terça-feira, 24 de julho de 2012

Retrospectiva #FIG2012 - É como o vento que nos abraça

Por Ana Paula Marques e Rafael Flores

Milton Nascimento no Palco Guadalajara/ Foto:
Rafael Flores
Depois de duas semanas completas de viagem, para participar do 22º Festival de Inverno de Garanhuns, voltamos pra casa  sem pesares pela possibilidade de ter sujado nosso histórico universitário, tendo perdido aulas e avaliações. Não foram poucas as dificuldades por lá, mas a câmera quebrada, o carro batido, a chuva na cara e os pequenos furtos não nos fizeram desanimar nem parar de produzir. Vimos tanta coisa interessante que saíram mais produtos do que imaginávamos, queríamos detalhar tudo.

O modelo de festival gratuito que conhecemos pode ser muito bem aproveitado em Vitória da Conquista. Nosso festival de inverno não permite muito essa absorção, no entanto outros eventos como o Festival da Juventude, o Festival Avuador e o Festival Suíça Bahiana, os quais se preocupam com a formação cultural do seu público, deveriam ter uma ideia do que rola por Garanhuns em termos de temática, valorização da cultura popular, dos pontos turísticos, da gastronomia, da grade musical e principalmente da inserção do evento em todos os bairros da cidade.


Praça da Palavra/ Foto: Diário de Pernambuco
A formação cultural ultrapassa os muros da produção musical, pois o festival proporciona debates  acerca de temas atuais, como por exemplo, os painéis sobre sustentabilidade na cultura popular e as novas possibilidades no sistema público de comunicação que aconteceram durante a vigésima segunda edição do evento. Vários espaços receberam as oficinas oferecidas e até a praça da Fonte Luminosa, onde estava localizada a tenda da Praça da Palavra, se tornou lugar de debate. 

A cultura popular está inserida tanto nos palcos espalhados pelos pontos turísticos, como nos espaços de discussão. As ruas foram tomadas por cortejos e intervenções urbanas e os artistas independentes e de rua ocuparam cada cantinho da cidade. As crianças também tem seus espaços no FIG, o Palco da Cultura Popular é tranquilo para ir com os filhos. Mas é no Polo Euclides Dantas que rolam apresentações de fantoches, dança, teatro e circo para a gurizada pernambucana.

Camarote da Acessibilidade/ Foto: Rafael Flores
Outro ponto positivo do festival foi a preocupação em integrar os deficientes físicos na programação, oferecendo possibilidades dessas pessoas assistirem aos shows num espaço confortável (no camarote da acessibilidade presente  nos dois principais palcos) e também na formação cultural, através oficinas que foram direcionadas a deficientes visuais, por exemplo. 

Para uma cidade de médio porte, Garanhuns possui muitos pontos turísticos, como o Cristo do Magano, o Relógio das Flores e o Castelo de João Capão, todos bem cuidados e bastante visitados durante o evento.  Neste ano, dois novos polos foram criados no Cristo do Magano e na comunidade quilombola do Castainho, ressaltando ainda mais a valorização desses locais. Os olhos (e bocas) também se ligam nas comidinhas da cidade, através  do Festival Gastronômico, que seleciona diversos estabelecimentos para indicar o que comer ao público local e visitante. No entanto, nem todas dessas indicações batiam com nosso poder econômico, por isso ficamos com os espetinhos de bolinhas de queijo e carne das barraquinhas, sem esquecer de fugir das coxinhas e empadas.

Lucas Santtana/ Foto: Rafael Flores
“Se botar meu amor na vitrine ele nem vai vale um e noventa e nove” e “Nossa, nossa, assim você me mata”, trechos de músicas de sucesso nacional em 2012, foram reproduzidas pelas bandas de Roberta Miranda e Reginaldo Rossi. Ambos levantaram a bandeira de que o artista tem que tocar o que o povão ouve. Mesmo que  quem escolha o que o povo quer ouvir não seja o próprio. As rádios comerciais não costumam respeitar a pluralidade de produção musical que o Brasil possui, é só sintonizar aí agora pra você lembrar que é verdade. No entanto, a curadoria do FIG o fez, vimos desde grandes nomes já bem estabelecidos na indústria fonográfica, como Erasmo Carlos, Jorge Ben e Milton Nascimento, artistas populares como Reginaldo Rossi, Roberta Miranda e Alcione, até os novos artistas da música brasileira, como os baianos Márcia Castro e Lucas Santtana e o pernambucano Tibério Azul. Nessa edição, o festival recebeu mais de 300 nomes que passaram pelos palcos Pop, Forró, Instrumental, Cultura Popular e Guadalajara. Festivais alternativos e programações paralelas também tiveram sua vez como o Boião Rock Jazz Fest, que concentrou centenas de rockeiros e metaleiros no bar Boião, o Conservatório Pernambucano de Música no FIG e o Virtuosi na Serra, programação de música erudita que aconteceu na Igreja Matriz de Santo Antônio, o cortejo de blocos líricos Flabelos Cantantes, o Caminhão da Cultura que levou arte aos bairros periféricos da cidade, o projeto Cultura Livre nas Feiras e a Mostra de Cinema do FIG.

Difícil concluir um texto, quando a carga de informações que temos ainda não congruiram em um fim específico em nossas cabeças. O certo é que a intenção maior desta cobertura foi mostrar que é possível fazer um evento que movimente de verdade a economia local, fomente o turismo, valoriza a cultura regional, tudo isso feito por uma gestão pública e com segurança. Sabemos que a estrutura dos governos e mesmo da organização dos próprios estados são diferentes, mas a nossa vontade é que os festivais de nossa região, que citamos no início do texto, evoluam e tomem conta da cidade. 

Reginaldo Rossi/ Foto: Rafael Flores

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