontro "ocasional" nosso por mim premeditado, todas essas sensações invariavelmente se repetiam. 

E foi num desses encontros premeditadamente ocasionais que o convidei para ir a minha casa. Coração na porta da boca, mãos suadas, garganta seca... O tempo parecia andar em slown motion. "Merda, ele vai dizer não, vai inventar alguma desculpa", pensei. Foi um "tudo bem" que ele me respondeu. Um "tudo bem" despreocupado e calmo.Garganta seca, mãos suadas, coração na boca... e agora? "Merda, ele aceitou". A resposta positiva só fizeram com que os sintomas da "paixonite aguda" se agravassem. Sentia os músculos se flexionarem, as pernas bambearem... Novos sintomas. O amor é uma doença crônica. Resolvi relaxar e me entregar as sensações. Pronto, eu era somente sensações, estava a flor da pele, entregue aquele romance que eu não sabia onde podia me levar - Mentira, eu sabia. Só não me importava com aquilo no exato momento - Eu era apenas sensações, irracional.
Ao adiantado da hora, marcado no dia do encontro, as minhas mãos suavam, o coração se encontrava atolado na minha garganta que já estava totalmente seca. Eu me sentia completamente estúpido e ridículo. Bem, só até a a campainha tocar - Mentira, ele gritou, meu interfone estava quebrado - Após aquele toque eu era pura sensações, estava a flor da epiderme.

Tudo muito infantil. Os olhares, o sorriso bobo, os gestos. Nunca senti que um sofá fosse tão grande. Parecia que tinha toda uma avenida nos separando. E fomos nos aproximando. Perto, mais perto, ainda mais perto. Deitei minha cabeça no ombro dele. Sua respiração era gostosa. Eu erguia meus olhos, ele me observava, nossos olhos se encontravam, a luz dos olhos meus na luz dos olhos dele, como escreveu Vinícius. 

Levantei, coloquei minha mão em seu rosto, contemplei seu belo sorriso e lancei minha boca na direção da dele. Nos beijamos. Um beijo bom, daqueles apaixonados e com um leve sabor de café no final. Passadas horas que mais pareceram minutos que se atropelavam, a despedida: "Tchau", eu disse. Com um expressão um tanto indignada na face, ele retrucou: "Tchau nada, até logo". Meus olhos brilhavam. Era esperança de uma mudança devastadora e excitante que poderia atingir a minha vida.

Os dias que se seguiram foram de puro gozo e alegria. Ele reacendeu em mim a chama que há muito havia se apagado, fez com que minha vida recuperasse o sentido e eu voltasse a sorrir toda vez que abrisse a janela para receber os raios de sol do novo dia que me convidava para sair de casa e ser feliz mais um tantinho. A vida não podia ser mais prazerosa.

Bem... Mentira! Isso não aconteceu. Isso era o que deveria ter acontecido, mas você sabe que finais felizes só existem em filmes que insistimos em ver para comparar com as nossas vidas reais e perceber como somos infelizes pois não temos um romance ideal. Eu vou contar a vocês o final como foi de verdade, o final que ecoa nas vidas fora dos setes de filmagem: 

Os dias que se seguiram foram de puro ardor agonizante no peito. Ele apagou em mim o último resquício de chama que há muito eu tentava manter acesa, fez com que a vida perdesse o pouco de sentido que ainda conseguia atribuir. Fez com que eu fechasse as janelas para não entrar os raios de sol do novo dia que me repelia e me fazia querer continuar na cama. A vida não podia ser mais desgastante. Era como aqueles maridos que saiam de casa com a desculpa de ir buscar um fósforo e nunca mais voltavam.

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