De volta aos palcos conquistenses, o grupo soteropolitano Los Catedrásticos
encerrou neste domingo,
Los Catedrásticos/ Foto: Rafael Flores |
Por Ana Paula Marques e Rafael Flores
Jackson
Costa, Maria Menezes, Ricardo Bittencourt e Najla Andrade, compõem o elenco. Os
atores interpretam cerca de trinta músicas baianas, passando pelo axé, pagode,
funk e pelo arrocha, todos vestidos com trajes de gala. As interpretações em
formato de recital são divididas em quatro blocos: Picantemente, Estranhamente,
Divinamente e Higienicamente. Além de se apropriar dos ritmos populares
baianos, o grupo também deu uma passada pelos virais do Youtube, vídeos que
circularam bastante e já arrancaram risadas dos internautas.
Música Baiana Falada
A origem do espetáculo e também do grupo se deu nos finais da
década de 80, com “O Recital da Novíssima Poesia Baiana”. Em período de greve
da Universidade Federal da Bahia - Ufba, os então alunos do curso de Teatro se
reuniram para apresentações na universidade, com o intuito de arrecadar
recursos para o “fundo de greve”.
Jackson Costa/ Foto: Rafael Flores |
De
acordo com o livro “A trama dos tambores”, de Goli Guerreiro, o uso dos
samba-reggaes gerou polêmica entre o meio artístico baiano. Membros de blocos-afros
de Salvador alegaram se sentir ofendidos pela situação, pois segundo eles, as músicas
se encontravam fora do contexto musical e histórico do processo de composição
das canções. Temas que soavam estranho, como falar sobre a cultura egípcia na Bahia, tinham
por trás a história das primeiras dinastias de faraós que eram negras. Em outro
aspecto, a música “Faraó” na época, era considerada apenas como mais uma
homenagem a um dos pontos turísticos da capital baiana, o Farol da Barra,
descaracterizando a composição como símbolo de luta e resgate da cultura negra.
Nova Mente
Los Catedrásticos/ Foto: Rafael Flores |
No novo espetáculo, estreado no início de 2012, o repertório é
outro. “Faraó” e “A Roda” permanecem, porém não mais como chacota e sim como
instrumento de comparação par a com as músicas que preenchem as rádios comerciais,
carros de som e paredões* Bahia a fora. Logo, a atenção se vira para o arrocha
e o swing baiano, vulgo “pagodão”.
As letras estão menos inteligentes - é o que se nota
facilmente - mais diretas, não há uma intenção ideológica por trás, nem
tampouco usa-se mais da famosa tática do duplo sentido. Segundo a atriz Maria
Menezes esse vazio nas composições dificultou no processo de criação do
espetáculo, mesmo que “música de carnaval nunca tenha tido a obrigação de possuir
letras rebuscadas” (...) “Só que dessa vez o negócio pesou mais, como essa coisa
de chamar a mulher de cachorra e a mulher levantar a patinha feliz. Na montagem
pegamos refrões desses tipos e juntamos em um só esquete, pois não dava pra
fazer elas completas porque todas dizem a mesma coisa”, explica.
A mulher é cada vez mais colocada como objeto e a peça dedica um esquete inteiro para ressaltar isso. O debate está em alta no estado, pois em março foi aprovada o projeto apelidado de Lei Antibaixaria, o qual proíbe o uso de recursos públicos para contratação de artistas que incentivem a violência ou exponham as mulheres ao constrangimento através de suas músicas.
Maria Menezes e Najla Andrade/ Foto: Rafael Flores |
O
espetáculo cumpre a função do teatro, que é divertir e ao mesmo tempo provocar
no espectador uma reflexão sobre o que foi visto. É interessante colocar em
pauta o que se produz no nosso estado, o que realmente estamos consumindo e
tentar chegar ao que estamos querendo dizer.
É
sempre um desafio e uma provocação trazer para o palco uma linguagem que não é
típica do teatro e o grupo faz isso sem dificuldade. É um estudo sobre a música popular baiana, é
quase um álbum do Tom Zé.
*Paredões:
Grandes aparelhos de som instalados nos carros que tocam as músicas que estão fazendo sucesso no momento.
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