segunda-feira, 2 de julho de 2012

“Com aquilo que fomos e aquilo que somos nós.’"

Rafael Flores


Foto: Rafael Flores
Com os pés já doloridos do trabalho da tarde, esperava pela coletiva de imprensa com Fernando Anitelli, d’O Teatro Mágico. Parece bobagem, mas o que segurou a minha paciência naquele atraso de quase duas horas, foi a frase “Milagres acontecem quando a gente vai à luta”, estampada em uma camiseta pendurada na banquinha montada no hall de entrada do Centro de Convenções Divaldo Franco.
Todos os fãs chegaram antes das 20h, horário marcado para o início do show, o que fez com que se espremessem em uma quase fila no portão interno do centro de convenções. Entrei no local onde aconteceria o espetáculo, junto com a namorada, também a trabalho, e outros repórteres da cidade. Depois de mais meia hora conversando sobre a renovação do público e sobre o atraso da banda, a entrada do público é liberada. A correria e a gritaria da entrada dos raros*, ganhou alguns resmungos meus e dos colegas e até comparações com a queima de estoque da Ricardo Eletro.

Pronto, os artistas já passaram o som e se maquiaram, hora de encontra-los no camarim. Esperar, no frio ventante, mais um pouquinho para chegar nossa vez. O produtor liberou a entrada dos blogs, a empolgação voltou. Seria o primeiro a fazer as duas perguntas, como estipulado pela assessoria, seria se tivesse um pouco mais de malícia e não houvesse demorado no manuseio do gravador. Um dos repórteres foi mais sagaz e espertinho, me atropelou. O fogo nas minhas bochechas por conta da raiva ficou vermelhamente visível. Desconcentrei e praguejei em pensamento contra as coletivas de imprensa dessa vida. Consegui fazer apenas uma das minhas perguntas, a mais básica das que tinha preparado, por conta do tempo curto que sobrou para nós jornalistas. Extremamente brochado, fui compor o público e assistir à apresentação. 
Continuei a resmungar aos quatro ventos, dessa vez as vítimas foram as pobres mães, as quais acompanhavam as crianças e que não liberavam um espacinho "pr'eu tirar uma fotinha", alegando que “curtir show não era trabalho”. Minha cabeça estava tão presa a pauta, despotencializada pela entrevista limitada, que esqueci de prestar atenção no que estava sendo dito em cima do palco. Também tinha me esquecido um pouco, esquecido o quanto algumas das canções da trupe faziam sentido pra mim há sete anos atrás. Fui ouvindo aqueles versos e me encontrando naquela pieguice, na ode à romantização da vida. “É o coração que nos diz o que é mais bonito” e o meu dizia pra largar de mimimi e me envolver naquilo ali.
E assim o pseudo-jornalista ranziza, desaba no menino cheio de sonhos turvos de sete anos atrás. Os braços cruzados rapidamente foram procurando os da namorada e os pés a acompanhar o ritmo das músicas. “Eu não sei na verdade quem eu sou, mas o meu paraíso é onde estou”, acompanhei o coro e deixei as lágrimas tomarem conta. As músicas do novo álbum, chegaram pesadas, provocando sustos quase catárticos com as mensagens que traziam e o diálogo que faziam com meu momento, enquanto as mais antigas, aquelas que ocupavam meu mp3 player da adolescência vinham com novos arranjos, ressignifcadas e mais uma vez fazendo sentido para mim.
Veio “Realejo”, “Soprano” e por fim “Abaçaiado” e “Camarada d’Água”, quando meus pés não respeitaram a dor e pularam com o resto do público. Saí de lá com a vontade de nunca mais esquecer que os dispostos se atraem e o rancor é demodê.

*Como se auto-entitulam os fãs do Teatro Mágico.

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