domingo, 20 de novembro de 2011

Crítica: Rota 66 - A História da Polícia que Mata

                                                       


Por Lu Mota 

 Rota 66 - A História da Polícia que Mata é uma obra do jornalista brasileiro Caco Barcellos. Esse livro traz um relato impressionante e esclarecedor sobre a violência policial no estado de São Paulo entre os anos  70 e 92. A polícia que mata, ao qual o escritor se refere, denomina-se Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Durante a leitura, somos guiados pela experiência de Caco Barcelos em reportagem policial a enxergar um submundo que não imaginamos ser tão real e cruel. É um estudo do caos em que se transformou a sociedade brasileira durante e depois do período da ditadura mostrando a injustiça e a discriminação social e racial nas periferias. O livro traz duas historias que atraem o leitor. A primeira o fato em si. A realidade que na maioria das vezes é camuflada pelos órgãos públicos. A polícia, que em alguns casos tem de ser sanguinária. O abuso de autoridade. A violência pela violência. Citando nomes e desmascarando a impunidade desses servidores da sociedade que servem apenas a si mesmo desconsiderando a vida alheia. Um olhar critico de uma sociedade regrada pela falta de bom senso. A segunda é  o trabalho fascinante de um jornalista. Durante todo o relato, Caco insiste em nos manter atentos às formas usadas pelos policiais para “maquiar” às cenas dos supostos “confrontos com bandidos”. Não é possível se decidir por quais aspectos são mais impressionantes. As estatísticas de óbitos são maiores do que as de algumas guerras. A maioria das vítimas mortas por policiais não tinha passagem pela polícia. Os corpos eram removidos para os hospitais depois de mortos com a intenção de se apagar as marcas das cenas dos supostos confrontos. Os policiais recebiam condecorações por suas ações “heróicas”. A busca pela verdade levou Caco Barcelos há passar sete anos debruçados sobre documentos do IML em uma ocasião em que ele havia conseguido uma permissão para vasculhar as pilhas de pápeis empoeiradas numa sala. A investigação levou à identificação de 4.200 vítimas, entre jovens e deliquentes, mortos pela Polícia Militar de São Paulo. Ele confrontou vários dados e chegou às conclusões expostas no livro, que é um verdadeiro documento contendo a história de um período terrível, um período em que as pessoas louvavam os chefes de polícia e governantes, a propaganda fazia acreditar que policiais eram heróis “holywodianos” e a população de homens pobres e negros era massacrada. E a verdade veio à tona nesse livro-reportagem Rota 66, e depois do lançamento do livro, Caco passou um período fora do Brasil, pois sua vida corria risco - o livro irritou profundamente algumas esferas, sobretudo a dos coronéis da polícia militar e por isso teve 18 ações na justiça contra ele, mas foi absolvido em todas. Esse trabalho fascinante de um jornalista e a narrativa rápida envolve o leitor desde as primeiras linhas. Recomendo à todos da área da comunicação.

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