-Por Rafael Flores
Em pleno período letivo esquizofrênico, esqueço um pouco a academia e me pico pra São Paulo. Vou participar do IV Congresso Fora do Eixo, que debaterá entre muitas outras coisas, a atual produção cultural do Brasil. Arrisco ser reprovado em algumas disciplinas nessa já metade de curso. No entanto, é tudo por conta deste blog que lês com carinho e paciência.
Este pequeno embrião de idéias, nomeado descaradamente de O Rebucetê, aos poucos conseguiu tomar uma grade percentagem dos meus pensamentos, tornando-se uma das minhas poucas prioridades. Comecei a me visualizar como produtor graças a ele. Comecei a me preocupar com o meu texto, com a interpretação dos leitores, com o conceito do blog, cara, cor, sabor, etc. Então me bateu a necessidade de tomar o O Rebucetê como o meu trabalho.
Ganhar dinheiro e se sustentar com isso? Eu quero, mas não tenho pressa. A produção cultural independente de Vitória da Conquista está em progressão e é neste espaço que me vejo jornalistando, que vejo o O Rebucetê atuando.
O breve contato com o circuito de produção Fora do Eixo, durante a cobertura colaborativa do Festival Suíça Bahiana, despertou em mim uma curiosidade. Como está sendo produzida a “nova cultura brasileira”? Quem está fazendo? Eles estão nos poderes públicos, na iniciativa privada ou nos movimentos sociais? O que é música popular brasileira hoje?
Essas perguntas começaram a clarear quando eu comecei a mergulhar no universo além dos eixos. Sabia que as narrativas lidas na Trip e na Piauí não me fariam entender o funcionamento do treco, queria vivenciar. Em uma reunião pós-festival do Coletivo Suíça Bahiana, responsável por tocar as pautas do circuito regionalmente, foram-nos oferecidas duas passagens, uma pra mim outra pra Paulinha, que até então era membro exclusivo do O Rebucetê. Minha animação foi tanta, que mesmo tendo a notícia de que não seria mais contemplado com a passagem, resolvi pedir um presente de Natal antecipado aos meus pais.
[Intervalo de tempo] Depois de mais de três horas naquela desconfortável cadeira da Web Jet, sendo obrigado a pagar R$3,00 em uma garrafa de 200 ml de água para não desidratar, finalmente consegui pisar em solos paulistanos. Eram 9 da manhã e eu não sabia onde encontrar o transporte que me levaria a Casa Fora do Eixo às 10:30. Ainda esperava respostas do meu pedido de socorro pelo Facebook. “Espere no Portão 1” - dizia o primeiro comando. Aflito e já com o ombro vermelho de dor, por conta do peso das mochilas, caminhei pelo aeroporto em busca do ponto de encontro e o máximo que encontrei foram os membros do Teatro Mágico sem maquiagem esperando um vôo. Pelo menos havia caras mais feias que a minha naquele aeroporto.
Me encostei numa mureta, me venderam um jornal independente, presenciei uma conversa entre uma freira e um cover de Tim Maia (sim, cover oficial!). Não consegui me concentrar em mais nada, só nos ônibus e vans que passavam de segundo em segundo. Nenhum adesivo do Fora do Eixo à vista.
Meio dia, nenhum sinal de carona. Apelo pro TIM. “Não tem ônibus pra hoje, só pra amanhã, pega um metrô” - disseram do outro lado da linha. Meu rosto é que ficava rubro agora, de raiva. Corri pra uma tomada e pluguei meu notebook. Não demorei a achar o endereço do local, pois, pelo menos, haviam me enviado por e-mail junto com os itinerários. Enquanto esperava o pc desligar, fui abordado por um cara muito parecido com o Júpiter Maçã. Ele me pediu a fonte emprestada por cinco minutos, enquanto isso me aconselhou a compactar a bagagem para evitar assaltos. Transformei três itens em um. Ele me explicou onde pegar ônibus e, ao me ouvir dizer sobre o blog, disse adorar o filme “Oh Rebuceteio!”.
Ainda soprando, achei o ônibus fácil. Peguei dois trens de metrô e andei uns três quilômetros com meu sapatinho de Marcelo Camelo. Meu pé rasgou. O caminho foi doloroso. No entanto, a cidade do avesso, foi me mostrando umas coisas bacanas pelo caminho. Meu imaginário, que pintava São Paulo de cinza sempre que a cidade era pauta, foi nocauteado pelas cores do caminho. Era a Liberdade.
Ladeiras íngremes a parte, a casa grafitada foi fácil de achar. Além das cores, as conversas altas me indicavam que era ali. Entrei. Pedi por um banho, não aguentava mais meu ombro ardente. A partir daí minha memória começa a falhar, até agora não dormi. Conversei coisas avulsas com pessoas avulsas, comi, me inscrevi na cobertura colaborativa, tentei cobrir ao vivo a conversa entre os gestores das Casas Fora do Eixo, Talles Lopes, Pablo Capilé, Ivan Ferraro e Sylvie Duran. Anotei expressões soltas como “cultura integração”, “disputa territorial” e “desapego da esquizofrenia da centralidade”. Tenho uma semana pra entender toda essa zorra.
não acredito que a casa fora do eixo fica na liberdade e eu não sabia!! amigo, se joga na liba no tempo livre! melhores biroskas alimentícias ever!
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