domingo, 27 de novembro de 2011

Festival Avuador: Lucas Santtana e a noite conquistense

Por Mariana Kaoos e Rafael Flores


Foto: Ana Paula Marques
Era noite de estrelas e o vento gelado balançava os cabelos e roupas das pessoas que lá se encontravam.  As arquibancadas da concha acústica do Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima estavam molhadas, mostrando vestígios de uma chuva de outrora que, ainda bem, não impedira o publico de conferir a segunda e ultima noite do Festival Avuador.

O evento trouxe para Vitória da Conquista, através da Rede Motiva, grandes nomes do circuito alternativo brasileiro. Dentre estes, a banda pernambucana Eddie, os meninos do Retrofoguetes, banda instrumental criada e consolidada na capital baiana e, para a surpresa de muita gente, o soteropolitano Lucas Santanna.

De blusa xadrez, boina azul e óculos escuros, fazendo uma dancinha invocada, o baiano fez o publico suar ao som de suas composições “Cira, Regina e Nana” e “Amor em Jacumã”, além de tocar clássicos da world music, como Positive Vibration, do rei Bob Marley.  Em entrevista concedida ao Rebucetê, Lucas falou um pouco sobre as suas influencias e deu dicas musicais e literárias para o leitor.

Mariana Kaoos para o Rebucetê: Há algum tempo, quando eu tinha 15 anos, tive a oportunidade de assistir a um show seu no Porto da Barra, no projeto Música no Porto, que acontecia no verão, ao por do sol das sextas-feiras. Logo após, o clipe da musica “Samba Cubano” (pertencente ao cd Parada de Lucas) veio com tudo na MTV. Hoje, com certo nome no cenário musical do país você vem como uma das grandes atrações do Festival Avuador, evento de cunho alternativo, coisa que vem crescendo muito dentro de Vitória da Conquista. Qual a sua avaliação a respeito desses festivais para a produção local e para a sua própria produção e disseminação do seu trabalho

Lucas Santanna: Acho que é isso mesmo que você falou, o estimulo a todo e qualquer tipo de produção. Festivais desse porte geram empregos, coletividade, autonomia e torna as bandas mais conhecidas, fazendo com que elas circulem pelo Brasil a fora. Para quem está inserido dentro desse meio artístico fica clara a dificuldade de locomoção pelo tamanho do país, ai as passagens são caras e toda essa logística muitas vezes não permite que você chegue aos lugares Com a ascensão desses festivais, a circulação desses artistas se torna mais viável. É a primeira vez que venho aqui e eu estou muito feliz de poder tocar pra esse publico, ainda mais sabendo que tem pessoas que curtem meu trabalho por aqui. É uma pena que a duração do show seja muito pequena, mas acho que dá pra fazer uma coisa legal.

OR: Você é natural de Salvador?

LS: Sim.

OR: E é você mesmo quem compõe suas musicas?

LS: Tenho alguns parceiros, mas grande parte da minha produção é autoral.

Foto: Rafael Flores
OR: Na maioria das suas musicas, você faz referencia ao sincretismo religioso que a Bahia possui, bem como a alguns bairros históricos e boêmios da cidade de Salvador. Como você absorve essas vivencias do imaginário coletivo soteropolitano e traduz em suas composições e melodias?

LS: Na verdade são vivencias muito pessoais, mas ao mesmo tempo, parecidas com a de muitas pessoas. Eu escrevo sobre coisas que eu vivo e sobre coisas que outras pessoas vivem e eu observo. Esse processo de composição é uma coisa muito intuitiva também, essas experiências, esses lugares, não só de Salvador, que nos proporcionam um estimulo ou inspiração ajudam no processo criativo. Você se vê ali, envolvido com essas coisas e chega uma hora em que você começa a filtrar essas informações e traduz em musica. Eu mexo com isso desde os doze anos de idade, quando eu comecei a tomar aulas de flauta doce. Ao mesmo tempo em que não me inspirei em ninguém especifico, me inspirei em todos a meu redor, apesar de nunca ter tido essa cultura de cultuar uma banda ou determinado artista. Eu gosto de todo tipo de musica, desde a adolescência nunca tive preconceito contra algum estilo e quando eu gosto eu procuro absorver essa informação, tanto que a minha musica é uma mistura de tudo que me compõe. As minhas composições, o meu fazer musica acontece naturalmente e eu acabo misturando essas coisas que eu gosto.

OR: Lucas, como uma ultima pergunta, a gente queria que você indicasse algum filme ou livro ou disco que tenha te marcado para os leitores do Rebucetê...

LS: Bom, tem milhares de discos bons que eu poderia indicar, mas agora só me vem o King Of Limbs, do Radiohead, bem como toda a obra da banda. Eu gosto muito do que eles produzem e da sonoridade das musicas. Acho que todo mundo deveria conhecê-los. E em relação a um livro, eu TENHO que indicar Grande Sertão Veredas, do João Guimarães Rosa. Apesar de ser uma obra de ficção, é uma leitura essencial como tradução de uma das culturas que o Brasil possui. No inicio, a leitura é um pouco difícil, mas depois que você começa, parece que está acompanhando uma novela na tevê.É muito bacana.




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