por Mariana Kaoos
De acordo com alguns teóricos acadêmicos como Stuart Hall, o ser humano se encontra inserido numa era pós moderna, na qual todas as relações são muito superficiais, calcadas nas incertezas, fragmentações, desconstruções e troca de valores. Com a mídia ditando regras e impondo padrões de beleza, há, entre mulheres de todas as classes sociais, uma procura muito grande para se inserir nessa padronização, passando a compor uma indumentária física e psicológica a partir das regras ditadas pelo consumo. Esse fato acaba intrinsecamente ligando-se à questão da vaidade que, ao longo dos séculos, acabou sendo atribuída como uma característica unicamente feminina. Como afirma a doutora em geografia, Suzane Souza, “em muitas sociedades a mulher é vista como mercadoria para o consumo, então esse conceito machista, que se perpetuou ao longo do tempo, acabou criando uma imagem de que a mulher tem sempre que estar bonita, se cuidando. Apesar da sua ascensão no mercado de trabalho e das conquistas próprias, ainda se cobra muito da mulher esse padrão estético, de estar bem, atenta e vigilante ao seu estereótipo”.
Pagu [fonte: Google] |
O conceito ocidental de beleza nasce no berço da civilização, mais precisamente na Grécia Antiga, quando Platão afirmava que “a beleza era a ideia (forma) acima de outras ideias”. Seguindo uma linha aristotélica, a definição de beleza se dá através da relação do belo e da virtude, em que “a virtude visa à beleza”. Hoje em dia, imersos num momento de efemeridade, o conceito de beleza vem como algo puramente estético, no qual simetria, proporção, dentre outros atributos valem mais do que a essência em si. Para a historiadora Yasmin Onofre “ainda é imposto que mulher precisa ser atraente para o homem, sensível e delicada para a família, e ainda sobreviver na disputa estética entre as próprias mulheres. Não é de se surpreender que a dominação hoje mudou de formato, mas continua existindo.”
Leila Diniz [fonte: Google] |
Onofre continua, “a mulher pode não ser mais subordinada aos homens de sua família, ou ver restringidos os seus direitos em um Estado democrático burguês, mas têm que cumprir uma imagem forjada em benefício do capital: mulher forte, trabalhadora, porém amorosa, sensível e bem-resolvida com seu lar, que ainda com a dupla, e às vezes tripla jornada de trabalho, consegue uma maneira de ficar bonita. E esse conceito de beleza é usado de modo utilitário a depender das necessidades da classe social dominante em sociedades diversas”.
Preocupadas a todo o momento com padrões de beleza e vaidade estabelecidos pela sociedade de modo geral, essa “escravidão” pelo físico perfeito acaba ocasionando alguns desconfortos, como o desenvolvimento de doenças tais quais a anorexia e a bulimia. Outras mulheres se submetem a dores e situações perigosas para alcançar a beleza. Com um salão no centro de Vitória da Conquista, dona Maria* afirma que ao mês transitam em torno de 300 clientes requisitando os mais variados tipos de serviço.
“Aqui oferecemos desde depilação a manicure e serviços gerais no cabelo. Várias clientes usam a ‘escova inteligente’ que contem uma dose, mesmo que mínima, de formol e eu percebo como o cheiro e as dores são muito desconfortáveis para elas, o que me faz questionar se vale mesmo a pena passar por esse processo só pra atingir um padrão esperado de beleza. Claro que como o meu trabalho é esse, apenas faço o que pedem”, afirma.
As conquistas femininas, mesmo engendradas numa sociedade opressora, ao contrário do que se pensava, não anulou aquilo que é tido como belo na feminilidade, o saber ser mulher. Independente da cor, do tamanho, do peso, do tipo de cabelo ou do formato do rosto, a beleza da mulher encontra-se na essência de cada uma e na sua própria relação com o mundo. Suzane acredita que “ser mulher é ser batalhadora. As nossas conquistas são válidas, mas ainda muito poucas diante da imensidão de coisas que precisamos. Precisamos lutar pela igualdade de gêneros já que ainda vivemos numa sociedade machista ditada por regras masculinas. Ser mulher é ser corajosa, cuidar de filho, de família, trabalhar, buscar cultura e conteúdo e também se sentir bonita e bem consigo mesma, independente do apelo comercial”.
*Nome fictício; a entrevistada não quis ser identificada.
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