Por Rafael Flores
Raul Seixas! É só lembrar do seu nome e milhões de
imagens se formam na minha e nas milhares de cabeças de fãs Brasil afora.
Afinal ele foi um dos primeiros brasileiros que importou a alma roqueira,
pouco se lixava pra linha evolutiva da música popular brasileira e ironizava a
tal da canção de protesto. O cara também conseguiu deixar rastros comparáveis
aos do seu ídolo Elvis Presley, como exemplo os milhares de sósias e covers que
resistem por aí. E pros mais ortodoxos, um show que não responde ao onipresente
“Toca Raul”, não merece muitos aplausos.
Este ano foi especial para os raulseixistas por conta da
estreia do filme “Raul Seixas – O início, o fim e o meio”, dirigido por Walter
Carvalho (Budapeste). Do roqueiro descarado ao alcoolatra inconsequente,
o documentário consegue mostrar, sem muitas delongas, todos os principais
percursos do canceriano sem lar. Confesso que fiquei esperando uma inovação na
narrativa seguindo a não ordem cronológica proposta no título, mas talvez seria
meio piegas.
Raul não tinha perfil de ídolo, ele sempre viveu em outro
mundo, mesmo que para inventar o artista dentro de si tenha idolatrado os seus,
tais como Elvis e Chuck Berry. Walter Carvalho acerta na escolha da maioria dos
entrevistados e consegue mostrar através deles e das imagens de arquivo o Raul
dos poucos acordes, o artista que queria se fazer entender para o máximo de
pessoas possível.
Fundamentais para o desenvolvimento do ‘doc’, os já batidos
em qualquer estória que se atrevam a contar sobre Raul, seu irmão Plinio
Seixas, o Plininho e o escritor Paulo Coelho ficam com as principais partes da
narrativa. O envolvimento com as drogas e os misticismos da vida são bem
explicados pela voz anasalada do escritor em sua casa, na Suíça. Há lugar
também para a imprensa: Nelson Motta, clichê em documentários musicais e Pedro
Bial, clichê em qualquer coisa, divagam o que qualquer estudioso da música
nacional falaria, como exemplo a sacada de Raul em mesclar ritmos da cultura
popular com as guitarras, o que viria a ser uma das bandeiras dos
tropicalistas.
Mais um personagem desnecessário é o ator Daniel de
Oliveira, que desperdiça alguns segundos do filme contando que o seu filho se
chama Raul e uiva seu nome quando lhe é perguntado. Por outro lado, a presença de outro fã, Sylvio Passos, fundador do Raul Rock Club que se tornou amigo do roqueiro, nos apresenta o poder de encantamento que Raul causava sobre os que o cercavam, sejam os parceiros, fãs ou mulheres.
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Sylvio Passos/ Foto: Divulgação |
Uma boa
surpresa é a presença de Caetano Veloso, que fala com carinho sobre Ouro de
Tolo e sobre o contato com os últimos e piores dias da vida de Raul. E já o
dentista que cuidou dos seus dentes no fim da vida, parece inútil a primeira
vista, no entanto ao decorrer de sua fala se mostra importantíssimo para o
início da conclusão do filme.
O fim é angustiante, a obra do cara é deixada um pouco de
lado e as especulações entre suas últimas companheiras passam a ser o foco. De
quem foi a culpa pela morte de Raul Seixas? Até a relação com Marcelo Nova
(responsável pela última turnê de Raul) é alvo de comentários ressentidos e
cheios de desconfiança. A empregada que por vezes parece mesmo ter mania de
artista e por outras demonstra um afeto que não conseguiu sair dos olhos de
nenhuma das suas esposas nas suas respectivas falas, relembra os momentos
finais do rei do rock baiano e é levada de volta à porta do apartamento do
patrão. Esta última cena descrita só não arranca mais arrepios que a legião de
fãs reunida entoando a música composta para Plininho, Meu Amigo Pedro, em uma
edição da Marcha para Raul, que acontece desde 1991 no centro de São Paulo a
todo 21 de agosto, data de sua morte.
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Marcelo Nova e Raul Seixas/ Foto: Raul Rock Club |
Ainda não temos uma sala de cinema na cidade que contemple
outras produções além dos blockbusters e muito provavelmente não veremos ele em
cartaz no Moviecom. Mas tenha fé em Deus, tenha fé na vida, pois ainda há
esperanças. A produção é uma das minhas fortes apostas para o que rolará na
programação da Mostra de Cinema Conquista 2012, a qual acontece no mês de
setembro, em Vitória da Conquista. Isto por ter assistido uma boa quantidade de
documentários musicais nas últimas edições, como exemplo: LOKI, Os Filhos de
João, Simonal –Ninguém Sabe o Duro que Dei e Uma Noite em 67 .
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