domingo, 26 de agosto de 2012

O Rebucetê Entrevista: Leoni

Por Thaís Pimenta


A juventude pode ser compreendida como período das inciações, em que  se vivencia e experimenta as primeiras formas de  amor. As músicas a compor a  trilha sonora de cada um vêm refletir acerca dos lugares e significados que são  atribuidos à vida amorosa. Histórias de amor, romance e desilusão são temas que não se encerram e estão sempre abertos para novas versões. E assim, o modo de conceber o amor se torna a maior aposta dos grandes compositores. Leoni, principal compositor do grupo Kid Abelha e que segue carreira solo desde 1993, não foge a regra. Músicas como "Garotos" e "Educação Sentimental", cantadas para uma geração anterior, transcendem o tempo e se tornam atuais para os novos jovens.

Século XXI. Os amores  passam a transitar entre o real  e o virtual. Mas não é só o amor que passa a ter uma configuração diferente a partir dessa digitalização do mundo, as práticas de compartilhamento de músicas também são modificadas.  Leoni vem transgredir nesse sentindo também, se adaptando às novas relações estabelecidas pela internet, hoje é um dos principais artistas que debate e discute temas como download de músicas e Ecad. E todos os seus singles  são disponibilizados com link para download gratuito e para venda no Itunes.

No dia 21 desse mês, Leoni lançou seu mais novo trabalho, o EP "Parcerias". Como o nome sugere, no projeto há a participação de grandes nomes da "velha-guarda" como Ivan Lins e de uma galera mais nova no cenário musical, como Móveis Coloniais de Acaju e Fernando Anitelli do grupo Teatro Mágico. Hoje (26), Leoni se apresenta no palco  principal do Festival de Inverno Bahia, em Vitória da Conquista, onde também se apresentam a dupla Jorge e Mateus e o grupo de Axé Music Ása de Águia. Essa já é a terceira apresentação do cantor na cidade. O Rebucetê conversou com Leoni sobre a atemporalidade de suas canções, sobre o debate do download livre e Ecad e sobre as antigas e novas parceiras. O resultado dessa conversa compartilhamos com você agora!

O Rebucetê: Em suas composições temas como amor e romance sempre foram presentes. Leoni cantou isso pra juventude anterior e essas músicas se fazem presentes para os jovens de hoje. Gostaríamos que você nos falasse um pouco sobre esse processo de composição atemporal:

Leoni: As pessoas são muito parecidas, né? Então quanto mais a gente fala da gente,mais a gente se comunica com as pessoas. Quando eu fazia essas canções, principalmente no começo do Kid Abelha, " Educação Sentimental",era realmente um aprendizado com o público, de relacionamento.Quando a gente colocava dificuldade nesses problemas de alguma forma a garotada se identificava com o que tava acontecendo. E quem não era garoto na época já tinha passado por isso. E é isso que acontece com as músicas que falam desse período, inclusive era um período em que o Renato Russo elegeu se concentrar. Ele falava que o Renato Manfredini pessoalmente iria envelhecer, mas o Renato Russo nunca passaria de 27 anos, porque o assunto da Legião Urbana era esse: O mundo que eu tô vendo não é um mundo que eu vivo;queria me adaptar nesse mundo mas eu não consigo;queria mudar o mundo mas não dá. Essa vontade de  mudar e dificuldade de se adaptar é um assunto muito interessante para diversos escritores e compositores. Então eu acho que é por isso que essas músicas continuam. Sempre tem gente passando por esse processo a vida inteira. Temos a ilusão que em determidado momento nossa vida vai tá resolvida, que vamos ter uma carreia bacana, estável, a familia também, e as coisas nunca são assim. Então de alguma forma  nós estamos sempre passando por isso.

OR: Em seus trabalhos você sempre trouxe grandes parcerias. No passado com Cazuza, Hebert Viana, agora com Moveís Colonias e Teatro Mágio, entre outros. Como se estabelece essa relação entre você e esse seus "parceiros"?

Leoni e Móveis no Festival da Juventude/ Foto: Ayume Oliveira
Leoni:Eu sou um cara inviel com os meus parceiros, sempre gostei disso. Eu continuo compondo com o pessoal da minha geração. Eu gosto muito de compor com Frejat, Paulinho Moska, mas tem inúmeros artistas novos que eu tenho vontade de copor  também. E agora eu tô lançando um EP só  de parceiras recentes. É o primeiro volume de Eps com parcerias. Nesse tem  Movéis Coloniais, Teatro Mágico, mas tem com Paulinho Moska e  tem Ivan Lins, da geração anterior.Que me deixa um bocado honrado, Lins é um artista que eu admirava quando era adolescente. Eu gosto dessa conversa, colaboração. E não quero parar com isso não, sempre encontro com um artista interessante quero mais do que ficar amigo, quero virar parceiro.

OR: Todos seus trabalhos recentes são agora disponibilidados para download livre e também à venda no Itunes. Qual a importancia de disponibilizar as duas possibilidades?

Leoni: Eu boto a venda porque pode ser que alguém queira comprar, não vou desperdiçar essa oportunidade. Mas, o mais importante pra mim é que as pessoas baixem minhas músicas e as divulguem, pois isso vai gerar mais shows, um contato maior com as pessoas, eu vou conseguir mostrar o meu trabalho.Já que é muito dificil entrar nas grandes rádios, nos grandes programas de tv sem você ter uma gravadora, pelo menos eu chego na casa das pessoas através do download. Quando alguma pessoa baixa uma música no meu site, gosta muito, envia para um amigo, que aí envia pra outro e a música vai circulando dessa forma. Mas de qualquer forma está lá a venda no Itunes. Alguns artistas nos Estado Unidos que dão e vendem músicas descobrem também que eles vendem mais quando dão mais. Tem um artista famoso nos EUA que ele colocava no site duas canções com o link para download gratuito e o link para comprar no Itunes, quando ele tirou o link gratuito pra fazer um teste, as vendas no Itunes caíram, como as pessoas não conheciam as músicas porque não tinham o download gratuito acabam não comprando.

OR: Falando agora um pouco sobre o Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorias - Ecad, que este ano passou por mais uma CPI. Você acha que hoje a classe artistica está mais organizada para lidar com a questão dos direitos autorais?

Leoni: Não, eu não acho. Mas já tem uma parte da classe que está mobilizada pra isso e que entende que o direito autoral como ele é hoje ele engessa a circulação de informação e de cultura. Ele foi criado em uma epoca que não havia digitalização, compartilhamento e aí eu fico meio revoltado de ver que os estudios de cinema e as gravadoras conseguiram inventar o termo pirataria digital. Pirataria é uma coisa muito violenta, né? Piratas são aqueles que entravam, saquevam, roubavam, matavam. Quem compartilha da música da gente é porque gosta, faz por carinho. Não existe pirataria digital, existe compartilhamento. Meu fã não é pirata. Quem gosta de mostrar minhas música pros amigos não está me roubando, pelo ao contrário,ele tá me ajudando, tá distribuindo  minha música de graça, eu tenho que ser grato, eu não tenho que condenar esse cara, ir pra justiça, proibi-lo de fazer isso. E os artistas estão começando a perceber que  tem que ser repensado o direito autoral, do jeito que tá é um mal pra todo mundo, é um mal pro artista e pra sociedade.

O Rebucetê Indica:

Conheça a parceria entre Leoni e Paulinho Moska, que está presente no EP Parcerias:

0 comentários:

Postar um comentário