domingo, 29 de julho de 2012

Parada do Orgulho de ser Hetero Por Quê?

Por Murillo Nonato

Dentre as opções dos Núcleos de Vivência (NV) sugeridos dentro do terceiro dia de atividades do Enecom (Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação), que ocorreu entre os dias 13 e 20 desse mês, escolhi participar, devido à proximidade com o tema, do núcleo guiado pela Cia Revolucionária Triângulo Rosa. O grupo luta contra a opressão relacionada à orientação sexual e contra a representação social da feminilidade e/ou masculinidade do indivíduo.

O espaço, facilitado por Luth Laporta, estudante da UnB e integrante da Cia., foi realizado dentro da própria universidade, sob a sombra vespertina de uma árvore, em frente ao Memorial Darcy Ribeiro, batizado de "Beijódromo". Com 6 horas de atraso, obviamente a programação da atividade ficou prejudicada. O NV acabou se tornando, no final das contas, um simples Grupo de Discussão (GD). Os Núcleos têm como proposta levar os encontristas a uma experiência que os permita aprofundar a teoria colocando-a em prática, defrontando-os com a realidade dos movimentos sociais ou levando-os a se deparar com problemas sociais pessoalmente. Para o aprofundamente dessa rica experiência, os estudantes passam um dia inteiro em seus NVs.  Como ficamos na própria universidade onde estávamos alojados e pela hora avançada, os planos pretensiosos da atividade foram minimizados e a vivência se tornou uma roda de conversa,  consequência do problema estrutural que ocorreu em todo o Enecom DF, gerando atrasos, confusões e críticas.

Antes, pela manhã, devido às incertezas que circundava o espaço, cheguei até mesmo a pensar em desistir, “não, não, vou para a EBC, MST ou para o Vale do Amanhecer... melhor, vou ficar dormindo no alojamento em algum colchão alheio (como fui sem colchão para o encontro, nunca sabia onde dormiria ou até se teria onde dormir a noite)”. No entanto, me mantive firme na minha opção, mas parece que fui um dos poucos. De quase quarenta inscritos, com lista extra para caso houvesse desistências, só apareceram dez e fomos catando encontristas pelegos que se encontravam pelo caminho, totalizando uns vinte. Metade daquela lista que eu briguei para fazer parte.

Apesar de aquém do planejado, o espaço se mostrou interessante e as discussões ricas. Luth, apesar da pouca idade (19) e do pouco tamanho, dominava bastante o tema, sobretudo através da perspectiva da Teoria Queer. Os participantes, que em sua maioria se declararam heteros (o que foi desmistificado nas culturais após uma ou duas brejas) também deram animo e fôlego a discussão. E veio de uma das encontristas, dentre as várias questões levantadas relacionadas a homofobia, fundamentalismo cristão, desconstrução dos gêneros e outras, a pergunta que mais me chamou atenção: "O que os gays acham da Parada do Orgulho Hetero?”.

A resposta, primeiramente, me veio em forma de outra pergunta: “Orgulho de quê?”. Em uma sociedade heterossexista, patriarcalista, machista e cristã, de que os heterossexuais haveriam de envergonhar-se? Quantos homens morrem no mundo por estarem abraçados a suas namoradas? Por quantos anos eles foram invisibilidados pela TV? Ignorados pelo Estado? A heterossexualidade, como sexualidade padrão, vem sendo utilizada para oprimir as demais sexualidades. Há mais motivos para envergonhar-se ou orgulhar-se? A Parada do Orgulho de ser LGBTT surgiu, na verdade, fruto de uma luta pelo combate a discriminação aos homossexuais e a Parada do Orgulho de ser Hetero é mais uma tentativa de oprimir e intimidar as sexualidades diversas.

A questão surgida no GD disfarçado de NV, me interessou e motivou para que escrevesse esse texto, e a partir desse agora, vou me deter apenas a questão levantada pela doce garota, retomando argumentos que utilizei na roda de conversa para demonstrar o porquê da Parada Hetero ser mais que uma piada de mal gosto e sim uma tentativa consciente de discriminação e opressão aos LGBTT.

A Parada do Vexame Hetero

Antes de tudo, a Parada do Orgulho LGBT não surgiu de forma gratuita, ela é fruto de luta e de um largo histórico, do qual vou apresentar brevemente.

Em 1969, na cidade de Nova York, era ilegal ter um estabelecimento público que reunisse homossexuais. o entanto, no dia 28 de junho desse ano, cansados da repressão protagonizada pela polícia da cidade, os LGBTs e todos os que frequentavam o bar Stonewall Inn, localizado no bairro Greenwich Village, determinaram-se a não mais se calar diante da violência motivada pelo ódio homossexual ao qual sofriam. O bar situava-se em área de difícil acesso e caracterizava-se como um gueto. O estabelecimento, além das bichas, sapatões e travas, abrigava também muitos grupos de  jovens cuja política era definida pelo nascente movimento contra a guerra do Vietnã, ideologias de esquerda, do feminismo e do movimento dos direitos civis dos negros. Espelhados pelas lutas desses grupos sociais, os homossexuais estavam preparados para resistir à opressão naquela noite. Os manifestantes enfrentaram a polícia munidos de pedras e garrafas, ganharam as ruas e sustentaram o embate físico por quatro dias confrontando à truculência do Estado. Esse confronto marcou o movimento LGBTT nos Estados Unidos e no mundo.

