segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O Rebucetê Entrevista: Magary Lord

Por Thaís Pimenta


Imagem: Divulgação


Quem não se lembra da explosão, no verão passado, das mãozinhas para cima fazendo o movimento de círculo ou do passo que joga o joelho pra dentro e pra fora? Essas são as marcas registradas das coreografias das músicas 'Circulô' e 'Inventando Moda', do soteropolitano Magary Lord. O cantor e compositor inovou trazendo de Angola um ritmo chamando Semba e fundindo-o com o Black Music; daí surgiu o Black Semba, que vem deixando "todo mundo se sentindo massa". Em suas músicas dançantes há uma forte relação com a africanidade. 



Nesse último sábado (10), Magary Lord foi atração principal da comemoração dos 172 anos de Vitória da Conquista. A festa, que também contou com shows do grupo Complexo Ragga e da banda Abadada, foi realizada na praça Barão do Rio Branco, no centro da cidade. Conquista foi presenteada com lançamento de 'Tum Ba Tá', música nova do cantor baiano e uma das apostas para virar hit do próximo verão. 

Minutos antes de sua apresentação, Magary conversou com O Rebucetê. Na conversa falou um pouco sobre o Black Semba, a lei anti-baixaria, a relação Brasil-África-Bahia e sobre o clipe da música "Tum Ba Tá". O resultado desse bate-papo cheio de suingue, você confere agora:

O Rebucetê: Nos conte como foi o processo de fusão do Black Music com o Semba.


Magary Lord: A minha sonoridade é raiz, é a raiz black, a raiz semba, é a raiz que traz a linguagem nova, que remete à África, as funções rítmicas. Eu, como músico percusionista, comecei a pesquisar. Então, a percusão abriu as portas de outros rítmos, me levou a essa fusão que é o Black Semba. Um ritmo novo criado por mim. O Black Semba é a música da alegria, para todas as idades, para criança, pra jovem, adulto, todo mundo dança, todo mundo pode ouvir. E a ideia também é fazer uma música pra colaborar com a Bahia, sua cultura, a cultura do Brasil.


OR: Magary Lord tem um ritmo dançante, e apesar disso suas letras não são ofensivas, se enquadrando na Lei Anti-Baixaria. No processo de composição, há uma preocupação nesse sentindo?



ML: Nós nos preocupamos em fazer uma letra mais modesta, que fale de alegria, para todas as idades. A dança também é uma dança antiga. Uma dança de raiz que é o Semba, e que não é vulgar, agressiva. Imagine cada um conseguir se expressar do que jeito que você quer dançar, uma coisa mais linda. Então, sem preconceito, "você dança assim, dança assado"! Cada um pode dançar como o corpo fala e de maneira não ofensiva.

OR: Os seus maiores sucessos, 'Circulô' e 'Inventando Moda', ambos vêm acompanhados por coereografia, "um passinho". Optar por lançar música-coerografia é uma estratégia para virar hit?



ML: Quando a música vem com uma coreografia ela vem mais forte, né? A música de balanço tem que ter coreografia. Ainda mais na Bahia, quando ela tem uma coreografia ela fica mais forte no carnaval e pega mais rápido, até porquê carnaval é movimento. Então quando começou com o 'Circulô', que era o movimento de mãozinha em cima circulando, com a energia que fala de amor, da química que bateu. Depois veio a 'Inventando Moda' também, que é o passo para o joelhinho pra mexer com seu corpo. É isso, a galera deixa de ir pra academia pra vir pro Black Semba. (Risos)

OR: Recentemente, você fez uma participação especial no documentário “África visita África”, do diretor João Guerra. Qual sua opinião sobre essa relação Brasil-Africa- Bahia?



ML: Acho que é a relação mais perfeita que existe. E isso porque o Brasil é Africa, né? Símbolo da miscigenação total. E eu acho que pode-se introduzir mais ainda essa experiência, esse intercâmbio cultural e poder trazer mais a África pra Bahia, e a Bahia pra África.

OR: Falando sobre as apostas do próximo verão, você lançou essa semana o clip da música 'Tum Ba Tá', gravado no bairro Engenho Velho, em Salvador, onde você cresceu. Nos conte um pouco sobre a experiência e os elementos africanos do clipe.



ML: No clipe vou tá trazendo a África em peso. É África, é a dança, é o movimento, é a manisfestação de rua, nos bairros, nos guetos. Pra que fazer um clipe no iate ou em um carrão, se não é a realidade, de onde eu vim? Então eu venho trazer a minha verdade, a minha música, a minha dança, o meu corpo. Foi no Engenho Velho onde eu passei parte do meu crescimento, já com filhos também. E agora eu quis lá voltar para captar as imagens e a realidade da minha vida. Captar as imagens do gueto, da comunidade, que é a laje, as favelas, as vielas. 

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