sábado, 21 de janeiro de 2012

Noite Fora do Eixo + O Rebucetê Entrevista: Joe e a Gerência

Joe e a Gerência/ Foto: Rafael Flores
Por Rafael Flores

Deu tempo de voltar das férias  e pegar a segunda Noite Fora do Eixo do ano. A útiima quinta-feira (19) no Viela teve trilha sonora da conquistense Distintivo Blue e da soteropoltana/paulistana Joe e a Gerência. 

O show da Distintivo foi congruente com o momento da banda, enérgico, bem humorado e trazendo bons ventos. Os bluseiros foram selecionados recentemente no edital do Banco do Nordeste e circularão pelo Ceará e Paraíba no decorrer do ano, além de estarem em vésperas de gravação do primeiro CD. (Ouça o novo single da banda).


Distintivo Blue/ Foto: Ana Paula Marques
Poucos minutos de intervalo e o palco foi ocupado por Joe e a Gerência. Esse é um projeto antigo de Joe, (baixista de Pitty e lenda viva do rock baiano). Há dez anos ele tentou reunir uma turma pra tocar composições engavetadas, rolou um show em Salvador, mas a banda não vingou. Em  2011, Joe sentiu de novo a necessidade de por pra fora essas coisas do tempo de escola e reuniu os amigos de São Paulo, onde mora atualmente. Essas canções foram tocadas no show de quinta-feira e acompanhadas de alguns covers espertos, como Blitz, Tim Maia e Roberto e Erasmo Carlos.

Durante o dia, circulei pelo centro da cidade com Joe(voz), Rick (bateria), Bruno (baixo) e Mimi (guitarra) e os acompanhei no almoço, na passagem de som e no jantar. Nesse meio tempo aproveitei para tirar um casquinha jornalítica das figuras e com gravador em mãos "queixei" uma entrevista. Seguem as palavras de Joe para o Rebucetê:

Joe e Mimi/ Foto: Rafael Flores
O Rebucetê: O que é o Joe e a Gerência? Como surgiu essa parada?

Joe: O Joe e a gerência é uma parada que aconteceu há 10 anos atrás em Salvador. São as composições da  época das minhas primeiras bandas, que eu fiz há um tempo atrás e ficaram sem ser gravadas, registradas, ficaram sem registro algum, aí eu comecei a registrar gravando. E essas músicas ficaram engavetadas na cabeça da gente , sabe? Nas pessoas que viveram essa época. Primeiro aconteceu esse show em Salvador, mas não durou muito tempo a gente tinha muita coisa e bem diferentes a fazer. Quando cheguei em São Paulo agora, isso começou a me incomodar de novo, pensei "vou gravar essas porras e vou tocar". O projeto é esse, são musicas do tempo de escola. Eu tô morando em São Paulo há alguns anos e comecei a gravar músicas com o Duda (baterista de Pitty), com os amigos e disse vou tocar. Brunão já tocava comigo, é tecladista de Pitty e cheguei pra ele e "bora, Brunão fazer um som?", ele toca bateria, baixo, guitarra, toca tudo esse cara, aí ele veio. E o Mimi eu conheço a mais tempo, e coincidentemente ele tinha uma banda com o Bruno. 

OR: E a circulação de vocês, como anda?

J: Essa experiência de tocar, de ensaiar, de ter um contato com a música tá sendo excepcional. Pra mim pelo menos tá muito maior que eu esperava. Assim, quando 'cê forma uma banda 'cê não sabe dizer o que vai esperar, o que vai acontecer, mas eu acho que a gente se encontrou assim. A gente entra no estúdio e toca. Sempre é uma coisa que a gente vai e toca na hora, sempre uma jam.

OR: Agora, mais uma curiosidade, você que foi fundador e integrante de bandas como o Cascadura e os Dead Billies, como era e como é a cena rocker soteropolitana?

J: Eu toquei muito tempo em Salvador, bicho, então eu vi muita coisa acontecer. Porra, década de 90 principalmente foi uma época foda. Eu não sei se pelo fato das bandas estarem juntas, estarem coladas, todo mundo pensando parecido, não igual, mas todo mundo queria tocar. Então em todos os shows em Salvador no início dos 90, os caras de todas as bandas iam, isso já era um público certo. E isso começou a chamar mais gente. Na minha geração tudo começou com a Úteros em Fúria. Porque tem a geração anterior que é a Camisa de Vênus, Trem Fantasma, a galera mais antiga. No final dos anos 80, veio a Úteros com aquilo de "para de ficar ouvindo e tocando merda, bicho, vamo tocar rock nessa porra". E os caras impunham muito isso na época. Então as bandas a partir da Úteros tinham medo de tocar, principalmente dividir o show com ela , porque era uma banda que dava medo em todo mundo. Teve o Cascadura depois veio o Dead Billies. Mas aí, po, depois da Úteros veio a Dois Sapos e Meio, a Lisergia a Inkoma, uma outra geração. Hoje é uma outra galera que tá fazendo o som lá, é muito doido isso, mas tá todo mundo até hoje fazendo som em Salvador. Só que eu acho que a galera não tá tão unida quanto antes, era uma parada de "vai ter show de não sei quem, vamos todos", todo mundo ia pro show. Era uma média de oitocentas, mil pessoas , hoje é de duzentas eu acho. Pra mim isso é um retrocesso muito grande, porque a gente conseguia lotar um espaço de duas mil pessoas só com bandas baianas tocando, sabe? A gente não tem mais isso em salvador, é uma pena muito grande. 

OR: E como era o esquema nas bandas que você integrou, os Dead Billies, Retrofoguetes, Cascadura... 

Na minha geração lá em Salvador era tipo uma religião, sabe? 'Cê entrava numa banda pra não sair nunca mais. Então pra mim sempre foi assim. No Cascadura eu toquei menos tempo, porque a gente teve alguns desentendimentos de visão mesmo dentro da banda. Mas com os Dead Billies fiquei uns oito anos. No Retrofoguetes eu fiquei dois ou três anos, saí porque ia tocar com Pitty e já tenho oito, dez anos com ela. E sempre foi assim pra mim, sempre tocar com os amigos, com as pessoas que você confia e quer estar em todos os lugares junto.

OR: Joe, você que transita entre o mainstream e o underground, pode falar um pouco da diferença em que há entre as duas esferas?

Eu gosto de tocar sabe, bicho? tava falando isso com Mimi outro dia. Eu tava felizão porque a Vivendo do Ócio que é uma banda de Salvador tava tocando em um festival na Itália. Porra, que demais" Aí Mimi disse "Porra, bicho, cê acabou de chegar de dois shows no EUA, vai tocar no Rock in Rio". Eu tava achando demais aquilo, sabe, mas eu não me vejo em mainstream nenhum sabe? Eu me vejo tocando, eu vou tocar no Rock in Rio do mesmo jeito que vou tocar aqui, sabe? Só tendo um som bom pra gente tocar, tá ótimo, vamo nessa.

Confiram o clipe de Acordado, da banda Joe e a Gerência.


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