domingo, 20 de novembro de 2011

Termo "axé music" nasceu pejorativo, mas se tornou forte | Hagamenon Brito explica

Foto: Daniele Rodrigues (Labfoto/Facom)
Por Jéssica Lemos

No dia 05 de Outubro, no auditório da Facom-UFBA aconteceu o ciclos de jornalismo, atividade permanente de extensão, que objetiva contribuir para o conhecimento de jornalismo e a aproximação da academia com o mercado de trabalho. 

A proposta do Ciclos de Jornalismo é enriquecer e estreitar a discussão entre academia e a prática jornalística em seus vários segmentos (designer, infografia, impressão, assessoria, mobilidade, jornais, revistas, portais, rádio, televisão etc).

O tema dessa edição foi “Jornalismo Cultural”, a mesa de debate foi composta por diversos críticos culturais, dentre eles Hagamenon Brito (crítico musical do Jornal Correio*) que concedeu a seguinte entrevista:


Como surgiu o termo “axé music”?


Eu sou de uma formação musical roqueira. Eu era roqueiro na década de 80, quando surgiu o axé music. Ninguém gostava do axé music. Era uma coisa brega. De mau gosto. Tudo que não era legal, ou era muito carnavalesco a gente chamava de axé. Eu acrescentei o music porque já tinha o termo som music, o reggae music. Então eu acrescentei de forma pejorativa, achando que aquele som que tinha a pretensão de ganhar metade do planeta, jamais conseguiria se tornar algo realmente forte e tão grande. Quebrei a cara, porque o negócio de fato se tornou muito grande. No início eles todos de um modo geral detestavam o termo. Foi preciso que a mídia do sul gostasse do termo para que ele fosse aceito entre os artistas. A banda Beijo foi a primeira a utilizar o termo.



Até que ponto pode-se dizer que a crítica cultural é jornalismo?



De certo modo sempre há uma coisa na crítica que é meio ambígua. É difícil escrever uma arte. Ela já nasce de certa forma ambígua, mas isso vale pra qualquer tipo de crítica. E é jornalismo porque você investe também em reportagem. Não é apenas uma opinião que você fala seu gosto pessoal. A partir disso interfere também na música. Você chega ao ponto de descrever o artista, o ser humano. E procurando se especializar e procurando revelar ao leitor alguma coisa a mais do que o óbvio que já esta ali. Isso é jornalismo também, principalmente se tiver uma formação de jornalista no sentido mais clássico.



Você se sente mais jornalista ou mais crítico?



Mais jornalista. Apesar de eu ter feito jornalismo porque eu gostava de cultura. Eu fui repórter e sou essencialmente repórter. Uma coisa é ser crítico musical, outra coisa é ser um crítico musical que conhece e se especializa. Isso tem um apelo maior. Você se torna mais conhecido e se envolve com a polêmica. Eu gosto da polêmica, eu gosto da influência do new jornalism americano e de pessoas como Paulo Francis. Ao menos que você seja só colunista, e não tenha uma formação direta, se especializa em alguma coisa e se torna colunista, então é diferente, porque você não vive a redação e não vive a reportagem.



Como você define uma boa crítica musical?



Vou falar um clichê. Construtiva. Exatamente aquela que você procura não colocar apenas seu gosto musical, porque toda crítica passa por um gosto musical inegável. Então vem a formação de cada critica, porque passa pela formação de cada um, mas que você procura ver como um todo. Isso acontece quando os críticos musicais são muitos jovens, embora desde cedo você goste de polêmica e chame a atenção. Só com um tempo você ganha experiência para criticar uma coisa. Conhecer o que está se fazendo sem ter um modelo, quando você é muito jovem e gosta de determinado assunto, acaba pecando muito.Tem coisas que eu escrevi a 20 anos atrás, que eu olho hoje e tenho vergonha. Não me arrependo, mas hoje não escreveria isso de maneira alguma.



Como você vê  a influência da internet na crítica musical?




É bom. Porque você tem mais fontes. Você tem mais elementos. Isso te ajuda a renovar seus conceitos. Com a internet, acabou a distinção do que é especialista (jornalismo) e o que é amador. A maioria que escreve na internet não é especialista e pode derrepente fazer com que aquela critica reverbere de forma importante para o artista. Por exemplo, Claudia Leite se incomodou mais com a crítica das redes sociais do que com a crítica especializada, então ela deu o que eu considero um "tiro no pé'. Um anti-marketing. Se ele não tivesse respondido às redes sociais, as criticas amadoras teriam passado em branco. Acredito que dificilmente um artista mais experiente teria feito o que ela fez.


Você afirmou durante o debate que a crítica como crítica estruturada acabou. Que o público busca uma mistura de resenha, informação e serviço. Explique melhor sua definição.

A critica especializada na academia é um bloco especializado. O jornalismo estruturado é uma coisa maior, requer um espaço maior e uma atenção maior. 



O jornalismo diário não tem mais espaço para isso. Por isso vai para o lado da resenha. A crítica estruturada necessita de um espaço de tempo. O que a gente produz num dia é pouco e teria que ser renovado diariamente. A crítica como crítica estruturada não acabou. Ela se adaptou aos novos tempos.

Os jornais foram diminuindo o espaço cultural, você vai sendo usado por essa cultura de celebridades. Você também incorpora quando vai fazer uma critica. Agora, quando você faz uma crítica, faz uma mistura, uma resenha, falando o que pensa do contexto que aquilo foi feito, ao mesmo tempo, fala um pouco de informação e um pouco dos detalhes interessantes da vida desse artista. Não dá para falar só da parte musical, tem que falar do contexto pelo qual ele passou. Numa crítica estruturada, você fala durante três páginas sobre como é o trabalho do artista, analisa música por música, o trabalho dele, a produção e a relação com a historia da som music. Fica mais cerebral. Mais teórico. Isso é o que eu chamo de critica estrutural.

Veja ainda a cobertura completa do evento :

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