quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Fragmentos de um concurso

Por Mariana Kaoos





É noite em Vitória da Conquista. Com o horário de verão, que há oito anos não existia por aqui, a luz no centro da cidade demora a desaparecer, fazendo com que camelôs, hippies e lojas de calçados fechem com tranquilidade. O céu está cheio de nuvens, algumas gotas pingam na cabeça dos transeuntes e personagens conhecidos da Secretária de Cultura começam a arrumar, com meia hora de atraso, o local onde será realizado a 7ª edição do projeto Por Isso É que eu Canto.

Mesmo com o tempo fechado arriscando uma possível chuva e o frio que começou cedo, o publico, que na noite de quarta-feira chegou a uma média de 70 pessoas, foi conferir as apresentações dos novos artistas locais que prometem inovar de diferentes maneiras a cultura da região. Produtores, jornalistas, músicos e apreciadores de musica em geral estiveram presentes, dividindo o mesmo espaço com o corpo de jurados, que totaliza cinco pessoas, as torcidas organizadas que gritam mais para esse ou aquele artista e os interpretes do dia, bem como os que já foram classificados para a semifinal. Uma das estrelas da noite foi a estudante de comunicação e também interprete dos clássicos da musica popular brasileira, Jádia Filadelfo, que encantou a todos com a musica Influencia do Jazz, do cantor e compositor Carlos Lyra. De acordo com ela, a escolha do repertório é muito subjetiva, pois vem através da identificação com essa ou aquela musica. “Eu venho tocando muito em bares da cidade que possuem um publico variado entre o blues e a bossa nova e uma mpb misturada com o pop nacional. É a primeira vez que participo de um concurso, o que por si só já me deixa nervosa, e, apesar de sempre tocar essa musica, interpretar Carlos Lyra hoje tem uma conotação diferente. Espero que o publico goste”. Comenta.




Com o objetivo de democratizar a arte e a cultura na cidade, viabilizando a inserção de novos músicos no cenário regional, o concurso oferece como prêmio aos três primeiros colocados (R$3.000,00 para o vencedor), além de dinheiro, uma apresentação no palco principal de outro projeto local, o Natal da Cidade, com o intuito de estimular o potencial criativo dos candidatos. Para o secretário de Cultura, Gildelson Felício, essa é uma forma de consagrar ainda mais e tornar as obras locais de acesso ao público. “Temos muitos artistas bons aqui e que possuem composições lindíssimas. Não poderíamos nos atentar aos artistas da grande mídia, temos que focar e engrandecer as obras regionais também”. Ítalo Silva, ganhador do concurso no ano passado, pensa muito parecido e vai além, para ele não é só a escolha musica, tudo depende da maneira como ela é interpretada e levada ao publico. “ganhar o concurso em 2010 pra mim foi uma surpresa, pois eu competi com a musica regional chamada transistoria(?) composta pra uma grande amiga minha, que apesar de ser lindíssima não corresponde muito com o perfil do Por Isso É Que Eu Canto. Acredito que para ser um bom cantor é necessário levar a energia da musica ao publico, a carga que ela traz consigo. Esse ano estou torcendo por todos, mas em especial para Aquiles Neto, que pra mim tem um amadurecimento acerca do processo de interpretação. Ele traz consigo um aspecto teatral que é importantíssimo na hora de cantar, além de ter uma presença marcante, claro”.

Outra apresentação comentada por muitos foi a da estudante e aspirante a cantora (ou por que não dizer a linda interprete já consagrada e profissional dentro de cenário conquistense?! J) Lys Alexandrina, que se apresentou no ultimo dia 10 com um samba de composição regional de Marco Luz. Lys, que canta desde pequena e ano passado fez uma temporada no Teatro Carlos Jeová com o show de sua própria autoria “Do Que É Feito o Samba” participa pela primeira vez do concurso. “Apesar de já ter feito shows na cidade, é a primeira vez que participo do Por Isso É Que Eu Canto e a maior sensação que tive e estou tendo é do nervosismo a flor da pele. Meus amigos sempre me incentivavam a participar e esse ano eu resolvi me inscrever. Fico muito grata que a receptividade do publico e agora é seguir em frente, tentando apresentar o melhor de mim”.

O Por Isso É Que Eu Canto, além de oferecer uma programação cultural de qualidade e gratuita ao publico e ser um estimulo aos novos artistas da região, se torna também o local e momento em que esses músicos têm de se expressar e questionar a realidade que os compõem. Tereza Raquel, que canta desde os sete anos de idade e levou lagrimas aos olhos do publico quando interpretou Nuvem Negra, musica consagrada na voz de Gal Costa, pretende cantar na semifinal A Carne Mais Barata do Mercado, de Elza Soares. “Para a minha próxima apresentação, fiz um arranjo totalmente diferente do original. Essa musica fala justamente sobre a carne mais barata do mercado, que é a carne negra e eu vivo isso desde pequena, o significado dela pra mim é extremo e hoje, eu sinto a necessidade de gritar isso para as pessoas”. Prometendo trazer arrepios em uns e suspiros em outros, Tereza Raquel junto com os outros classificados para a semifinal se apresentam na quarta e quinta-feira da semana que vem, a partir das 18 horas.





0 comentários:

Postar um comentário