quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Parem de matar Elisa!

Mesmo morta, Elisa Samúdio continua perdendo de goleada

Por Daniela Novais

Foto: Eliza Samúdio


Terminou neste mês de novembro o que poderia ser o “1º tempo” do júri popular do caso Eliza Samúdio. No dia 23, no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, saiu a condenação dos dois primeiros réus julgados, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, que pegou 15 anos de prisão, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro Bruno, condenada a 5 anos.

Depois de todo o rebucetê, nesse nefasto “campeonato”, quem segue perdendo de goleada, mesmo depois de morta, é Elisa Samúdio, que não teve a denúncia acolhida na delegacia de mulheres, foi sequestrada e vilipendiada e perdeu na “prorrogação” por morte súbita e com o corpo jamais encontrado, nunca teve um ritual de sepultamento qual seja. Enquanto “o jogo” segue, ela perde o crescimento do filho além de ser invertida de vítima para algoz pelos que atacam a “moral” da moça, seja dizendo que ela está viva, seja dizendo que “ela procurou esse destino”, com seu comportamento de “Maria chuteira” e até alegando que “ela fazia filmes pornôs” como se qualquer desses argumentos, justificasse a violência cometida contra ela.

O campeonato continua sem ela e o goleiro vem se mostrando o favorito. Mesmo após a confissão de Macarrão, Bruno nega o crime. Ele será julgado em março do ano que vem, por conta de sua catimba que deu certo e ele conseguiu, mais um adiamento. Vale lembrar que este foi mais um, afinal nos dois anos e cinco meses subsequentes ao fim do inquérito e desde o indiciamento do goleiro, a defesa conseguiu uma série de adiamentos, fazendo com que 892 dias se passassem até o primeiro dia do júri.

Se fosse futebol, talvez Bruno perdesse por WO, ou pudesse ser julgado à revelia. Como estamos falando de um dos judiciários “mais vazados”, com sua estratégia ele vem conseguindo pequenas vitórias, goleando Eliza que já está fora do campeonato há tempos.

Fair play 

O jogo de Bruno não pode nem ao menos ser adjetivado, porém afasta qualquer possibilidade de fair play o que ficou ainda mais patente após a confissão feita por Macarrão, que hoje joga no próprio time e que pode ser incluído no programa de proteção às testemunhas se estiver vivo, após cumprir a pena que lhe coube.

Macarrão disse ter levado de carro a ex-amante do jogador até um local indicado pelo goleiro, em Belo Horizonte, onde a jovem entrou em um Palio. “Ele ia levar ela para morrer”, disse. Ainda segundo ele, não sabia o que iria acontecer com Eliza, mas "pressentia" que a jovem seria morta. Perguntado pela juíza se estava mais aliviado, Macarrão respondeu: "Eu guardei tudo isso. Eu não aguentava mais, eu não sou esse monstro que todo mundo colocou [...] Se tem alguém aqui que acabou com a vida, foi ele que acabou com a minha vida".

Como se fosse uma jogada ensaiada, a ex-namorada do goleiro Bruno, Fernanda, confirmou boa parte do depoimento de Macarrão. Ela alegou inocência das acusações de sequestro e cárcere privado de Eliza e de Bruninho, e confirmou que Macarrão usou seu carro, um Gol, por cerca de 20 minutos na noite do crime. Fernanda ressaltou que não desconfiou do destino trágico que Eliza teria, “pela calma que ela apresentava” durante o tempo que esteve em Minas. “Só tive conhecimento verdadeiro de que a Eliza foi executada ontem pelas declarações de Luiz Henrique [Macarrão]”, afirmou.

Pênalti 

Durante o intercurso desde o desaparecimento de Eliza até agora, o goleiro com seu “jogo sujo” cometeu diversas penalidades máximas. No futebol ele teria recebido tantos cartões vermelhos, que o impediriam de tentar jogar de novo algum dia, como ainda é seu sonho, segundo o agora ex-advogado dele Rui Pimenta. Ele tentou derrubar a justiça brasileira diversas vezes, mas os que jogam com ele em seu time não deixaram por menos.

