segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Rebucetê Entrevista: João Diógenes

Da Redação


João Diógenes. Foto: Arquivo Pessoal
O evento intitulado 1º de Maio nos Cinemas será realizado entre os dias 17 e 18 de julho, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. O projeto tem como objetivo principal abordar os processos sociais de contestação relacionando-os com a linguagem cinematográfica. Para isso, contará com mesas redondas, apresentação e análise de filmes, além de conferencias e minicurso. A fim de ampliar e enriquecer o debate, haverá a participação de grandes pesquisadores do tema e entre eles estrelas da casa como o prof. Dr. João Diógenes. Diógenes abre a primeira mesa redonda do evento ao lado do também prof. Dr. Marco Mitidieiro, da Universidade Federal da Paraíba, com o tema “Condição de proletariedade extrema e a radicalização da barbárie social”. João Diógenes, em entrevista a’O Rebucetê falou um pouco sobre a importância desse evento para a universidade, a interdisciplinaridade proposta e ainda adianta para os nossos leitores um pouco do que será abordado em sua mesa.

O Rebucetê: Qual a importância para a Universidade em sediar um evento como esse? Por que ainda é atual se debater a relação de capital x trabalho?

João Diógenes: Trazer essa discussão em tempo de hoje para tentar desvendar a realidade capitalista na situação do mundo de trabalho, já que o tema está proposto e aproveitando como gancho a análise fílmica. Acho importantíssimo para a universidade, para o mundo acadêmico, para a sociedade refletir e analisar essa situação vivida, interpretar para uma tentativa, quem sabe, de transformar.

OR: Qual a importância de envolver várias áreas do conhecimento em torno de um tema como esse?

JD: Apesar de estar sendo promovido pelo departamento de geográfica (DG), ele permite diálogos com várias áreas das ciências humanas, a história, a filosofia, a ciência política. Então, isso é importantíssimo para o mundo acadêmico porque é uma discussão interdisciplinada, não é só um olhar, são vários olhares sob uma mesma realidade.

OR: Você acredita que o cinema consiga transformar a mentalidade social? Se sim, por quê?

JD: Não acredito que vá mudar a mentalidade, mas permite a possibilidade de mudança. Toda mudança, do meu ponto de vista, é só política, quando você tem essa transformação também da consciência por meio do processo político, mas filmes como esses te dão a possibilidade de viajar no mundo da interpretação, como é visual e nossa sociedade hoje é muito visual, chama atenção para uma reflexão a partir dos olhares teóricos.

OR: Nos últimos quatro anos houve uma quantidade considerável de manifestações populares. A que você atribui essa intensificação de tais manifestações?

JD: Nos movimentos existem fluxos e refluxos. Então, agora alguns teóricos estão analisando que está ocorrendo um período de movimentação dos fluxos desses movimentos. Por sinal, importantíssimos e de várias matrizes, da população LGBT; da população de mulheres feministas; movimentos sindicais dos trabalhadores. Nesse ano, no caso da Bahia, duas grandes greves: a dos professores do ensino fundamental e médio da rede estadual e a greve das universidades federais. Então está começando a borbulhar essa indignação que se materializa em uma ação política. Eu acredito que estamos em um momento propicio dessa situação política e essa política exercida na rua, em um espaço público.

OR: A mesa redonda que você participará traz como tema a condição de proletariedade extrema e a radicalização da barbárie social. Você poderia nos falar um pouco mais sobre esse seu estudo?

JD: Eu estudo dentro dessa relação, o trabalho ilícito, que é o narcotráfico, a prostituição, nesse lugar de desigualdade econômica. E nessa situação de precarização que estamos vivendo hoje, essas atividades tornam a ser um meio perverso de sobrevivência. Por que estou dizendo um meio perverso de sobrevivência? Porque está ancorado em uma discussão moral, porque ela perpassa pela questão da violência e sujeitos estarão em situação de risco. Minha discussão vai ser nesse olhar, de como na situação vivida você tem enquanto atividade econômica, enquanto reprodução do trabalho, você tem essas atividades ilícitas, que é o narcotráfico, e como esses sujeitos vivem em uma situação permeada pela violência, vivem no fio da navalha. Hoje você tem o extermínio da população jovem do Brasil, jovens de 14 a 25 anos das classes populares, negros e brancos, estão morrendo ou por balas oficiais ou por balas do narcotráfico, é essa discussão que vai ser aborda na minha mesa.

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