Passado um ano do confronto em Stonewall Inn, número aproximado de 10 mil pessoas marchou pela cidade comemorando aniversário da rebelião, mostrando seu desejo pela igualdade de direitos, seu potencial de luta e de organização enquanto movimento social. O exemplo foi seguido não só por todo o Estados Unidos, como passou a ser celebrado em diversos países com as famosas Paradas Gay ou Paradas do Orgulho Gay. É nesse dia que os homossexuais afirmam sua história de resistência e combate à homofobia. 28 de julho tornou-se um dia de luta.

Tudo, no final, é uma questão de contexto. E em qual a Parada do Orgulho Hetero se insere? De que forma e por quais motivos a Parada do Orgulho de ser Hetero foi criada?

O projeto da Parada do Orgulho Hetero, do vereador Carlos Apolinário (DEM), aprovado em 2 de agosto de 2011, na Câmara Municipal de São Paulo foi proposto quatro dias antes de ocorrer a Parada do Orgulho de ser LGBTT Paulista e entrou na câmara com caratér de urgência até que graças a esforços de vereadores do PT o projeto foi devolvido ao final da fila, aprovado apenas, e infelizmente, na referida data em numa votação simbólica que pressupõe aprovação automática independente do resultado (20 vereadores contra e 19 a favor). O vereador teve o apoio da igreja evangélica e de outros setores reacionários.

Apolinário é um duro crítico às práticas homossexuais. É contra qualquer política pública voltada ao público LGBT e ao casamento e adoção de casais do mesmo sexo, chegando ao cúmulo da hipocrisia de afirmar que não tem nada contra o público homossexual, só acha que os gays precisavam respeitar a população que é heterossexual.

Como justificativa para a proposição do seu projeto, disse: “Será que os homossexuais entende (sic) como direito à liberdade, (sic) dois bigodudos entrarem em um restaurante e ficarem se beijando sem respeitar os demais clientes daquele estabelecimento? Eles deveriam ter um comportamento adequado à nossa sociedade e deixar os beijos e afetos para os lugares reservados ou suas casas. Acontece que os homossexuais não se satisfazem com o anonimato e para chamarem atenção começam a exigir direitos que se quer (sic) os heteros têm; se comportam de forma inadequada e muitas vezes agridem verbalmente aqueles que não concordam com suas idéias e depois querem que a sociedade aceite este comportamento. Sou casado há 32 anos, nem por isso me acho no direito de ficar beijando excessivamente minha esposa em público para com isso demonstrar o carinho que tenho por ela.”

A Parada do Orgulho de ser Hetero, na verdade, não encontra uma justificativa nobre que sustente sua existência. Seu intuito é discriminatório e tende a reforçar os preconceitos já existentes na sociedade, reforça heterossexualidade como a sexualidade dominante e padrão e a heteronormativade como comportamento regulador.  Essa Parada do Vexame Hetero, vem com o intuito de confrontar a Parada do Orgulho de ser LGBTT, que é fruto da luta contra a discriminação.  Um projeto reacionário, criado por um vereador homofóbico e fundamentalista cristão, que distancia o Brasil de uma sociedade igualitária que respeita todas as sexualidades e que não distingue o indivíduo pela sua orientação sexual. Na verdade, foi o recado enviado pela Câmara paulista que vivemos sim em um país homofóbico.

4 comentários:

  1. Para mim, um país em que se condena tal movimento já está dando motivos para sua existência. Hoje em dia parece que é errado ser hétero, qualquer manifestação de heterossexualidade é tida como homofóbica. Me parece ser essa a razão, apesar de o texto utilizar-se basicamente do argumento ad hominem. Se quem é gay diz-se gay, por que não posso dizer-me hétero?

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    1. Quem é gay sofre preconceito ao dizer-se gay e por isso vai as ruas, grita, desfila, para lutar e garantir seus direitos.
      Quem é hetero não é discriminado pela sociedade e por isso não precisa lutar para afirmar sua posição jé que é pertencente a uma classe predominante que 'dita as regras'.

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  2. Concordo com vc Helen, tem muitos homossexuais que fazem de tudo pra escandalizar a sociedade, NÃO RESPEITAM ngm, chegando ao cúmulo de praticar sexo oral em público. Quem quer respeito, tem de respeitar o próximo primeiro!!!!

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  3. Olha só isso: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL102900-5602,00-CASAL+GAY+DETIDO+EM+FRENTE+AO+COLISEU+FAZIA+SEXO+ORAL+DIZ+PROMOTORIA.html

    E ainda foram fazer protesto, se ELES que estavam errados! Imoralidade. Se osse um casal hetero fazendo sexo em público, eles não seriam punidos tbm? Por que os gays não podem ser punidos? Eles uqrem direitos iguais ou regalias sobre os demais?? Palhaçada!

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