Horas após a confissão de Macarrão, um boato dava conta de que, decepcionado com o amigo, Bruno Fernandes teria tentado suicídio na Penitenciária Nelson Hungria. Após certa tensão e algum tumulto, que levou o julgamento chegou a ser interrompido por cerca de 20 minutos pela juíza Marixa Fabiane, no momento em que Fernanda depunha. A confusão passou, depois que a Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais e o diretor-geral do presídio, Luiz Carlos Danunzio, confirmarem que Bruno está bem. A secretaria disse que Danunzio chegou a ir até o pavilhão onde o atleta está para verificar seu estado de saúde.
Foto: Bruno e Macarrão

Do lado de fora do tribunal, jornalistas cercaram o advogado Lúcio Adolfo, novo defensor do goleiro, para saber informações sobre o caso. Mais tarde ele disse que o atleta ficou “decepcionado” ao saber das declarações dadas por Macarrão, mas foi compreensivo com a situação do amigo. “[Ele] reagiu com tristeza, mas entendeu que Macarrão está pressionado. [Ele] ficou chateado, decepcionado, pela amizade que existia entre os dois”.

Apito final 

Caso a catimba de Bruno não protele ainda mais, no segundo tempo do Júri popular, o responsável pela acusação, promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, pretende denunciar, ainda em dezembro deste ano, o ex-policial civil José Lauriano de Assis Filho, conhecido como Zezé, por envolvimento na morte de Eliza, para reforçar as argumentações dele para buscar a condenação de Bruno, em março de 2013. “O júri reconheceu que houve sequestro, cárcere privado e o homicídio. Bruno não vai escapar da condenação e com o agravante de mando, de as vítimas serem o filho dele e a mãe do filho dele”, conta.

Em depoimento, o primo do goleiro, que está inserido em programa de proteção à testemunha, descreveu que Eliza foi deixada com um homem alto e negro antes de morrer, o que faz parte da fisionomia de Zezé. Para Castro, o ex-policial Zezé era amigo de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que deve ser julgado em 2013 junto com o goleiro. Zezé teria usado o cargo de policial para obter informações sobre a investigação e beneficiar os réus do caso. “É plausível que ele, como policial que ainda era na época dos fatos, para ter acesso a alguma informações privilegiada sobre a investigação”.

Isso porque há indícios de que alguém avisou Macarrão da movimentação da polícia. “Sabemos, de concreto, que a Polícia Civil só não achou o filho de Eliza no sítio do goleiro Bruno porque Dayanne fora alertada pelo Macarrão, que determinou a ela que deixasse a casa, às pressas, com o nenê. Instantes antes, Macarrão recebera de Bola, ex-policial e amigo de Zezé, uma mensagem telefônica em formato SMS alertando Macarrão sobre a movimentação da Polícia Civil”, disse Castro que contou ainda que na noite da morte de Eliza, Zezé esteve na companhia de Bola e depois também, além de vários contatos telefônicos entre os dois.

De acordo com o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, com a condenação de Macarrão, a Justiça reconhece a morte de Eliza, mas um gol nunca deverá ser marcado: a localização do corpo da ex-modelo. “A Justiça reconhece que Eliza foi morta em 10 de junho de 2010, uma vez que a sentença seja transitada em julgado. [...] “O júri, sabiamente, entendeu que, com relação ao réu Macarrão, não tem elementos que o liguem a ocultação do cadáver [...] quem ocultou [o corpo de Eliza] foi Marcos Aparecido dos Santos. Só o Bola sabe onde está”, disse.

O promotor afirmou ainda que vai pedir novas investigações e a quebra de sigilo bancário de Bruno, para tentar comprovar o saque de dinheiro para pagar a execução de Eliza.

Torcida 

A torcida de Eliza Samúdio não tem o que comemorar. Neste jogo, mesmo que Bruno e os demais sejam condenados, presos, cumpram a pena e tudo o mais, Eliza perdeu de goleada. O primeiro gol marcado contra ela foi feito pela delegacia das mulheres no Rio de Janeiro, que negou acolher a denúncia que ela tentou fazer contra o goleiro, porque ela “era amante” e no julgamento da delegada, não tinha direito de ser defendida pela Lei Maria da Penha.

Outra chuva de gols foram marcados contra ela pelos réus que jogaram no time do goleiro e ajudaram na execução classificada pela juíza Marixa como “meticulosamente arquitetada”. Por fim marcam inúmeros gols contra ela a cada vez que questionam o caráter, moral, profissão e o que quer que seja da vítima, transformando-na em uma Geni, que “é feita pra apanhar e é boa de cuspir”. O fim do campeonato? Ela não poderá assistir.

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