Rihanna é uma das cantoras pop mais produtivas desta geração. O que nem sempre significa qualidade. Em seu novo trabalho, "Unapologetic", Rihanna supera a farofa do álbum anterior, mas ainda precisa tirar férias.
Unapologetic (Def Jam, 2012) Rihanna |
Por Lucas Oliveira Dantas
Está na Bíblia: “a cada doze meses a terra será assolada por mais um lançamento de Rihanna.”
Juro que adoraria passar um ano acompanhando Rihanna para todos os lados. A profusão de álbuns a sair da cachola dela é impressionante; apesar de não ser do meu gosto enquanto fã de música, fico ao menos curioso em saber desse processo criativo.
Pois, se há algo que me incita nessa linha de produção, é o quanto Rihanna muda a cada álbum, mas mantém-se perfeitamente reconhecível.
Claro que nem sempre ela é bem sucedida: ano passado, por exemplo, ao lançar “We Found Love” (Talk That Talk, Def Jam, 2011) sua colaboração com o (agora) badaladíssimo DJ e produtor britânico, Calvin Harris, parecia que ela manteria o ritmo grandioso e excitante do álbum anterior. Mas, quando o conjunto da obra [o álbum] se revelou uma grande bagunça enjoada, a pergunta era inevitável: será que Rihanna não deveria tirar umas férias?
Unapologetic
Mas não! Óbvio que em 2012 Rihanna lançaria outro álbum e Unapologetic (Def Jam, 2012) não exclui a pergunta acima, mas é bem melhor que seu esforço do ano passado.“Unapologetic” soa emocionalmente mais honesto, se aproximando de seu maravilhoso Rated R (Def Jam, 2009). Mas, em termos musicais, é como se Rihanna ainda não conseguisse encontrar a unidade e equilíbrio em seu modus operandi de produção. Enquanto há momentos interessantes - em que ela se permite a uma experimentação (mesmo que fake, por se tratar de
A grande característica de toda Diva Pop é sua capacidade de copiar e se moldar aos estilos propostos a cada trabalho.
Se formos analisar o quesito “apropriação”, Rihanna é a MELHOR Diva Pop desta geração. Ao contrário de outras tantas mainstream afora (*COF* Lady Gaga *COF*), ela assume estilos musicais e os torna dela. Talvez porque, sabiamente, escolhe estilos mais alheios ao conhecimento geral.
Quando ela usa, neste álbum, a atmosfera sexual, tensa e sombria do rapper indie canadense The Weeknd, ela dá os melhores momentos do álbum, como em “Loveeeeeee Song” e “Jump”.
Aliás, The Weeknd deve ter sido o santo pelo qual Rihanna rezou todos os dias enquanto produzia esse álbum.
Depois, ela vai lá e caga tudo com porqueiras genéricas como “Right Now” (alguém POR FAVOR mate a carreira de David Guetta!), “What Now” e “Fresh Off The Runway”. Esta última, por exemplo, começa com um BANG e se arrasta com um FUEN! Muito parecido com o álbum no geral.
“Nobody’s Business”, o famigerado dueto com Chris Brown – o namorado que lhe desceu o cacete (trocadilho intencional) – é a MELHOR música de todo o álbum. A pegada house dos anos 1990 é maravilhosa, lembrando de longe o trabalho de Madonna em 1992 (Erotica, o álbum) e outros de Michael Jackson, como “Remember The Time” e a icônica “Keep It In The Closet”; e a performance de Brown é tão maravilhosa (e infinitamente superior à de Rihanna) que você se sente meio culpado por estar gostando. (Sim, é difícil perdoar, mas “it ain’t nobody’s business”).
Mas, se você sabe um pouco da cena Pop de 2011 para cá (além dos grandes palcos dos quais Rihanna faz parte), conhece o trabalho de Azealia Banks e como ela tem ressuscitado e soprado divinamente vida neste gênero musical. Então, PALMAS para Rihanna por canalizar tão bom trabalho, mas Azealia e todos aqueles que já conhecem o seu e outros trabalhos estão dando risocas irônicas por dentro.
Linearidade vocal
Pop bitches têm a necessidade de lançar baladas que, muitas vezes, são apenas para demonstrar seu potencial vocal. O que pode ser uma armadilha, pois geralmente a potência vem com uma performance tão genérica em termos musicais e bem meia-boca em termos vocais. Você ouve as notas serem alcançadas, mas com entrega emocional pífia.Só que Rihanna sempre foi uma artista inteligente, escolhendo e produzindo canções que se melhor encaixavam em suas limitações, estilo e, principalmente, no trabalho que lançava. Suas baladas não saíam dessa lógica, sendo sempre fantásticas em atmosfera – basta escutar canções como “Skin” (Loud, 2010) e a icônica “Russian Roulette” (Rated R, 2009).
Assim como como em seu álbum de 2009, o primeiro single de “Unapologetic” foi uma balada, “Diamonds”. Composta pela nova queridinha das divas pop americanas, a australiana Sia, a canção é mais uma perfeita imitação de Rihanna. Ela imita Sia com maestria e perfeição e se, a princípio, o resultado é decepcionante (ainda mais se você já conhece o trabalho da australiana), com o tempo a coisa fica até agradável.
A principal balada do álbum é “Stay” e é nela que Rihanna escorrega. Enquanto a letra carrega bela força emocional sobre um relacionamento conturbado e destrutivo, a força emocional fica por conta de Mikky Ekko - co-autor e vocalista convidado da faixa -, pois Rihanna mantém uma linearidade vocal insípida. Ou seja, a balada se faz completamente desnecessária no conjunto da obra.
Como mencionei acima, o grande trunfo de Rihanna é que, de todas as suas contemporâneas, ela é que soa mais verdadeira a cada álbum, mesmo que suas experimentações soem deslocadas e forçadas. Porém, em “Unapologetic”, ela entrega um bom produto, no qual ao invés de descartar pela pressa em produzir e lançar (Talk That Talk), você genuinamente deseja que ela tivesse se permitido mais tempo para o cozinhar e burilar melhor.
Nota: 3,5/5
Destaques: Loveeeeeee Song, Jump, Diamonds, Love Without Tragedy-Mother Mary, No Love Allowed.
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