Por Lucas Eduardo Dantas
Uma história hollywoodiana, assim poderia ser caracterizado o livro “A Privataria Tucana”, se tudo que é descrito nele fosse apenas ficção, Mas não é. O autor Amaury Ribeiro Jr. reuniu durante 10 anos, documentos que comprovassem a máfia das privatizações durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Um material fantástico que desperta em quem lê o sentimento de revolta e aponta a impunidade para com os atuantes de toda essa roubalheira.
O livro é construído em cima de uma série de documentos obtidos por Amaury Ribeiro na junta comercial de são Paulo, principalmente. Através deles o autor embasa suas denuncias, e remonta toda trajetória dos privatas no Brasil e no exterior. As informações e denúncias, contidas nesse material não e nada de tão novo, porém, todas as ferramentas, mecanismos, locais e personagens são revelados. O personagem principal é um dos políticos mais conhecidos do país e da alta cúpula de seu partido: José Serra. Envolvido diretamente com todos os personagens de toda privataria, Serra é apontado como principal mentor e articulador das privatizações, junto com o tesoureiro da gestão de FHC, Ricardo Sérgio Oliveira. A seguir, uma breve amostra de como funcionava todas as falcatruas, e o desenrolar de todo um escândalo, que se entende até as eleições presidenciais de 2010, quando o autor vira personagem, envolvendo-se com escândalos eleitorais, que seriam abafados pelo PIG (Partido da Imprensa Golpista) para proteger o candidato queridinho da mídia.
Off-Shore
As Off-shores, como o livro explica, eram empresas de fachada, geralmente abertas em paraísos fiscais internacionais, comumente na Suíça e nas Ilhas Virgens Britânicas no Caribe. Essas empresas são, na verdade, caixas postais registradas como corporações, “fora dacosta” como a tradução indica. O dinheiro sujo arrecado no Brasil através de corrupção, tráfico de drogas ou qualquer que seja o seu modo ilícito, eram enviados para as respectivas contas dessas empresas. Logo após outra empresa era aberta no Brasil geralmente com o mesmo nome, e com o mesmo dono. A off-shore entrava como acionista dessa nova empresa que nascera, e internava todo o dinheiro sujo, só que agora limpinho, com o comprovante legal de investimento internacional certificado pelo Banco Central.
Muitos a usar desse esquema, seguiam a mesma cartilha, e entre os nomes envolvidos, são citados Ricardo Teixeira, presidente da CBF, Veronica Serra e Alexandre Bourgeois, filha e genro do ex-governador paulista, Veronica Dantas e Daniel Dantas, proprietário do Banco Oportunity e da off-shore Oportunity Fund. O banqueiro foi preso pela Policia federal em 2008 por lavagem de dinheiro e evasão de divisas, mas logo após foi solto pelo STJ. Juntos, com esse mecanismo, todos eles trouxeram para o mais de 500 milhões de reais.
As privatizações e os consórcios
Ricardo Sérgio de Oliveira, tesoureiro durante a campanha de FHC para presidência da república, e diretor do Banco do Brasil durante a gestão, foi o responsável pela montagem de consórcios para os leilões das privatizações. Diferente do que muitos pensavam que tinha sido, as privatizações foram bem mais complicadas do que mostraram ser. Os leilões das estatais, não eram eventos abertos onde qualquer grande investidor podia dar seu lance. É ai que entram os consórcios, montado por Ricardo Sérgio. Compostos por empresários ligados ao próprio Ricardo ou a políticos do PSDB, esses consórcios foram responsáveis pelo arremate de boa parte das estatais nacionais, entre eles destaco o consórcio Guaraniana, composto por Gregório Marin Preciado, primo de Serra e representante da multinacional Iberdrola, que comprou algumas empresas de energia, entre elas a COELBA, da Bahia. Acho que seria inútil expor aqui os nomes de todas as empresas privatizadas, logo que é um fato de conhecimento de boa parte da população. No entanto, o que muitos desconhecem, e que é de extrema importância se dizer, foram os bastidores de todas essas negociações.
