domingo, 9 de setembro de 2012

“Critica como militância”- O Rebucetê Entrevista: Valmir Santos

Por Jéssica Lemos


Foto: Divulgação

Valmir Santos é jornalista cultural desde 1992. Edita o site independente Teatro Jornal- Leituras de Cena. Atualmente, colabora com críticas e reportagens para a revista Bravo! e o jornal Valor Econômico. Atuou na Folha de S. Paulo por dez anos. Graduado em Jornalismo em Mogi das Cruzes e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da USP. Integrou o júri paulista do Prêmio Shell de Teatro (2003-2011). Foi curador do 14º Festival Recife do Teatro Nacional, em 2011. Valmir esteve no FILTE - Festival Latino Americano de Teatro- ministrando um curso de crítica teatral. Em entrevista ao O Rebucetê, ele conta sobre sua carreira que nunca dissociou teatro de jornalismo.         


           
O Rebucetê - Como surgiu a idéia de criar o site Teatro Jornal?

Valmir Santos - Criei o site em 2010, quando saí da Folha de S. Paulo. Quando você sai da grande imprensa, o telefone para de tocar. E eu tenho vontade de continuar esse ofício, continuar circulando por festivais. O espaço da internet esta sendo mais propício para que a gente tenha mais liberdade e autonomia de vôo. Queria continuar isso num espaço que carregasse meu nome. Durante o trabalho na Folha de S. Paulo, na chamada “grande imprensa”, eu estava mais preocupado em ocupar espaço de teatro no jornal do que fazer de mim um grande nome. E depois que eu saí, eu vi que eu tinha um nome, que eu podia continuar sem o veículo. E me veio à vontade de continuar de forma independente.

OR - Na Folha de S. Paulo seu espaço para escrever sobre teatro era restrito?

V - Eu tinha espaço. Era uma geração muito pop naquela época que cuidava do caderno de cultura. O diretor era Sergio D’ávila, hoje, diretor executivo do jornal. Eu vibrava com o espaço. Hoje é mais restrito, mas nos meus 10 anos tinha muito trabalho.

OR - Hoje os meios de comunicação estão de certa forma “democratizados”. Isso através da internet. Hoje qualquer pessoa pode criar um blog, ter uma plataforma para se expressar e se dizer critico também. O que você pensa sobre essa democracia?

V - é saudável esse lugar que a internet está nos colocando. Pela minha própria experiência. A internet está se configurando como uma nova alternativa além do texto imprenso. O receio é quanto à banalização da opinião. A opinião tornou-se algo como curtir e não curtir, algo muito reducionista. Temo que às vezes se perca algum fôlego de pensamento sobre a análise de uma obra e que seja muito ligeiro no modo de se passar por ela. Eu passo para os meus alunos a questão de ontológica. Você pode analisar um espetáculo que você conhece alguém. É preciso ter um distanciamento. E nunca trair a sua verdade em relação as suas convicções. Eu só espero que a internet não seja uma corrente diluidora.  Isso, pelo nosso tempo ser marcado pela “ligeirisse”.

OR - Escrever para um jornal como o Valor Econômico e a revista Bravo!, que ambos têm um público bem específico, faz com que você use uma linguagem diferente? Existe alguma restrição?

V - A revista Bravo! tem um penhor mais ensaístico dos textos. Há uns cinco anos foi vendida para a editora Abril. Ela passa a fazer parte de uma linha de pensamento editorial que possui milhares de títulos. E ela tem sua recepção modificada em termos de seu público-alvo. Escrever para a revista Bravo! é um aprendizado para mim, porque é uma outra configuração. Diferente do jornal diário, o qual estava mais próximo. Dentro da revista eu tenho que fazer algumas adaptações. Por exemplo, a crítica ela tem que ter cinco parágrafos. Eu não posso entrar em estruturas muito elaboradas, porque eu tenho que pensar em um leitor mediano que pode estar entrando ali naquele momento, ou o leigo que quer conhecer. È outra configuração, tem que priorizar a sinopse do espetáculo. È diferente. O Valor Econômico é um espaço mais autônomo, mais inteligente, mais aberto e que me instiga mais. É um jornal que eu aprendi a gostar muito, ele tem um espaço cultural diário e na sexta sai um caderno de cultura. O jornal é mais analítico. E o grupo Globo e o grupo Folha, que são os donos, se uniram para fazer um jornal econômico, que é o Valor. São públicos diferentes.

OR - É comum os críticos musicais serem chamados de músicos frustrados. Isso aconteceu com você quanto ao teatro?

V - Nunca falaram diretamente pra mim. Eu acho de uma forma geral é uma visão reducionista. Se um profissional criador acaba migrando para área da crítica, ele só tem a ganhar por carregar essa bagagem. È relativo. É um lugar comum falar que o critico é um profissional frustrado, principalmente quando o crítico tem uma observação negativa.

OR - Você se realizou como ator como você é realizado na critica?

V - Não. Eu sempre achei que eu em cena era o Valmir e não o personagem. Nos laboratórios e nos ensaios, meus amigos transcendiam. E eu sempre tive dificuldade.

OR - Qual a dica que você dá para quem quer ser crítico teatral? Quais passos seguir?

V - Primeiro se permitir. Ir muito ao teatro. Diminuir seus gostos pessoais, pré- julgamentos. Ter respeito pela comédia, pelo drama, pelo teatro físico...  Assistir veteranos. Assistir recém-formados. Ir ao teatro e fazer disso um momento prazeroso. É uma forma de travar contatos com esse universo e cultivar o gosto pela cena e pelo exercício da critica que virá. Conhecer o seu espaço muito bem. Quem são os criadores locais. Ter a crítica como militância, como o Decio de Almeida Prado fez.

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