Por Luiza Audaz
Colaboração: Indira Curcino
A estrada que comecei a desbravar na última quarta-feira (20), de
Vitória da Conquista rumo à 7º Mostra de Cinema de Ouro Preto nas Minas Gerais,
já inspirava, em todo seu percurso, um sentimento que, até então, achava apenas
ser uma questão relativa à proximidade geográfica que há entre Conquista e
Minas. Sempre ouvi pessoas comentando sobre o sotaque diferenciado que temos em
nossa cidade, em relação às outras regiões da Bahia, e sobre um “quê” mineiro
nessas terras próximas à divisa, mas ao tempo que a paisagem surgia ao longo da
viagem e o clima frio e nostálgico das cidades ia se revelando, sentia que
havia algo muito mais vívido entre o povo do sudoeste da Bahia e esta terra
mineira.
De fato, depois de 14 horas de viagem com a turma do curso de Cinema e
Audiovisual da UESB, chegamos de manhã, quinta-feira (21), na República
Manicômio em Ouro Preto e, depois de uma troca de palavras com nossos
anfitriões, já percebemos a surpresa estampada na cara dos mineiros que
suspeitavam sobre nossa baianidade.
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Tudo aqui suscita, pelo ar imperial, uma lembrança constante de um
passado tão marcado em cada ladeira, em cada fachada, em cada beco que nos
convida a desbravar os percursos desta história. Mais especial ainda, é prestigiar neste clima um circuito alternativo de
cinema, inaugurando em nossa primeira noite em Black Gold* uma erupção de
encontros entre as produções cinematográficas brasileiras de todo Brasil com o
público que lotou o centro de Convenções de Ouro Preto na abertura.
Este ano, a Mostra tem como tema a conservação e os desafios do cinema
com as novas mídias. A noite iniciou com homenagens a três grandes nomes do
nosso cinema: Gustavo Dahl, Roberto Farias e Reginaldo Faria, seguidas da
exibição do penúltimo filme do cineasta Roberto Farias, “Pra Frente Brasil”. No imenso Galpão Bar Show, que abrigava a festa pós CINE OP, ouvia-se o
burburinho apressado dos mineiros; as pessoas iam chegando em bando, vez por
vez, e em pouco tempo tomaram conta de todo o ambiente. À espera da primeira
atração da noite, a banda 'Acúrdigos' - um grupo de amigos ouropretanos que
fazem música juntos há mais de dez anos com repertório que vai de samba-rock ao
jazz, passando pelo rock, reggae e world music.
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As mesmas ladeiras que cortam a cidade de uma ponta a outra são a melhor
forma de conhecer pessoas e se encantar pela arquitetura barroca; o
bucolismo nostálgico que envolve a atmosfera ouropretana reuniu-se à nossa
vontade de descobrir. Acompanhada dos amigos Indira Curcino, Suca e Edu Luz
pude conhecer e reconhecer a beleza dos encontros nas tantas portas pintadas de
lugares que se abrem nas entranhas dessa cidade.
Depois de um dia cheio de surpresas e andanças, chegamos em nossa “casa”
(a República Manicômio foi fundada em 1974 e abriga 16 estudantes universitários
e confirma a tradição das repúblicas mineiras) prontos para a festa de recepção
para os baianos, organizada pelas figuras que aqui nos receberam tão bem.
Popeye, 100 Pirigo, Ovelha, 100 Problema, Du, Lagartão, Bola 8, Sr
Creysson, são alguns moradores da república que já nos esperavam com o som
armado, mas a surpresa é que nós faríamos o show, com violões e microfones
plugados a grande casa barroca com 10 quartos, grandes salas, lareiras, pasto,
quintal com palco e uma vista linda do andar de cima para a cidade, ficou
pequena quando Edu Luz iniciou a noite trazendo lá do sertão da Bahia o forró e
o xote que tanto nos fazem sentir saudade do São João. Eu, que não resisti,
também toquei as músicas que trazem vibrações dos nossos doces bárbaros para o palco.
A festa que ainda contou com discotecagem e uma setlist funckeada animou a casa
e fechou nossa noite com o gostinho de quero mais.
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Seguimos, pois, nosso curso de viagem indicando um curta que tivemos
oportunidade de assistir na tarde do dia 22 sexta-feira no Centro de convenções
e que nos deixou animadíssimos e cheios de ideias para o diário de bordo em
audiovisual que está sendo produzido. Eu, Zumbi, de Alexandre S. Buck
Experimental, foi realizado por uma galera do Espírito Santo e chocou a todos
com uma história que mistura ficção e falso documentário e que vocês poderão
assistir abaixo.
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Ainda teremos muitas notícias para mandar, a cidade está fervilhando de
manifestações culturais e turistas. O convite é sempre para observar em cada
luz que se acende nos bares, repúblicas, salas de cinema e festas, as tantas
cores que vamos adquirindo nesta experiência maravilhosa que é viajar e
namorar, namorar sim, por quê não? Namorar a vida!
*Black Gold = Ouro Preto em rebucetês
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