Por Mariana Kaoos
17h40
O sol ainda iluminava as pessoas que passavam pela Praça Nove de Novembro, ora com pressa e despercebidas, ora curiosas diante do palco montado para a final do concurso municipal Por Isso É Que Eu Canto.
Pc Lima, integrante da Secretaria Municipal de Cultura de Vitória da Conquista e um dos organizadores do evento, chegou trazendo cadeiras, mesas, equipamentos de som e luzes que incidiram no palco. Com os olhos cansados, mas com um brilho de expectativa para a noite, Pc contou que “ao longo desses sete anos de duração, o concurso passou por transformações para que houvesse uma melhor forma de abrir as portas para esses novos interpretes, que são muitos. A marca do Festival é justamente trazer a cada ano uma leva de pessoas talentosas que estão chegando dentro do cenário musical da cidade. Sou muito amigo da maioria das pessoas que estão concorrendo esse ano e fica meio difícil torcer por alguém em especial. Independente do resultado, sei que ele vai ser muito bom”.
18h
O cheiro de dendê do acarajé das baianas tomou conta da Praça, deixando os transeuntes famintos depois de um longo dia de trabalho. De chinelos havaianas e bermuda vermelha, o ator e integrante do grupo musical Alisson Menezes e a Catrupia, Rodrigo Freire, se preparava para tocar alfaia na apresentação de Daniel Oliveira, um dos participantes do concurso. Rodrigo, inseguro com a roupa e com o horário, ameaçava ir em casa se arrumar, mas entre uma preocupação e outra, afirmou que “a música é uma percepção rítmica. Acredito que tenha sido a primeira linguagem que o ser humano teve de comunicação. Embora eu acredite que ainda há uma carência muito grande na Secretaria de Cultura, acho bacana essa iniciativa. Obviamente, a música é a arte que tem mais espaço na cidade, por ser uma linguagem mais acessível, mais mastigável. Eu só espero que essas iniciativas não fiquem só por aqui, acho que o estímulo tem que ser pro artista fazer música, independente da concorrência”.
20h
A lua cheia junto com as estrelas, que resolveram aparecer mais do que de costume, iluminam os fãs, jornalistas, autoridades e músicos que se encontram na Praça para o último dia do Festival. Entre cervejas, cigarros, água e nervosismo, todos se preparam para a fase final, na qual o artista deve escolher uma música da região. De acordo com o secretário de cultura, Gildelson Felício, o evento serve não só para valorizar e estimular as produções locais, como também para mostrar ao público um pouco do que é feito na cidade.
O primeiro impacto da noite foi a interpretação do cantor Daniel Oliveira, que em meio a tambores, gestos e expressões marcantes, interpretou a música Contenteza, de autoria de Paulo Monarco e Allison Menezes. É a terceira vez que ele participa do concurso, mas a primeira que, finalmente, chega às finais. Iniciou sua carreira musical como cavaquinista, Daniel lembra que a primeira vez que tocou em público foi um desastre, mas que hoje há um amadurecimento e uma preocupação nas formas de fazer e levar música ao público. “Aos 18 anos, eu tinha uma banda com mais cinco pessoas. Eu tocava guitarra solo na banda, mas o cantor fugiu para São Paulo e eu virei o vocalista. Na nossa primeira apresentação em público, quando fui fazer o solo da guitarra, que era ao mesmo tempo da melodia da voz, minha irmã (Tereza Raquel) que estava me ajudando, pisou no cabo da guitarra e soltou. Foi horrível, eu baixei o microfone cantando, botei o cabo da guitarra e continuei, mas já não dava mais pra fazer muita coisa. Hoje, me entendendo um pouco mais como músico, tento levar essa mistura de ritmo, de instrumentos, e de composições ao público de uma forma segura e com qualidade”. Comenta.
Além de Daniel, outros nomes deram um show de musicalidade. Como Lys Alexandrina, ao interpretar “Fí de Deus” de sua própria autoria, Tereza Raquel cantando “Cocoa”, composição de Achiles Neto e Marcos Marinho e a jovem Ananda Santos, com “Âmago”, também de Achiles e Marcos Marinho. Ananda, de apenas 17 anos, com brilho nos olhos e vestido cor de rosa, ficou nervosa ao falar para O Rebucetê. Era sua primeira entrevista. Porém, revelou que a sua participação no Festival, assume primeiramente, um viés de experiência e aprendizado. “É a primeira vez que participo do concurso e está sendo ótimo, porque estou lado a lado com todos os meus amigos que também estão inseridos no Por Isso É Que Eu Canto e é muito gratificante, pois torcemos um pelo outro ao longo dos dias. Como sou nova nisso, por vezes me senti perdida na escolha do repertório, mas acho que fiz uma boa seleção cantando músicas que têm a ver comigo”.
Terminada as apresentações, o ganhador do ano passado, Ítalo Silva, fez uma participação especial cantando músicas como Sabiá, do maestro Tom Jobim, dentre outras. Foi o momento em que os sete jurados se reuniram para a contagem de pontos. Para a musicista Tina Rocha, uma das juradas, a competição desse ano foi acirrada, pois o talento e esforço dos participantes foram grandes, dificultando a escolha por apenas três competidores. “O critério mais coerente é o que se leva em consideração o timbre, a afinação, a postura no palco, a tranquilidade do artista, a colocação da voz, dentre outros pontos. O que eu acho legal do Por Isso É Que Eu Canto, é que alguns vêm aqui pelo simples prazer de cantar, eles não têm nenhuma pretensão profissional, mas há aqueles que quando sobem no palco, você percebe que eles têm essa vontade de seguir em frente e formar uma carreira. Ambos os casos são muito bonitos”, declara a jurada.
O Festival terminou em ritmo de comemoração com o anúncio dos três primeiros colocados. Tereza Raquel conquistou o terceiro lugar, seguido por Suzi Dias em segundo e Achiles Neto em primeiro. Ele, que já ganhou outros concursos como o de forró, realizado no meio do ano aqui em Conquista, além do terceiro lugar no Por Isso É Que Eu canto de 2010, marcou sua trajetória no concurso desse ano com músicas como Sinal Fechado, Agnus Sei e a regionalBoi de Ciranda, composição de Geslaney Brito e Iara Assessú. Achiles, muito emocionado confessou não ter gabarito ainda para dar conselhos a quem está iniciando uma carreira. “Uma dica de amigo: o segredo é ocupar esses espaços oferecidos pela Prefeitura, pelas universidades e pelos barzinhos da cidade. Eu sou conquistense apenas de coração, na verdade sou de Maracás, mas fui acolhido aqui de braços abertos e é em Vitória da Conquista que o meu trabalho está sendo reconhecido e valorizado. Então, pra quem está começando agora, eu só digo uma palavra: se mostrar”. Achiles lançou um sorriso de menino e saiu devagar ao longo da Praça, comemorando a vitória merecida.
mari, legal a cobertura da final do por isso que eu canto, mas acho que cabe uma crítica. gostei muito da estrutura do texto, como um diário de bordo que se inicia muito bem, com detalhes interessantes (o cheiro de dendê da praça, a fala do rapaz da prefeitura etc); mas no decorrer do texto a coisa fica genérica e desinteressante. o clímax nunca vem, como se o evento tivesse perdido o gás e apelo para A jornalista e ela tivesse ali pra cumprir sua pauta o mais rápido possível. por ter optado por uma estrutura de jornalismo mais literário no início, o texto perde gás ao se tornar estritamente informativo no final.
ResponderExcluirbj me liga.