sábado, 14 de abril de 2012

Ser Gay é Uó!

Na gíria LGBTT, “uó” é algo ruim e de mau gosto. E no Fuso Horário, em Vitória da Conquista, dois homens se beijarem é proibido.

Por Lucas Oliveira Dantas

Banda Uó/Foto: Rafael Flores
A Banda Uó surgiu em Goiânia fazendo versões brasileiras de sucessos da música Pop estrangeira, como Katy Perry e Rihanna, no ritmo paraense do Tecnobrega. Além do gênero musical irreverente, as letras da Banda Uó falam de amor e sexo de maneira escrachada, carregada em humor. O maior sucesso do grupo até então, Shake de Amor, é sobre a ex modelo e apresentadora Luciana Gimenez e seu caso com o roqueiro Mick Jagger; no primeiro verso eles cantam: “Esse homem veio e te fez cega/Tirou tudo que tu tinha/Tirou até suas pregas/Com você ele brincou/Foi tão inocente/Não deu prova de amor/Só deixou sua bunda quente/E alisou”. Talvez por esse tom jocoso, a base de fãs da banda é, principalmente, o público LGBTT.

Formada pelo trio de vocalistas Candymel, Davi Sabbag e Mateus Carrilho, mais o DJ Lucas Manga, em 2 de março, a banda tocou numa das “Sextas Básicas” do Grito Rock, festival realizado pelo Circuito Fora do Eixo e promovido em Vitória da Conquista pelo coletivo Suíça Bahiana. Com um considerável público de gays, lésbicas e gente descolada da cidade, a banda divertiu e celebrou a diversidade, já conhecida tanto do Grito Rock quanto do Viela Sebo-Café (onde acontecem os eventos do Suíça).

Em parte ajudando o pessoal do Suíça, em parte como correspondente do blog de notícias culturais, O Rebucetê, fiz as vezes de cicerone da Banda Uó em Vitória da Conquista. Juntamente a Ana Paula Marques, estudante do curso de Comunicação Social e assistente de produção/distribuição do Suíça Bahiana, os peguei no aeroporto e, após o show, os levei para a noite conquistense. 

A Banda Uó é fã da música baiana, especialmente, o Axé. E, a fim de agradá-los, eu e alguns amigos partimos com eles para o Fuso Horário. Principal reduto do Axé e Pagode, o Fuso Horário, na gíria gay é um lugar “HT”, ou seja, heterossexual. Não que gays ou lésbicas não frequentem o lugar, mas, bastam cinco minutos no local para perceber que a Banda Uó, por exemplo, é algo desconhecido ali.

A noite fora hilária. Bêbados e no auge da diversão, nos entregamos sem preconceito ao que o Fuso tinha a nos oferecer. Nossos convidados estavam em êxtase, excitados com a graça que a infecciosa música baiana, mesmo quando de gosto duvidoso, é capaz de proporcionar. Contudo, a noite se desfecharia amargamente para alguns de nós: ao presenciar um beijo entre dois garotos do nosso grupo, três seguranças do Fuso Horário se aproximaram e categoricamente disseram: “ei, não pode beijar aqui!” Ao nosso redor, dezenas de casais heterossexuais se beijavam de forma efusiva. Para não dizer erótica.

Segundo dados de 2011 do Grupo Gay da Bahia (GGB), a violência contra homossexuais na Bahia é uma das maiores do Brasil. Entende-se como tal, não apenas a agressão física, mas também a verbal e o constrangimento público direcionado a gays, lésbicas, travestis e transgêneros. Fruto de uma sociedade ironicamente conservadora, a homofobia baiana é ostensiva; em Vitória da Conquista ela é irritante e perigosa por ser mascarada.

Homossexual assumido há quase seis anos, já perdi as contas de piadas e agressões verbais que sofri exclusivamente em Conquista. Foi apenas aqui também que levei um soco de um homofóbico certa noite e ouvi, em plena luz do dia numa movimentada rua da cidade, que eu, por ser gay, merecia um tiro na cabeça.

Para quem vive com a cara a mostra nessa sociedade discriminatória, acontecimentos como o do Fuso Horário – aparentemente pequenos e “leves” – causam desconforto e raiva. Não pela impossibilidade em demonstrar afeto publicamente, mas porque eles são resultados de um comportamento tão enraizado na cultura que é reproduzido (muitas vezes inconscientemente) até entre os homossexuais. Podemos ser gays, desde que longe das vistas da sociedade. Não devemos dar pinta de bixa, nem nos vestirmos como bem entendemos; andar abraçado, de mãos dadas ou beijar em público é querer apanhar. É pedir pra morrer.

Soa dramático, mas é a verdade. Pura e simples. Em tempos de discussão sobre discriminação e bullying, ainda vivemos numa sociedade que prefere ignorar realidades e rechaçar comportamentos normais, porque eles não condizem com padrões morais há tempos postos em cheque.


No Fuso Horário, quem é gay não pode beijar. O Viela pode ser mais tolerante, mas, longe dos “guetos” homossexuais, em Vitória da Conquista SER gay é uó. Só que há outra verdade que cresce e toma voz ativa na cidade, como diz um amigo: “nós somos bixas, estamos aqui e viemos para ficar!”


Em resposta ao ato de preconceito sexual, está sendo organizado o "BEIJAÇO da DIVERSIDADE". O protesto beijoqueiro acontecerá na porta do bar Fuso Horário, na rua Genésio Porto às 00:30h. A concentração será às 23h no bar Budega da Roseira, na "Pracinha do Gil".

2 comentários:

  1. una boa dica pra os gays e todas as pessoas que lutam contra o preconceito seja lá qual for o tipo ! video musica bem interessante , chamado preconceito no canal youtube.com/paulocharral, e tambem parceria de leoni e paulo charral na musica ; não ao preconceito e sim ao amor, vale apena conferir! procure paulo charral musica(preconceito e não ao preconceito e sim ao amor )

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