Por Murillo Nonato
Ribeiro nos contou que o desejo de fazer cinema surgiu da vontade de retratar histórias que de alguma forma servissem de espelho, tanto para si quanto para o público, e que provocasse encantamento. Tratado com leveza, o tema homossexualidade é recorrente em suas obras. Nelas o diretor prefere fugir dos estereótipos, abordando a sexualidade apenas como mais uma das características de suas personagens.
Em entrevista para o Rebucetê, Daniel fala sobre seus curtas-metragem, o projeto do longa, a aceitação dos filmes gays no mercado brasileiro, entre outras coisas.
Em entrevista para o Rebucetê, Daniel fala sobre seus curtas-metragem, o projeto do longa, a aceitação dos filmes gays no mercado brasileiro, entre outras coisas.
O Rebucetê: Como surgiu a ideia do curta Café Com Leite? Esperava tamanha repercussão?
Daniel Ribeiro: O roteiro do Café com Leite surgiu quando eu estava finalizando o meu TCC sobre os personagens homossexuais no cinema brasileiro. Era como um anexo ao que eu estava pesquisando sobre o tema. Como era meu primeiro filme, não esperava qualquer repercussão
R: Por se tratar de um curta que aborda a homossexualidade, esperava uma reação preconceituosa do público?
DR: Esperava um pouco, sim! Mas a reação do público, incluindo os expectadores heterossexuais, foi muito positiva. Como o filme retratava a história de perda e reconstrução de uma família, as pessoas acabaram se identificando, independentemente da orientação sexual dos personagens.
R: Especula-se que o seu segundo curta "Não quero voltar sozinho" irá se tornar um longa. É fato? Se sim, como está o andamento do projeto?
DR: O projeto do longa surgiu paralelamente ao do curta. Estamos trabalhando nele há quase dois anos, escrevendo roteiro, captando verbas, firmando parcerias. Já temos uma parte do orçamento captado, mas ainda falta uma boa parte. Estamos esperançosos e pretendemos filmar em julho do ano que vem e lançar o filme em 2013.
R: Você já é conhecido como um diretor do cinema gay. Essa rotulação o incomoda? Gostaria dirigir películas com temas diferentes?
DR: O rótulo não me incomoda mas também não me prende. Não tenho como objetivo dirigir apenas filmes com temática gay. Apesar de alguns filmes gays no currículo, acho que é muito cedo pra me definir.
R: Acredita que existe espaço para filmes com temática gay no mercado brasileiro ou ainda há preconceito? Há apoio do mercado para diretores que abordam a temática?
Daniel Ribeiro: Há espaço, sim! Estive na Goiânia Mostra Curtas recentemente para uma mostra de curtas com temática LGBT. Existe uma quantidade enorme de curtas contando histórias de personagens homossexuais, o que mostra que vários realizadores se interessam pelo tema. Alguns longas com esta temática já foram lançados e tudo indica que novos títulos serão produzidos. Como grande parte do financiamento dos filmes no Brasil é feito com dinheiro incentivado pelo governo, há um espaço para histórias "alternativas". Já dinheiro vindo de empresas, cujas marcas seriam associadas à homossexualidade, é mais difícil de conseguir. Mas acredito que isto seja uma questão de tempo e no futuro poderemos contar com mais apoio e financiamento.
R: Ultimamente observarmos nas novelas uma maior exploração do gay como personagem. Enxerga isso como algo positivo ou acredita que há um uso ofensivo da imagem do homossexual?
DR: A quantidade de personagens gays que são retratados nas novelas atualmente é muito positiva, principalmente pela diversidade destes retratos, que faz com que o heterogêneo público homossexual consiga se enxergar nestas histórias. Além disso, permite um debate na sociedade em relação ao preconceito.
R: Acredita que o cinema, sobretudo o alternativo, tem espaço maior para trabalhar a questão da homossexualidade com uma responsabilidade social maior?
DR: Em comparação com a televisão, certamente o cinema consegue explorar temas considerados tabus com mais frequência e de forma mais profunda. Infelizmente o alcance é muito menor, mas ainda assim consegue exercer essa "função social" que é estimular o debate sobre o assunto. Filmes conseguem ultrapassar os limites do que a sociedade está acostumada a ver e discutir.
R: Acredita que o cinema tem um potencial transformador na sociedade?
Daniel Ribeiro: Sim! Talvez seja imperceptível e aconteça de forma pulverizada, mas as narrativas audiovisuais transformam o espectador. Alguns filmes mais, outros menos, mas o cinema faz com que os espectadores entrem em contato com universos que, muitas vezes, lhes eram desconhecidos e acabam refletindo e chegando a conclusões sobre estes temas.
Confira na íntegra o curta "Eu não quero voltar sozinho" do diretor Daniel Ribeiro :
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