domingo, 15 de julho de 2012

Diário de Bordo: "Vamos misturar polca e baião!"

Por Rafael Flores e Ana Paula Marques

Maracatu Pavão Dourado de Tucunhaém/
Foto: Rafael Flores
Subimos uns degraus em um prédio comercial no centro de Garanhuns, procurando a sede da secretaria de Comunicação da Prefeitura, onde receberíamos as informações sobre o nosso credenciamento para cobertura do FIG. Uma moça, expressando impaciência com o fim do expediente que não chegava, nos atendeu. Ela  informou que a prefeitura não credencia veículos de fora da região e os blogs não tem vez na cobertura do evento. "Não dá pra ficar dando credencial pra tudo quanté blog que aparece, se não só vai ter blogueiro em cima do palco", desdenhou. Agradecemos e saímos rapidamente do ambiente, com algumas dúvidas na cabeça. Há um mês pedimos informações via redes oficiais do evento sobre o credenciamento, o qual nos respondeu apenas pelo twitter nos pedindo para mandar nossos dados para um e-mail, enviamos, reenviamos, cobramos resposta e nada. Alguns dias depois, recebemos a informação, também pelo twitter, que a lista da imprensa credenciada sairia na segunda-feira passada, novo engano. Mas nós somos rebuceteiros de corpo e alma e  também filhos do gonzo, nossa cobertura não ficará prejudicada por conta de uma credencial, não é mesmo? 


Ainda pelo centro da cidade, fomos esfriar a cabeça com uma cerveja e comprar filmes para a lomo* de Paulinha. Encontramos a loja de materiais fotográficos, mas estava fechada. Enquanto atravessávamos a rua, fomos surpreendidos com uma correria barulhenta. Era o arrastão de cores e ritmos do Maracatu Pavão Dourado de Tucunhaém, mostrando pelas ruas da cidade, uma das mais fortes manifestações culturais populares de Pernambuco. Pausa para a cerveja e fotografia contemplada, seguimos para o parque Euclides Dourado, onde uma programação vasta e paralela acontecia. Tendas de artesanato, de literatura e um espaço dedicado ao homenageado desta edição do festival, Luiz Gonzaga.  A sanfona de oito baixos, era o que mais se via por lá. Em cada canto um forrozinho, unindo às outras artes, como o teatro de bonecos e o repente. Alguns adolescentes vestidos de zumbis caminhavam pelo espaço, para o susto e alegria da criançada. 


Silvério Pessoa/ Foto: Rafael Flores
O show de Lucas Santtana começaria logo no palco Pop, que também se localiza no parque Euclides Dourado. Atrasados e já com um medo retado de perder o show do novo álbum do baiano, corremos. No momento em que chegamos, quem cantava era o pernambucano Silvério Pessoa, pois Lucas havia perdido o vôo e só se apresentará no próximo sábado, para o nosso alívio. Silvério cantou músicas referentes ao "No Grau", seu mais recente show, pela última vez no Brasil antes de partir para uma turnê na Europa. Um espetáculo muito pesado, com músicas que cortam o peito e ao mesmo tempo nos fazem dançar. Ao se despedir temporariamente do público brasileiro, ele trouxe a leveza das cirandas de Lia de Itamaracá. Caímos na roda, lembrando das tantas do movimento estudantil que participamos e mandamos a energia lá pro centro do país, onde os nossos amigos por certo também cirandeiam no Enecom-DF

Orquestra Popular da Bomba do Hemetério/
Foto: Rafael Flores
Ao término do show de Silvério, fomos até a Esplanada Guadalajara para conhecer de perto a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, regida pelo Maestro Forró. O show magnífico, chamado "Fole Assoprado", no qual os músicos reproduzem o sotaque do fole da sanfona com instrumentos de sopro, superou as expectativas. Logo em seguida, o grupo pernambucano Academia da Berlinda trouxe para o palco os ritmos calientes latinos misturados com a raiz das músicas do norte e nordeste do Brasil.  

A Esplanada Guadalajara foi rapidamente se apertando durante o show da Academia da Berlinda, senhoras com chapéu de cowboy já gritavam o nome de sua rainha, Roberta Miranda. Não nos aguentamos por muito tempo na frente do palco, nos aconchegamos em uma parede na lateral, bem longe de onde assistimos os outros dois shows. Roberta começou com "Asa Branca" e já conseguiu provocar coros urrantes da multidão. "Essa mulher canta demais, Ave Maria", disse dona Nádia, uma pequena senhora que dividia o espaço com a gente e que tornou-se nossa parceira de cantorias durante todo o show. Dona Nádia saiu de Maceió só para assistir o show de Roberta, pois segundo ela, é a cantora que mais traduz o que ela sente, e além disso guarda uns amores por aqui. "Tá aí, essa prefeitura devia era investir mais em atrações modernas e atualizadas como Roberta Miranda e Alcione, fica trazendo só porcaria", exaltou a alagoana, enquanto comentávamos entre nós: "Mal sabe Dona Nádia que ela vai virar texto". Muitas mãos apertadas e levantadas movimentavam-se em horizontal enquanto Roberta, vestida de prata, cantava "Cadê Você" de Odair José, um dos maiores nomes do brega. Como sabíamos a letra inteira cantamos juntos, nos sentindo parte daquela catarse. Roberta ainda homenageou os novos nomes da música sertaneja e do brega, como a parense Gaby Amarantos, o mato-grossense Luan Santana e a banda baiana Cangaia de Jegue. Distribuindo rosas e deixando as lágrimas borrarem a maquiagem, a cantora se despediu da multidão com o seu sucesso "Vá com Deus".

Roberta Miranda ao longe/ Foto: Rafael Flores
Decidimos continuar enfrentando a grande quantidade de pessoas para ver Alcione, nome importantíssimo para a consolidação de grandes compositores brasileiros, principalmente os sambistas. Enquanto esperávamos um espetinho, a marrom entrou no palco com sua voz característica e o efeito da mais pura cachaça subiu a cabeça, só ao ouvir as primeiras canções. Voltamos para a parede original, mas não encontramos mais a doce dona Nádia. "Além da Cama", "Medo" e "Estranha Loucura", foram algumas das músicas que conseguimos ouvir antes das nossas pernas sucumbirem. Não tivemos resistência suficiente para permanecer no aperto, voltamos pra casa. Hoje, acordamos com as coletâneas de Roberta Miranda e Alcione tocando por aqui nas redondezas e entendemos, agora empiricamente, um pouco mais do conceito de música popular.  

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