Por Jéssica Lemos
Foto: Divulgação |
Valmir Santos é jornalista cultural desde 1992. Edita o site
independente Teatro Jornal- Leituras de Cena.
Atualmente, colabora com críticas e reportagens para a revista Bravo! e o jornal Valor Econômico. Atuou na Folha de S.
Paulo por dez anos. Graduado em Jornalismo em Mogi das Cruzes e Mestre pelo
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da USP. Integrou o júri paulista do
Prêmio Shell de Teatro (2003-2011). Foi curador do 14º Festival Recife do
Teatro Nacional, em 2011. Valmir esteve no FILTE - Festival Latino Americano de
Teatro- ministrando um curso de crítica teatral. Em entrevista ao O Rebucetê,
ele conta sobre sua carreira que nunca dissociou teatro de jornalismo.
O Rebucetê - Como
surgiu a idéia de criar o site Teatro Jornal?
Valmir Santos - Criei o site em 2010, quando saí
da Folha de S. Paulo. Quando você sai da grande imprensa, o telefone para de
tocar. E eu tenho vontade de continuar esse ofício, continuar circulando por
festivais. O espaço da internet esta sendo mais propício para que a gente tenha
mais liberdade e autonomia de vôo. Queria continuar isso num espaço que
carregasse meu nome. Durante o trabalho na Folha de S. Paulo, na chamada “grande
imprensa”, eu estava mais preocupado em ocupar espaço de teatro no jornal do
que fazer de mim um grande nome. E depois que eu saí, eu vi que eu tinha um
nome, que eu podia continuar sem o veículo. E me veio à vontade de continuar de
forma independente.
OR - Na Folha de S. Paulo seu espaço
para escrever sobre teatro era restrito?
V - Eu tinha espaço. Era uma geração
muito pop naquela época que cuidava do caderno de cultura. O diretor era Sergio
D’ávila, hoje, diretor executivo do jornal. Eu vibrava com o espaço. Hoje é
mais restrito, mas nos meus 10 anos tinha muito trabalho.
OR - Hoje os meios de comunicação
estão de certa forma “democratizados”. Isso através da internet. Hoje qualquer
pessoa pode criar um blog, ter uma plataforma para se expressar e se dizer
critico também. O que você pensa sobre essa democracia?
V - é saudável esse lugar que a
internet está nos colocando. Pela minha própria experiência. A internet está se
configurando como uma nova alternativa além do texto imprenso. O receio é
quanto à banalização da opinião. A opinião tornou-se algo como curtir e não
curtir, algo muito reducionista. Temo que às vezes se perca algum fôlego de pensamento
sobre a análise de uma obra e que seja muito ligeiro no modo de se passar por
ela. Eu passo para os meus alunos a questão de ontológica. Você pode analisar
um espetáculo que você conhece alguém. É preciso ter um distanciamento. E nunca
trair a sua verdade em relação as suas convicções. Eu só espero que a internet não
seja uma corrente diluidora. Isso, pelo
nosso tempo ser marcado pela “ligeirisse”.
OR - Escrever para um jornal como o
Valor Econômico e a revista Bravo!, que ambos têm um público bem específico,
faz com que você use uma linguagem diferente? Existe alguma restrição?
V - A revista Bravo! tem um penhor
mais ensaístico dos textos. Há uns cinco anos foi vendida para a editora Abril.
Ela passa a fazer parte de uma linha de pensamento editorial que possui
milhares de títulos. E ela tem sua recepção modificada em termos de seu público-alvo.
Escrever para a revista Bravo! é um aprendizado para mim, porque é uma outra
configuração. Diferente do jornal diário, o qual estava mais próximo. Dentro da
revista eu tenho que fazer algumas adaptações. Por exemplo, a crítica ela tem
que ter cinco parágrafos. Eu não posso entrar em estruturas muito elaboradas, porque
eu tenho que pensar em um leitor mediano que pode estar entrando ali naquele
momento, ou o leigo que quer conhecer. È outra configuração, tem que priorizar
a sinopse do espetáculo. È diferente. O Valor Econômico é um espaço mais
autônomo, mais inteligente, mais aberto e que me instiga mais. É um jornal que
eu aprendi a gostar muito, ele tem um espaço cultural diário e na sexta sai um
caderno de cultura. O jornal é mais analítico. E o grupo Globo e o grupo Folha,
que são os donos, se uniram para fazer um jornal econômico, que é o Valor. São
públicos diferentes.
OR - É comum os críticos musicais
serem chamados de músicos frustrados. Isso aconteceu com você quanto ao teatro?
V - Nunca falaram diretamente pra
mim. Eu acho de uma forma geral é uma visão reducionista. Se um profissional
criador acaba migrando para área da crítica, ele só tem a ganhar por carregar
essa bagagem. È relativo. É um lugar comum falar que o critico é um
profissional frustrado, principalmente quando o crítico tem uma observação
negativa.
OR - Você se realizou como ator como
você é realizado na critica?
V - Não. Eu sempre achei que eu em
cena era o Valmir e não o personagem. Nos laboratórios e nos ensaios, meus
amigos transcendiam. E eu sempre tive dificuldade.
OR - Qual a dica que você dá para
quem quer ser crítico teatral? Quais passos seguir?
V - Primeiro se permitir. Ir muito ao
teatro. Diminuir seus gostos pessoais, pré- julgamentos. Ter respeito pela
comédia, pelo drama, pelo teatro físico...
Assistir veteranos. Assistir recém-formados. Ir ao teatro e fazer disso
um momento prazeroso. É uma forma de travar contatos com esse universo e
cultivar o gosto pela cena e pelo exercício da critica que virá. Conhecer o seu
espaço muito bem. Quem são os criadores locais. Ter a crítica como militância,
como o Decio de Almeida Prado fez.
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