Na gíria LGBTT, “uó” é algo ruim e de mau gosto. E no Fuso Horário, em Vitória da Conquista, dois homens se beijarem é proibido.
Por Lucas Oliveira Dantas
Banda Uó/Foto: Rafael Flores |
Formada pelo trio de vocalistas Candymel, Davi Sabbag e Mateus Carrilho, mais o DJ Lucas Manga, em 2 de março, a banda tocou numa das “Sextas Básicas” do Grito Rock, festival realizado pelo Circuito Fora do Eixo e promovido em Vitória da Conquista pelo coletivo Suíça Bahiana. Com um considerável público de gays, lésbicas e gente descolada da cidade, a banda divertiu e celebrou a diversidade, já conhecida tanto do Grito Rock quanto do Viela Sebo-Café (onde acontecem os eventos do Suíça).
Em parte ajudando o pessoal do Suíça, em parte como correspondente do blog de notícias culturais, O Rebucetê, fiz as vezes de cicerone da Banda Uó em Vitória da Conquista. Juntamente a Ana Paula Marques, estudante do curso de Comunicação Social e assistente de produção/distribuição do Suíça Bahiana, os peguei no aeroporto e, após o show, os levei para a noite conquistense.
A Banda Uó é fã da música baiana, especialmente, o Axé. E, a fim de agradá-los, eu e alguns amigos partimos com eles para o Fuso Horário. Principal reduto do Axé e Pagode, o Fuso Horário, na gíria gay é um lugar “HT”, ou seja, heterossexual. Não que gays ou lésbicas não frequentem o lugar, mas, bastam cinco minutos no local para perceber que a Banda Uó, por exemplo, é algo desconhecido ali.
A noite fora hilária. Bêbados e no auge da diversão, nos entregamos sem preconceito ao que o Fuso tinha a nos oferecer. Nossos convidados estavam em êxtase, excitados com a graça que a infecciosa música baiana, mesmo quando de gosto duvidoso, é capaz de proporcionar. Contudo, a noite se desfecharia amargamente para alguns de nós: ao presenciar um beijo entre dois garotos do nosso grupo, três seguranças do Fuso Horário se aproximaram e categoricamente disseram: “ei, não pode beijar aqui!” Ao nosso redor, dezenas de casais heterossexuais se beijavam de forma efusiva. Para não dizer erótica.

Homossexual assumido há quase seis anos, já perdi as contas de piadas e agressões verbais que sofri exclusivamente em Conquista. Foi apenas aqui também que levei um soco de um homofóbico certa noite e ouvi, em plena luz do dia numa movimentada rua da cidade, que eu, por ser gay, merecia um tiro na cabeça.
Para quem vive com a cara a mostra nessa sociedade discriminatória, acontecimentos como o do Fuso Horário – aparentemente pequenos e “leves” – causam desconforto e raiva. Não pela impossibilidade em demonstrar afeto publicamente, mas porque eles são resultados de um comportamento tão enraizado na cultura que é reproduzido (muitas vezes inconscientemente) até entre os homossexuais. Podemos ser gays, desde que longe das vistas da sociedade. Não devemos dar pinta de bixa, nem nos vestirmos como bem entendemos; andar abraçado, de mãos dadas ou beijar em público é querer apanhar. É pedir pra morrer.
Soa dramático, mas é a verdade. Pura e simples. Em tempos de discussão sobre discriminação e bullying, ainda vivemos numa sociedade que prefere ignorar realidades e rechaçar comportamentos normais, porque eles não condizem com padrões morais há tempos postos em cheque.
Em resposta ao ato de preconceito sexual, está sendo organizado o "BEIJAÇO da DIVERSIDADE". O protesto beijoqueiro acontecerá na porta do bar Fuso Horário, na rua Genésio Porto às 00:30h. A concentração será às 23h no bar Budega da Roseira, na "Pracinha do Gil".
Pois eu queria ser gay.
ResponderExcluiruna boa dica pra os gays e todas as pessoas que lutam contra o preconceito seja lá qual for o tipo ! video musica bem interessante , chamado preconceito no canal youtube.com/paulocharral, e tambem parceria de leoni e paulo charral na musica ; não ao preconceito e sim ao amor, vale apena conferir! procure paulo charral musica(preconceito e não ao preconceito e sim ao amor )
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