domingo, 18 de novembro de 2012

Quem te viu, quem te vê

A noite do Mais MPB foi marcada por estréias, Benjamin, novas músicas do Círculo e um novo Marcelo Jeneci.

Por Maria Eduarda Carvalho


Aconteceu ontem na arena Miraflores a primeira edição do projeto Mais MPB. Com as apresentações de Benjamin, oCirculo e Marcelo Jeneci, o evento foi também uma prévia do Festival Suíça Bahiana (06 a 08 de dezembro).

Muito prejudicado pela chuva torrencial em termos de público e estrutura, a noite demorou a "engatar" e foi se construindo aos poucos, mas no final das contas conseguiu se sair bem sucedida.

As luzes fortes do palco que coordenavam também o resto da arena inundavam de azul o ambiente, quando subiu ao palco a primeira atração, Benjamin.

Um palco grande para um cara com um violão, mas quem precisa de banda quando assim mesmo consegue preencher o espaço com toda aquela sonoridade? O folk é tímido, mas quando mostra a que veio retem, com facilidade, a atenção do ouvinte.

A repercussão da apresentação era uma incógnita, já que era a primeira vez que o artista apresentava o projeto para o "grande público". Pouco tempo depois, Diego desabafou, "o meu show ainda não passou muito, ainda não o realizei. Mas eu fiquei muito feliz quando vi as pessoas cantando uma música minha, de verdade, me emocionou", e assim foi sua estréia.

Quem veio depois apesar de não ser artista local já era um grande conhecido. A banda soteropolitana oCírculo já tocou por aqui algumas vezes, sempre com máxima receptividade e carregando uma legião de fãs, dando à noite, mais ou menos nesse ponto, uma "cara de show". A chuva deu uma trégua e mais gente começou a chegar para curtir o repertório preparado pela banda.

O público da noite pôde curtir uma mistura no repertório, canções mais conhecidas como "Meu Bem", "Muito Romântico" e "Janela", intercaladas com uma pitada ou outra de novidade, denunciando o trabalho que está por vir. Muita energia, gente cantando junto. O grupo estava mesmo em casa e funcionou bem como um prenúncio do que estava por vir.

Dentre os shows, o Mais MPB já tinha crescido em público e melhorado em expectativas. Um número maior de pessoas reunidas em torno do palco já estava ali para aguardar a grande atração da noite, Marcelo Jeneci.

Enquanto também aguardava, eu pensava no seu último show durante o Festival Suíça Bahiana, tranquilo, articulado, bem ensaiado.

Sinceramente não é dos meus estilos favoritos, prezo o empenho dos artistas na construção do show, mas me encanta muito mais as emoções a flor da pele, a dança mal conduzida, o calor do momento.

E qual não foi minha surpresa encontrar tudo isso e ainda mais no show que se seguiria?

Jeneci

Depois de impasses e atrasos, Jeneci subiu ao palco. Visivelmente mais magro e com uma barba enorme, o cantor não aparentava nem de longe o bom moço do Festival passado. Houve quem julgasse seu estado como alterado - e com certa razão -, mas ninguém pode negar que sua entrega no palco foi absurda.

Fiquei ali parada, uns bons minutos tentando entender o que acontecia e rindo da minha própria cara com os pensamentos antes aqui relatados, mas não consegui mais desgrudar os olhos do palco.

De uma hora para a outra o Miraflores tinha se transformado. Outra energia pairando, pessoas se espremendo contra a grade, o contato entre artista e público construindo juntos uma performance.

Os casais e seus abraços melosos (como era previsto) até que estavam por lá, mas não era maioria ou nem tinham tanta importância, as atenções estavam todas voltadas mesmo para o palco.

Laura, companheira de palco e de voz de Jeneci, continuava uma bonequinha e, muitas vezes, segurou com maestria os vocais, um pouco prejudicada pelo volume dos instrumentos, mas sempre muito cativante.

Sem dúvidas, Marcelo Jeneci deu à cidade um dos melhores shows do ano. E olha que falamos de um 2012 de Criolo, Mundo Livre, Felipe Cordeiro.

Talvez esse nível de entrega um pouco à margem da completa lucidez seja "destrutivo", mas, como disse o Wander Wildner, "o público quer que você se mate no palco" e, pelo menos de longe, pareceu que ele também estava se divertindo.

Agora só há uma coisa a dizer, espero um novo Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos e não vem do Otto.

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