O Consórcio Guaraniana, citado acima, onde Gregório Preciado arrematou empresas do setor de energia elétrica em nome da empresa espanhola Iberdrola, teve alguns detalhes “técnicos” omitidos pelos negociadores e pelo governo da época. Logo após a negociação, Ricardo Sergio Oliveira, responsável pela montagem do consorcio e pela finalização da venda, recebeu um depósito em sua conta pessoal no valor de 1,2 milhão de reais, em nome de Preciado. Ficava claro, houvera fraude no consórcio, desde a escolha dos participantes - que contava com o banqueiro Daniel Dantas e o empresário Carlos Jereissati, irmão do ex-senador Tasso Jereissati - ao resultado do ganhador, logo que Ricardo Sérgio recebera um agrado pela negociação. O banqueiro Daniel Dantas, ao saber da manipulação do resultado, ameaça Ricardo Sérgio e para ficar de bico calado, ganha o consórcio da tele Norte Leste, empresa de telecomunicações, assumindo o controle do serviço em 16 estados.
A Coelba
Este episódio em especial chama mais a atenção por se tratar de um assunto mais regional, pois aconteceu em nosso estado.
Recapitulando o que já havia dito, a Coelba, foi arremata por Gregório Preciado, primo de Serra e representante da multinacional Iberdrola, no valor de 1,7 bilhões de reais. Apesar do valor divulgado pela pelo governo, alguns dados não foram esclarecidos. O consórcio Guarniana consistia na venda de três estatais de energia do nordeste: A Coelba, a Celpe(PE), e a Consern(RN), vendidas por montante total de 4,2 bilhões de reais. Entretanto, esse valor não bate com o valor pago pela Iberdrola, logo porque, bancos estatais e fundos de pensão também contribuíram no pagamento da negociação, mas não obtiveram ações das empresas. Na realidade o pagamento foi da seguinte forma: um banco público não identificado contribuiu com 500 milhões, a Iberdrola com 1,6 bilhões, e a principal credora que não teve direito nenhum as ações da empresa, a Previ, injetando 2 bilhões na transação. Só lembrando que Ricardo Sergio, que foi o responsável pela negociação era diretor do BB, e tinha relações contínuas com a Previ. Precisa dizer mais alguma coisa?
O PIG entra em ação
Em 2010, nos período eleitoral, a grande mídia tucana fabricou escândalos para tentar descaracterizar e tentar incriminar a pesquisa que o autor desse livro realizava para lançá-lo, e também por saber que Amaury Ribeiro reunira provas suficientes, que, se veiculadas naquele período, destruiria completamente a campanha do então candidato a presidência, José Serra. Amaury era acusado de quebrar o sigilo bancário da filha do ex-governador, Verônica Serra. Ao perceber que não havia provas suficientes para incriminá-lo, Serra proíbe que a mídia veicule qualquer noticia contundente que envolva o nome do jornalista. No entanto essa omissão não coube só a poupar Amaury das capas de revista. Verônica Serra e seu marido, Alexandre Bourgeois, no ano de 2010 estavam sendo processados pela Receita federal e pelo MPF, por sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. No entanto a mídia dos jornalões, das grandes emissoras televisivas e radiofônicas nacionais fez-se de cega, e nem sequer uma nota lançou sobre o processo que estava em andamento. Ao mesmo, tempo, o PIG atacava o PT por uma formação de um “núcleo de inteligência”, que nunca existiu, onde Amaury Ribeiro era acusado de participar, mas não aparecia nas notícias, por conta da ordem de Serra. Por incrível que pareça dessa vez o tiro veio de outro lugar, sim, do próprio PT, de Antonio Palocci, pra ser especifico, com a intenção de derrubar a cúpula mineira do PT, mais próxima de Dilma.
O livro proporciona uma experiência fantástica para o leitor, que tem a chance de mergulhar nessas informações e tomar conhecimento dos bastidores da politica brasileira. Uma mistura de espanto, curiosidade e revolta, foram as sensações que despertaram em mim ao me aventurar nesse universo das roubalheiras, que sobre o que trata “A Privataria Tucana”. Se coubesse a mim resumir o livro em algumas palavras, diria: Fantástico, Sensacional, Espetacular.
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