terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Que os ventos sejam constantes

Por Thaís Pimenta


Lá de onde eu venho, Macaúbas, nunca houve rumores de protestos ou manifestações. Exceto por uma única vez, que me lembro bem: Tinha meus oito ou nove anos e o prefeito que exercia o mandato nesse período mandou cortar o sinal do SBT, até hoje não se sabe o porquê.  No dia seguinte, não deu outra: as noveleiras de plantão, indignadas, protestavam na porta da prefeitura – elas queriam sua dose de melodrama mexicano, oras!
Foto: Thaís Pimenta
 Na manhã do último sábado (7), ventos universitários vindos de Salvador surpreenderam a população macaubense. Digo surpreender porque nunca presenciaram ato igual. As faixas pediam “Salvem o Ceusma”, enquanto os apitos e sirenes acordavam a cidade.

Ainda era cedo quando residentes e ex-residentes do Centro Universitário e Secundarista de Macaúbas (Ceusma) começaram a concentração. Na Av. Flores da Cunha, principal avenida da cidade, às sete da manhã, os jovens já assinavam a lista para comprovar sua presença no ato. “Não deixe essa história Acabar”, era a frase que ilustrava suas camisas.


Com sede em Salvador-Ba, o Ceusma é uma instituição fundada em 1972. Durante seus 39 anos existência, abrigou diversos macaubenses que partiram para a capital em busca da tal sonhada formação superior. Hoje, o grande responsável pela profissionalização da cidade pede socorro.

Atualmente o Ceusma abriga cerca de 50 estudantes da cidade de macaúbas. Segundo seus moradores, a residência enfrenta sérios problemas de infra-estrutura, infiltrações, sanitários sempre inoperantes, esgoto a céu aberto. Além disso, reclamam da biblioteca instalada em um espaço pequeno e praticamente inabitável e da mobília comprometida.

Enquanto a passeata seguia pelos pontos principais da cidade, entre eles, Prefeitura Municipal e Praça Imaculada Conceição, a população ficava a par da situação precária em que estão vivendo esses estudantes. Da janela de suas casas, moradores sensibilizados acenavam mostrando apoio.

Cidade pequena e suas particularidades

Por que fazer manifestação em pleno sábado?

“É dia de feira! Quem quiser pode chegar...” Sábado é o dia em que a economia da cidade se movimenta.

Uma manifestação visa atingir o setor público, certo? Então, como atingi- lo em pleno sábado, sendo que a prefeitura não funciona nesse dia da semana?

A resposta é simples: um costume antigo da cidade. Todos os prefeitos que Macaúbas já teve, independente do partido ao qual pertenciam, atendiam a população em sua residência. A tradição não mudou, e neste sábado tido como normal, lá estava o prefeito e alguns vereadores a conversar com os cidadãos.

Localizadas as autoridades, o próximo passo é ir ao seu encontro. Após passar pela Praça principal da cidade, a manifestação seguiu até a residência do atual prefeito, Amélio Costa Júnior- PSB. Hora de encher os pulmões, apitar mais alto, ativar as sirenes, erguer os cartazes. Ok?

– Não! A passeata seguiu como se fosse à casa de qualquer outro civil.

O porquê:

– Particularidades de cidade pequena.

Macaúbas ainda apresenta resquícios do coronelismo. Além disso, a política da troca de favores está muito arraigada. “Fazer protesto e colocar em risco um futuro emprego?” Esta aí o porquê de nenhum ruído de manifestações por essas terras.

Apesar de tais “particularidades”, não podemos negar o quão significativo foi esse ato para cidade. Viu-se pela primeira vez os macaubenses em exercício democrático.  Espera-se que esses ventos universitários levem pra longe o ar viciado com ideias e costumes da época do meu bisavô, e tragam até Macaúbas um ar renovado.

1 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

    interessante essa matéria!


    é sempre bom ficar informado, princpalmente quando a informação é da nossa terra natal!

    Fernando Guimarães!

    ResponderExcluir