Por Thaís Pimenta
“Frei Lourenço emprestara a morte a Julieta. Romeu juntar-se-ia com sua
amada se fosse ao encontro da tenebrosa morte, a tem fria em seus braços, beija-a
pela última vez e entorna o veneno. Julieta sai do ninho de morte, morte que
tomaste como empréstimo por algumas horas. Encontra seu amor morto, decide dali
jamais sair, dá as boas-vidas ao punhal que próximo ao corpo sem vida do seu
amor, e faz-se morrer. As famílias Capuletos e Montecchios reconciliam-se após a morte de
Romeu e Julieta e The End.” FIM ?
A Peça intitula-se “Romeu e
Julieta, um amor além da vida”, oportunidade perfeita para ver encenado o que
meu imaginário forçava-se a tentar vislumbrar: o pós-morte de Romeu e Julieta.
Parti então, na noite de quinta-feira(29), para a última noite da
temporada Verão Cênico 2011/2012 em Vitória da Conquista, no Centro de
Cultura Camillo de Jesus Lima.
Foto: Lucas Dantas |
Quando as portas cenográficas se
abriram, Romeu e Julieta – interpretados por Givaldo Júnior e Mariana Vilas
Boas – já estavam estirados ao chão, a fumaça que cobria os corpos levava o
público a pensar “já foram tomados pela morte”. O público adentrava o local, e
aos poucos, ajeitavam-se e desligavam os celulares, a peça estava começando.
Julieta passa a respirar ofegantemente e desperta aos poucos, seus olhos
flamejantes contemplam o acordar, olhos estes que esmorecem ao ver o frasco
vermelho ao lado do seu amado; segura o vidro em suas mãos e com um forte
movimento de deglutição, ingere o restante do liquido que matara Romeu. Começa
a busca de um pelo outro no vale dos suicidas.
A Cia de Teatro Espirita Artessênicia, de
Feira de Santana, traz em suas peças um plano de fundo, essencialmente, espírita. Através do
teatro levam sua doutrina, falam sobre a imortalidade da alma e, mais
especificadamente em “Romeu e Julieta, um amor além da vida”, abordam a questão
do suicídio, assim como afirma o roteirista e diretor da peça Toinho Campos: “tentamos
com o nosso trabalho trazer uma realidade maior sobre o suicídio, seus
desdobramentos, falando da imortalidade da alma, mostrando que a vida não se
encerra com a morte, pois superamos o corpo físico”.
Foto: Centro de Cultura |
A obra original de Shakespeare é
considerada como o arquétipo do amor juvenil, arrematando esse público. O que
explica, talvez, os semblantes ainda jovens que compunha a maior parte da platéia.
Em cena, atores igualmente jovens. Com apenas 16 anos, Mariana Vila Boas,
arrancou aplausos pela sua atuação. A
jovem atriz está cursando o terceiro ano do segundo grau, segundo a própria, o
pior ano do colégio, dividindo-se entre ensaios e estudo. “É um processo meio
conturbado, mas é isso, foco no colégio e a arte vêm só como complemento pra
fechar essa coisa fantástica”, afirma sorrindo.
Um espetáculo de luzes
Atores em palco, luz e som. A
peça apresentada pela Cia de teatro espírita Artesseência, dispensa cenário, a
iluminação tem significado especial na trama e vem a compensar essa falta. A concepção de luz do espetáculo trabalha com
a ideia de não ter espaço definido cenicamente porque tenta reproduzir, durante
todo o tempo, os momentos psicológicos dos personagens. Marcus Socco,
responsável pelo jogo de luzes, explica, “dentro da doutrina espirita há
uma lei de afinidade psicofísica, então o que pensamos cria os ambientes, a
ideia é brincar com essas cores, com esses âmbitos diferentes, que dá a
sensação de lusco-fusco, sombra e luz o tempo todo. A ideia primordial é chegar
a esse ponto psicológico dentro suposto cenário da criação de cada
personagem em nosso trabalho”.
No do projeto Verão Cênico
2011/2012 a Cia de teatro espírita foi selecionada para duas apresentações, uma
em Feira de Santana e outra em Vitória da Conquista. Para além disso, já
levaram peça para a cidade de Salvador e Alagoinhas. "a cada lugar que chegamos é um experiencia diferente, tem a questão do equipamento, da resposta do público.Tentamos
criar sensações, impacto, não sei se consigo chegar a esse ponto sempre, ao ponto de
vista de quem assiste. Eu fico particularmente curioso em saber como as pessoas
acham, pensam, sentem”, Marcus conta.
Deixei-me seduzir pela atuação da jovem Julieta e
seus companheiros de peça, que apesar de visivelmente nervosos, ganharam não só
a mim, como o público em geral. O jogo de luzes veio catalisar essa levada de
amor juvenil em mim, e o reencontro do Romeu e Julieta no pavilhão da
reencarnação, me arrancou lágrimas. Após quarenta minutos de show de atuação e iluminação,
respondemos de pé o questionamento de Marcus Socco, aplaudindo calorosamente.
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