quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Rebucetê Indica: Raul Seixas - O Início, o fim e o meio

Por Rafael Flores


Raul Seixas! É só lembrar do seu nome e milhões de imagens se formam na minha e nas milhares de cabeças de fãs Brasil afora.  Afinal ele foi um dos primeiros brasileiros que importou a alma roqueira, pouco se lixava pra linha evolutiva da música popular brasileira e ironizava a tal da canção de protesto. O cara também conseguiu deixar rastros comparáveis aos do seu ídolo Elvis Presley, como exemplo os milhares de sósias e covers que resistem por aí. E pros mais ortodoxos, um show que não responde ao onipresente “Toca Raul”, não merece muitos aplausos. 

Este ano foi especial para os raulseixistas por conta da estreia do filme “Raul Seixas – O início, o fim e o meio”, dirigido por Walter Carvalho (Budapeste).  Do roqueiro descarado ao alcoolatra inconsequente, o documentário consegue mostrar, sem muitas delongas, todos os principais percursos do canceriano sem lar. Confesso que fiquei esperando uma inovação na narrativa seguindo a não ordem cronológica proposta no título, mas talvez seria meio piegas.
Raul não tinha perfil de ídolo, ele sempre viveu em outro mundo, mesmo que para inventar o artista dentro de si tenha idolatrado os seus, tais como Elvis e Chuck Berry. Walter Carvalho acerta na escolha da maioria dos entrevistados e consegue mostrar através deles e das imagens de arquivo o Raul dos poucos acordes, o artista que queria se fazer entender para o máximo de pessoas possível.

Fundamentais para o desenvolvimento do ‘doc’, os já batidos em qualquer estória que se atrevam a contar sobre Raul, seu irmão Plinio Seixas, o Plininho e o escritor Paulo Coelho ficam com as principais partes da narrativa. O envolvimento com as drogas e os misticismos da vida são bem explicados pela voz anasalada do escritor em sua casa, na Suíça. Há lugar também para a imprensa: Nelson Motta, clichê em documentários musicais e Pedro Bial, clichê em qualquer coisa, divagam o que qualquer estudioso da música nacional falaria, como exemplo a sacada de Raul em mesclar ritmos da cultura popular com as guitarras, o que viria a ser uma das bandeiras dos tropicalistas.

Mais um personagem desnecessário é o ator Daniel de Oliveira, que desperdiça alguns segundos do filme contando que o seu filho se chama Raul e uiva seu nome quando lhe é perguntado. Por outro lado, a presença de outro fã, Sylvio Passos, fundador do Raul Rock Club que se tornou amigo do roqueiro, nos apresenta o poder de encantamento que Raul causava sobre os que o cercavam, sejam os parceiros, fãs ou mulheres. 

Sylvio Passos/ Foto: Divulgação
Uma boa surpresa é a presença de Caetano Veloso, que fala com carinho sobre Ouro de Tolo e sobre o contato com os últimos e piores dias da vida de Raul. E já o dentista que cuidou dos seus dentes no fim da vida, parece inútil a primeira vista, no entanto ao decorrer de sua fala se mostra importantíssimo para o início da conclusão do filme. 

O fim é angustiante, a obra do cara é deixada um pouco de lado e as especulações entre suas últimas companheiras passam a ser o foco. De quem foi a culpa pela morte de Raul Seixas? Até a relação com Marcelo Nova (responsável pela última turnê de Raul) é alvo de comentários ressentidos e cheios de desconfiança. A empregada que por vezes parece mesmo ter mania de artista e por outras demonstra um afeto que não conseguiu sair dos olhos de nenhuma das suas esposas nas suas respectivas falas, relembra os momentos finais do rei do rock baiano e é levada de volta à porta do apartamento do patrão. Esta última cena descrita só não arranca mais arrepios que a legião de fãs reunida entoando a música composta para Plininho, Meu Amigo Pedro, em uma edição da Marcha para Raul, que acontece desde 1991 no centro de São Paulo a todo 21 de agosto, data de sua morte.

Marcelo Nova e Raul Seixas/ Foto: Raul Rock Club
Ainda não temos uma sala de cinema na cidade que contemple outras produções além dos blockbusters e muito provavelmente não veremos ele em cartaz no Moviecom. Mas tenha fé em Deus, tenha fé na vida, pois ainda há esperanças. A produção é uma das minhas fortes apostas para o que rolará na programação da Mostra de Cinema Conquista 2012, a qual acontece no mês de setembro, em Vitória da Conquista. Isto por ter assistido uma boa quantidade de documentários musicais nas últimas edições, como exemplo: LOKI, Os Filhos de João, Simonal –Ninguém Sabe o Duro que Dei e Uma Noite em 67 .

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