quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"Pensar em fantasia em Vitória da Conquista, em meio à riqueza de cordéis e poetas é uma luta árdua" - O Rebucetê Entrevista: Thales Travalon


Foto: Arquivo pessoal


Por Ana Paula Marques

Thales Travalon, é estudante do IV semestre de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Com seu gosto nato pela escrita e por desenhar mapas nas aulas de geografia em sua época de escola, escolheu o curso para estudar os povos e suas civilizações, unindo o útil ao agradável. Thales é autor do livro "Os Contos de Nória - A Espada Imortal", que conta a história do personagem aventureiro Adrian Black em busca de sua origem. Em entrevista ao O Rebucetê, ele nos contou como se deu o processo de pesquisa e desenvolvimento do livro, publicado recentemente através de uma editora independente. Confiram:


O Rebucetê: Quanto tempo você levou para escrever a obra e qual o motivo que o levou a escrevê-la?

Thales Travalon: Quando me propus a desenvolver um mundo de fantasia, não me aventurei a fazer um rascunho de cara sobre a história em si. Primeiro trabalhei o que mais gosto: a mitologia Ni, que consta desde quando os deuses desse mundo começaram a existir, a divisão de seu céu, como as guerras começaram pelo trono celeste, como um “mundo” que não era dos deuses surgiu e como surgiu a vida nesse mundo. Logo em seguida precisei desenhar mapas, desenvolver uma espécie de “evolução” para esses “seres (não-humanos)”. As últimas atualizações foram a língua/escrita, o desenvolvimento do poder mágico e a construção dos primeiros cenários. Disso até escrever o primeiro capítulo do livro, eu passei quase toda a juventude levantando informações, lendo livros de fantasia e manuais de RPG. Do primeiro capítulo até finalizar a primeira obra, levei cerca de oito meses, contando com os bloqueios e o tempo que às vezes me faltava. E, escrevi porque sempre quis que a vida fosse uma ficção fantasiosa, então decidi criar uma nova vida num livro, onde o sistema fugia do mundo real e me levava para um mundo melhor, tipo um refúgio.

OR: Houveram dificuldades? Como foi esse processo de publicar o livro?

TT: A maior dificuldade que um escritor pode encontrar são os bloqueios criativos. Fazer rascunho e começar a escrever o livro e depois rasgar o rascunho e recomeçar tudo de novo... No meu caso, como meu propósito era criar um mundo completamente novo, tive que estudar mitologias (minha paixão) e tentar compreender porque, por exemplo, os Egípcios adoravam o sol, os Gregos pensavam que os deuses viviam num monte, porque os deuses germânicos eram bélicos... Esse exercício lentamente me fez pensar como seria o meu mundo e porque os deuses seriam, não deus do sol, deusa da lua, deus guerreiro, mas, deuses de magia, ciência, excesso, falta, música, dança e justiça. O levantamento de informações não termina aí, tive que aprender gramática, geografia, matemática... Tudo brincando! E isso foi o divertido. Levantar informações para construir um mundo, me “forçou” a aprender as leis de nosso mundo e suas funcionalidades (inclusive socioeconômicas, históricas, linguísticas, etc) e isso só foi positivo. Então, a dificuldade mesmo foi ter que transformar química em alquimia (risos) e física em magia (risos), porque eu não as entendia nem se o professor do ensino médio me explicasse uma vida toda. O processo de publicar o livro foi “simples”. Tentei editoras tradicionais primeiro, mas, acabei me desiludindo com o tempo com a ideia de ser escritor “controlado” por editoras. Então, decidi participar de uma editora de cultura livre, onde todos podem publicar e que não interfere em nada durante o processo. Agora, os problemas internos são vários, como por exemplo: formar um público, achar primeiros leitores... Por eu jogar RPG com vários amigos isso se tornou mais fácil.

OR: O que o motivou a ser escritor?


TT: Eu passava as aulas de química e física desenhando mapas. E nas aulas de geografia catalogando letras. E nas aulas de história tentando pensar porque precisa saber sobre povos no passado. Mas, as aulas de português foram as melhores. Eu sempre adorava escrever e criar redações e mostrar aos meus professores, que incluíam desde críticas políticas até fantasias e contos breves. E, não fiz letras porque achei mais produtivo, pro meu segmento, fazer história. História é um desafio gigantesco. É necessário estudar os povos e suas civilizações (que não são poucas e são complexas) e esse exercício foi me fortalecendo cada vez mais. Acredito que, encontrando o que eu queria fazer, juntei o útil ao agradável e decidi arriscar ser lido pelas pessoas (um público maior que meus professores de literatura).

OR? Você me disse que a literatura nacional está conhecendo a ficção fantasiosa por agora, com alguns nomes como Raphael Draccon, Eduardo Spohr, etc. Fale um pouco sobre o que você sente em estar “encabeçando” esse movimento em Vitória da Conquista.


Capa do livro "Os Contos de Nória", lançado
por uma editora independente.
TT: O Brasil tem um bonito folclore, isso não se pode negar. Mas, a fantasia que foi imortalizada por Tolkien (O Senhor dos Anéis), Zimmer Bradley (As Brumas de Avalon), Rowlling (Harry Potter), Martin (A Guerra dos Tronos) estamos encontrando por agora com Draccon (Dragões de Éter) e o Spohr (A Batalha do Apocalipse), ainda que eu considere O Sítio do Pica-pau Amarelo uma fantasia geniosa, eu sinceramente preferiria que Emília montasse num cavalo e saísse com uma espada destruindo metade do sítio (risos). É divertido ir onde ninguém nunca chegou. No meu caso, Nória. É claro que Tolkien criou um mundo dez vezes melhor que o meu, nem por isso desmereço meu esforço. Eu tenho incentivado o quanto posso que ainda mais pessoas leiam Spohr e Draccon. Pensar em escritores de fantasia no Brasil é pensar em tempo e esforço. E pensar em fantasia em Vitória da Conquista, em meio à riqueza de cordéis e poetas é uma luta árdua. Uma luta divertida e que requer paciência. Convencer pessoas a dar um espaço em sua estante para escritores não-renomados como eu, é pedir que atirem no escuro. Ainda assim, eu continuo recomendando que leiam cada vez mais escritores brasileiros, afinal, nós brasileiros temos muito a contar também, em relação à fantasia. Temos poetas imortalizados, temos poetas consagrados, porque não escritores de fantasia também imortalizados?

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