Por Luiza
Audaz
Pedro Pondé/ Foto: Luiza Audaz |
As coberturas
das Noites Fora do Eixo em Vitória da Conquista tem sido um verdadeiro
espetáculo. Foram diversas entrevistas e vídeos com bandas de diferentes
lugares do país que têm presenteado a casa com uma efusão de diversidade
musical e reunido um público de diferentes cenas, em convite a dar uma saída
pela noite, rever os amigos, interagir com gente nova e curtir o melhor do som.
A noite da
última sexta (17) não seria diferente, o Viela Sebo Café contava com um público
ansioso pra curtir o reggae da Ramanaia e rever a banda Scambo, agora de volta,
que chegava direto do show de lançamento do novo álbum FLARE, acontecido na
noite anterior no Teatro Vila Velha em Salvador. Cheios de gás e energia, os
garotos chegaram prontos a compartilhar e celebrar com o público conquistense.
A banda possui
em sua formação atual Tosto (guitarra), Graco (guitarra e voz), Ricardo
(bateria), conta com a participação do baixista Tiago Ribeiro e com o impulso e
energia do produtor Fernando Maia que reuniu os músicos e também engatou o
processo de retomada. Assim, a Scambo, depois de quase 10 anos sem se
apresentar nos palcos da cidade, subiu ao palco do Viela iniciando o show com
músicas conhecidas do público, com um repertório que contemplava grande parte dos
CDs da trajetória, surpreendendo e
agradando o público e a quem se enganou ao pensar que o FLARE seria o maior
contemplado.
Dessa vez
minha missão estava para traduzir as coberturas em audiovisual para um treino
com as palavras, trabalhar com imagens, recortando as expressões, sons e cores
de muitas dessas noites se converteu numa troca de palavras com o vocalista da
banda Scambo, Pedro Pondé, que rendeu a seguinte entrevista. Falamos, dentre
outras coisas, sobre o lançamento do novo álbum que vem com uma pegada acústica
e sobre a influência do teatro na carreira do cantor, refletida no trabalho com
a música e vista em suas interpretações efusivas.
O Rebucetê: Fale um pouco sobre como foi o lançamento do novo projeto da Scambo na quinta (16) no Teatro Vila Velha. Já sabemos que além das músicas do novo CD, você presenteou o público com canções que já estão marcadas pela sua voz como Muito Romântico, como foi este momento?
Foto: Luiza Audaz |
Pedro Pondé:
Muito bacana primeiro porque o Vila Velha é um espaço lindíssimo que tem uma
estrutura muito boa pra música, pra teatro. Um lugar preparado pra isso. A
gente sabe que Salvador tem muita banda independente, mas tem muito pouco
espaço feito pra se ouvir música e tocar num espaço preparado é muito mais
legal, sabe; e nós criamos uma expectativa grande, o público também criou uma
expectativa grande porque nós já estávamos fazendo show há um ano com as músicas
que a gente já tocava algum tempo - que o pessoal já conhecia, cantava junto -
e esse foi o lançamento de um trabalho novo que eu acho que consolidou a nossa
volta, a nossa continuidade enquanto banda. Acho que todas as pessoas tomaram
consciência que a gente voltou e não tá pra brincadeira, a gente voltou de
verdade.
[Pedro
ainda acrescentou sobre a relação com o público]
PP: Com
a internet vamos atualizando as pessoas de cada passo do trabalho, então as
pessoas acabam participando mais. Elas se sentem mais inseridas no processo
todo, não só no show; elas sabem como é que está o estado de espírito do
músico, como é que tá o processo, se tá ensaiando, se tá gravando, onde vai ser
gravado, então as informações chegam muito facilmente nas pessoas hoje.
Foto: Luiza Audaz |
OR: Você é
um músico que esboça em suas interpretações uma ligação muito visceral com as
letras e melodias. Fale um pouco sobre o fato de você ter uma formação de ator
e como isso reverbera em suas vivências
musicais.
PP: Na
verdade minha formação é de teatro e até hoje eu encaro a música como teatro,
até pra compor, pra cantar, e isso tá muito impregnado. Eu me sinto mais ator
até do que cantor, eu acho que sou um ator cantando e não um cantor atuando.
Fiz teatro por muito tempo da minha vida, fiz teatro infantil, fiz teatro de
rua numa fase da vida que eu estava começando a me formar - que foi
adolescência -, então, tá muito em mim, minha forma de ver o mundo foi muito
influenciada pelo teatro, de uma forma geral.
OR: O fato
de o CD ter sido posto para download tem a ver com a forma como ele foi
gravado, mais seco e sem tantos custos? Ou é uma discussão que já não faz parte
dos interesses da banda quanto ao retorno financeiro que a venda de CDs pode
oferecer?
PP :Na
verdade a gente nunca se preocupou em vender CD. A gente sempre deu o CD, só
que isso tem um custo. Nós disponibilizamos para download, como sempre fizemos; até mesmo quando não
tinha download, presenteávamos as pessoas.
A nossa
proposta é formar o público, sabe. Eu acho que o artista não pode limitar a
obra dele por causa de dinheiro. Acho que é burrice até. Eu acho que todo mundo
tem que ter acesso; foi o que a gente fez, o CD está sendo vendido pelo preço
que a pessoa quiser pagar.
OR: Como
foi o processo de gravação do CD e qual foi a repercussão do público quanto a
este novo projeto?
PP: Foi
ao vivo e com os violões no lugar das guitarras, gravado na casa do baixista,
que tem um estúdio profissional, que é o Carranca. Então foi muito mais à
vontade, a gente pôde realmente não ficar tão preocupado com o tempo de
estúdio, foi tomando café, conversando, dando risada, vendo arranjo e detalhes
de arranjo, porque ia ser tudo ao vivo, então muita conversa rolou pra ele
acontecer. E [a repercussão do público] foi muito bacana! Esgotaram os
ingressos o pessoal sentou no chão até; a gente estourou um pouco a lotação da
casa, todo mundo já estava cantando junto - o CD tinha sido disponibilizado há
dois dias apenas e o pessoal já tinha decorado as letras! É surpreendente pra
gente isso.
***
Depois
de nossa conversa, Pedro subiu ao palco com os meninos da banda e levou o público a reviver em suas músicas
parte da trajetória da banda, parte de vivências, compartilhando momentos
materializados na frequência subjetiva da canção. Tudo tão rápido! O desejo
de tocar e guardar aquela noite era unânime nos comentários que reverberaram após Scambo, pelas redes sociais através das pessoas que resolveram sair aquele
dia. Em meio a toda essa energia, estava claro que o espaço do Viela-Sebo-Café
está cada vez menor para comportar tantas pessoas, mas, sim, cada dia mais
acolhedor, sendo o fiel e quase solitário espaço por onde passa a teia da música
alternativa em nossa cidade. Saldo da noite: um convite a Scambo que passe
mais vezes pelo sudoeste e, como eu não resistiria, um vídeo que sairá com uma
música na íntegra, gravada durante o show no Viela, especialmente pros leitores
d'O Rebucetê e seguidores do Rebucetv. E pra galera que compareceu curtir um
pedacinho da vibe bonita da última sexta, parafraseando as palavras do próprio
Pedro Pondé que, após o show, publicou em
sua página do Facebook "foi um inferno. Adorei.”
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