domingo, 19 de agosto de 2012

Depois da Gritaria, da Noite, da Casa Cheia - O Rebucetê Entrevista: Pedro Pondé

Por Luiza Audaz


Pedro Pondé/ Foto: Luiza Audaz
As coberturas das Noites Fora do Eixo em Vitória da Conquista tem sido um verdadeiro espetáculo. Foram diversas entrevistas e vídeos com bandas de diferentes lugares do país que têm presenteado a casa com uma efusão de diversidade musical e reunido um público de diferentes cenas, em convite a dar uma saída pela noite, rever os amigos, interagir com gente nova e curtir o melhor do som.

A noite da última sexta (17) não seria diferente, o Viela Sebo Café contava com um público ansioso pra curtir o reggae da Ramanaia e rever a banda Scambo, agora de volta, que chegava direto do show de lançamento do novo álbum FLARE, acontecido na noite anterior no Teatro Vila Velha em Salvador. Cheios de gás e energia, os garotos chegaram prontos a compartilhar e celebrar com o público conquistense.

A banda possui em sua formação atual Tosto (guitarra), Graco (guitarra e voz), Ricardo (bateria), conta com a participação do baixista Tiago Ribeiro e com o impulso e energia do produtor Fernando Maia que reuniu os músicos e também engatou o processo de retomada. Assim, a Scambo, depois de quase 10 anos sem se apresentar nos palcos da cidade, subiu ao palco do Viela iniciando o show com músicas conhecidas do público, com um repertório que contemplava grande parte dos CDs da trajetória, surpreendendo  e agradando o público e a quem se enganou ao pensar que o FLARE seria o maior contemplado.

Dessa vez minha missão estava para traduzir as coberturas em audiovisual para um treino com as palavras, trabalhar com imagens, recortando as expressões, sons e cores de muitas dessas noites se converteu numa troca de palavras com o vocalista da banda Scambo, Pedro Pondé, que rendeu a seguinte entrevista. Falamos, dentre outras coisas, sobre o lançamento do novo álbum que vem com uma pegada acústica e sobre a influência do teatro na carreira do cantor, refletida no trabalho com a música e vista em suas interpretações efusivas. 

O Rebucetê: Fale um pouco sobre como foi o lançamento do novo projeto da Scambo na quinta (16) no Teatro Vila Velha. Já sabemos que além das músicas do novo CD, você  presenteou o público com canções que já estão marcadas pela sua voz como Muito Romântico, como foi este momento?

Foto: Luiza Audaz
Pedro Pondé: Muito bacana primeiro porque o Vila Velha é um espaço lindíssimo que tem uma estrutura muito boa pra música, pra teatro. Um lugar preparado pra isso. A gente sabe que Salvador tem muita banda independente, mas tem muito pouco espaço feito pra se ouvir música e tocar num espaço preparado é muito mais legal, sabe; e nós criamos uma expectativa grande, o público também criou uma expectativa grande porque nós já estávamos fazendo show há um ano com as músicas que a gente já tocava algum tempo - que o pessoal já conhecia, cantava junto - e esse foi o lançamento de um trabalho novo que eu acho que consolidou a nossa volta, a nossa continuidade enquanto banda. Acho que todas as pessoas tomaram consciência que a gente voltou e não tá pra brincadeira, a gente voltou de verdade.

[Pedro ainda acrescentou sobre a relação com o público]

PP: Com a internet vamos atualizando as pessoas de cada passo do trabalho, então as pessoas acabam participando mais. Elas se sentem mais inseridas no processo todo, não só no show; elas sabem como é que está o estado de espírito do músico, como é que tá o processo, se tá ensaiando, se tá gravando, onde vai ser gravado, então as informações chegam muito facilmente nas pessoas hoje.

Foto: Luiza Audaz
OR: Você é um músico que esboça em suas interpretações uma ligação muito visceral com as letras e melodias. Fale um pouco sobre o fato de você ter uma formação de ator e como isso reverbera em suas  vivências musicais.

PP: Na verdade minha formação é de teatro e até hoje eu encaro a música como teatro, até pra compor, pra cantar, e isso tá muito impregnado. Eu me sinto mais ator até do que cantor, eu acho que sou um ator cantando e não um cantor atuando. Fiz teatro por muito tempo da minha vida, fiz teatro infantil, fiz teatro de rua numa fase da vida que eu estava começando a me formar - que foi adolescência -, então, tá muito em mim, minha forma de ver o mundo foi muito influenciada pelo teatro, de uma forma geral.

OR: O fato de o CD ter sido posto para download tem a ver com a forma como ele foi gravado, mais seco e sem tantos custos? Ou é uma discussão que já não faz parte dos interesses da banda quanto ao retorno financeiro que a venda de CDs pode oferecer?

PP :Na verdade a gente nunca se preocupou em vender CD. A gente sempre deu o CD, só que isso tem um custo. Nós disponibilizamos para download, como sempre fizemos; até mesmo quando não tinha download, presenteávamos as pessoas.

A nossa proposta é formar o público, sabe. Eu acho que o artista não pode limitar a obra dele por causa de dinheiro. Acho que é burrice até. Eu acho que todo mundo tem que ter acesso; foi o que a gente fez, o CD está sendo vendido pelo preço que a pessoa quiser pagar.

OR: Como foi o processo de gravação do CD e qual foi a repercussão do público quanto a este novo projeto?

PP: Foi ao vivo e com os violões no lugar das guitarras, gravado na casa do baixista, que tem um estúdio profissional, que é o Carranca. Então foi muito mais à vontade, a gente pôde realmente não ficar tão preocupado com o tempo de estúdio, foi tomando café, conversando, dando risada, vendo arranjo e detalhes de arranjo, porque ia ser tudo ao vivo, então muita conversa rolou pra ele acontecer. E [a repercussão do público] foi muito bacana! Esgotaram os ingressos o pessoal sentou no chão até; a gente estourou um pouco a lotação da casa, todo mundo já estava cantando junto - o CD tinha sido disponibilizado há dois dias apenas e o pessoal já tinha decorado as letras! É surpreendente pra gente isso.

***
Depois de nossa conversa, Pedro subiu ao palco com os meninos da banda e levou o público a reviver em suas músicas parte da trajetória da banda, parte de vivências, compartilhando momentos materializados na frequência subjetiva da canção. Tudo tão rápido! O desejo de tocar e guardar aquela noite era unânime nos comentários que reverberaram após Scambo, pelas redes sociais através das pessoas que resolveram sair aquele dia. Em meio a toda essa energia, estava claro que o espaço do Viela-Sebo-Café está cada vez menor para comportar tantas pessoas, mas, sim, cada dia mais acolhedor, sendo o fiel e quase solitário espaço por onde passa a teia da música alternativa em nossa cidade. Saldo da noite: um convite a Scambo que passe mais vezes pelo sudoeste e, como eu não resistiria, um vídeo que sairá com uma música na íntegra, gravada durante o show no Viela, especialmente pros leitores d'O Rebucetê e seguidores do Rebucetv. E pra galera que compareceu curtir um pedacinho da vibe bonita da última sexta, parafraseando as palavras do próprio Pedro Pondé que, após o show, publicou em sua página do Facebook "foi um inferno. Adorei.”

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