Da Redação
João Diógenes. Foto: Arquivo Pessoal |
O Rebucetê: Qual a importância para a Universidade em sediar um evento
como esse? Por que ainda é atual se debater a relação de capital x trabalho?
João Diógenes: Trazer essa discussão em tempo de hoje para tentar
desvendar a realidade capitalista na situação do mundo de trabalho, já que o
tema está proposto e aproveitando como gancho a análise fílmica. Acho
importantíssimo para a universidade, para o mundo acadêmico, para a sociedade
refletir e analisar essa situação vivida, interpretar para uma tentativa, quem
sabe, de transformar.
OR: Qual a importância de envolver várias áreas do conhecimento em
torno de um tema como esse?
JD: Apesar de estar sendo promovido pelo departamento de geográfica
(DG), ele permite diálogos com várias áreas das ciências humanas, a história, a
filosofia, a ciência política. Então, isso é importantíssimo para o mundo
acadêmico porque é uma discussão interdisciplinada, não é só um olhar, são
vários olhares sob uma mesma realidade.
OR: Você acredita que o cinema consiga transformar a mentalidade
social? Se sim, por quê?
JD: Não acredito que vá mudar a mentalidade, mas permite a
possibilidade de mudança. Toda mudança, do meu ponto de vista, é só política,
quando você tem essa transformação também da consciência por meio do processo
político, mas filmes como esses te dão a possibilidade de viajar no mundo da
interpretação, como é visual e nossa sociedade hoje é muito visual, chama
atenção para uma reflexão a partir dos olhares teóricos.
OR: Nos últimos quatro anos houve uma quantidade considerável de
manifestações populares. A que você atribui essa intensificação de tais
manifestações?
JD: Nos movimentos existem fluxos e refluxos. Então, agora alguns
teóricos estão analisando que está ocorrendo um período de movimentação dos
fluxos desses movimentos. Por sinal, importantíssimos e de várias matrizes, da
população LGBT; da população de mulheres feministas; movimentos sindicais dos
trabalhadores. Nesse ano, no caso da Bahia, duas grandes greves: a dos
professores do ensino fundamental e médio da rede estadual e a greve das
universidades federais. Então está começando a borbulhar essa indignação que se
materializa em uma ação política. Eu acredito que estamos em um momento
propicio dessa situação política e essa política exercida na rua, em um espaço
público.
OR: A mesa redonda que você participará traz como tema a condição de
proletariedade extrema e a radicalização da barbárie social. Você poderia nos
falar um pouco mais sobre esse seu estudo?
JD: Eu estudo dentro dessa relação, o trabalho ilícito, que é o
narcotráfico, a prostituição, nesse lugar de desigualdade econômica. E nessa
situação de precarização que estamos vivendo hoje, essas atividades tornam a
ser um meio perverso de sobrevivência. Por que estou dizendo um meio perverso
de sobrevivência? Porque está ancorado em uma discussão moral, porque ela
perpassa pela questão da violência e sujeitos estarão em situação de risco.
Minha discussão vai ser nesse olhar, de como na situação vivida você tem
enquanto atividade econômica, enquanto reprodução do trabalho, você tem essas
atividades ilícitas, que é o narcotráfico, e como esses sujeitos vivem em uma
situação permeada pela violência, vivem no fio da navalha. Hoje você tem o
extermínio da população jovem do Brasil, jovens de 14 a 25 anos das classes
populares, negros e brancos, estão morrendo ou por balas oficiais ou por balas
do narcotráfico, é essa discussão que vai ser aborda na minha mesa.
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