domingo, 24 de junho de 2012

Diário de Bordo: Plongé em Black Gold*

Por Luiza Audaz

Colaboração: Indira Curcino

A estrada que comecei a desbravar na última quarta-feira (20), de Vitória da Conquista rumo à 7º Mostra de Cinema de Ouro Preto nas Minas Gerais, já inspirava, em todo seu percurso, um sentimento que, até então, achava apenas ser uma questão relativa à proximidade geográfica que há entre Conquista e Minas. Sempre ouvi pessoas comentando sobre o sotaque diferenciado que temos em nossa cidade, em relação às outras regiões da Bahia, e sobre um “quê” mineiro nessas terras próximas à divisa, mas ao tempo que a paisagem surgia ao longo da viagem e o clima frio e nostálgico das cidades ia se revelando, sentia que havia algo muito mais vívido entre o povo do sudoeste da Bahia e esta terra mineira.

De fato, depois de 14 horas de viagem com a turma do curso de Cinema e Audiovisual da UESB, chegamos de manhã, quinta-feira (21), na República Manicômio em Ouro Preto e, depois de uma troca de palavras com nossos anfitriões, já percebemos a surpresa estampada na cara dos mineiros que suspeitavam sobre nossa baianidade.


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Tudo aqui suscita, pelo ar imperial, uma lembrança constante de um passado tão marcado em cada ladeira, em cada fachada, em cada beco que nos convida a desbravar os percursos desta história. Mais especial ainda, é prestigiar neste clima um circuito alternativo de cinema, inaugurando em nossa primeira noite em Black Gold* uma erupção de encontros entre as produções cinematográficas brasileiras de todo Brasil com o público que lotou o centro de Convenções de Ouro Preto na abertura.

Este ano, a Mostra tem como tema a conservação e os desafios do cinema com as novas mídias. A noite iniciou com homenagens a três grandes nomes do nosso cinema: Gustavo Dahl, Roberto Farias e Reginaldo Faria, seguidas da exibição do penúltimo filme do cineasta Roberto Farias, “Pra Frente Brasil”. No imenso Galpão Bar Show, que abrigava a festa pós CINE OP, ouvia-se o burburinho apressado dos mineiros; as pessoas iam chegando em bando, vez por vez, e em pouco tempo tomaram conta de todo o ambiente. À espera da primeira atração da noite, a banda 'Acúrdigos' - um grupo de amigos ouropretanos que fazem música juntos há mais de dez anos com repertório que vai de samba-rock ao jazz, passando pelo rock, reggae e world music.

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As mesmas ladeiras que cortam a cidade de uma ponta a outra são a melhor forma de conhecer pessoas e se encantar pela arquitetura barroca;  o bucolismo nostálgico que envolve a atmosfera ouropretana reuniu-se à nossa vontade de descobrir. Acompanhada dos amigos Indira Curcino, Suca e Edu Luz pude conhecer e reconhecer a beleza dos encontros nas tantas portas pintadas de lugares que se abrem nas entranhas dessa cidade.

Depois de um dia cheio de surpresas e andanças, chegamos em nossa “casa” (a República Manicômio foi fundada em 1974 e abriga 16 estudantes universitários e confirma a tradição das repúblicas mineiras) prontos para a festa de recepção para os baianos, organizada pelas figuras que aqui nos receberam tão bem.

Popeye, 100 Pirigo, Ovelha, 100 Problema, Du, Lagartão, Bola 8, Sr Creysson, são alguns moradores da república que já nos esperavam com o som armado, mas a surpresa é que nós faríamos o show, com violões e microfones plugados a grande casa barroca com 10 quartos, grandes salas, lareiras, pasto, quintal com palco e uma vista linda do andar de cima para a cidade, ficou pequena quando Edu Luz iniciou a noite trazendo lá do sertão da Bahia o forró e o xote que tanto nos fazem sentir saudade do São João. Eu, que não resisti, também toquei as músicas que trazem vibrações dos nossos doces bárbaros para o palco. A festa que ainda contou com discotecagem e uma setlist funckeada animou a casa e fechou nossa noite com o gostinho de quero mais.

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Seguimos, pois, nosso curso de viagem indicando um curta que tivemos oportunidade de assistir na tarde do dia 22 sexta-feira no Centro de convenções e que nos deixou animadíssimos e cheios de ideias para o diário de bordo em audiovisual que está sendo produzido. Eu, Zumbi, de Alexandre S. Buck Experimental, foi realizado por uma galera do Espírito Santo e chocou a todos com uma história que mistura ficção e falso documentário e que vocês poderão assistir abaixo.


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Ainda teremos muitas notícias para mandar, a cidade está fervilhando de manifestações culturais e turistas. O convite é sempre para observar em cada luz que se acende nos bares, repúblicas, salas de cinema e festas, as tantas cores que vamos adquirindo nesta experiência maravilhosa que é viajar e namorar, namorar sim, por quê não? Namorar a vida!

*Black Gold = Ouro Preto em rebucetês

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