sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O ritmo da palavra de Benjamin

O Rebucetê entrevista Diego Oliveira do projeto de música folk Benjamin, que se apresenta neste sábado no Mais MPB

Por Maria Eduarda Carvalho, colaborou Thaís Pimenta.


Foto: Diego Oliveira/ Divulgação
Benjamin é um nome de pessoa, ou de projeto. É o título de batismo dado pelo artista Diego Oliveira ao seu projeto de música folk idealizado lá nos idos de 2008, mas que só veio a público recentemente quando gravado e lançado junto ao seu primeiro EP: Live From a Dead Room - A One Take Session.

As sete músicas gravadas “durante uma madrugada e uma manhã com um gravador portátil” repercutiram na internet e mesmo antes de uma grande apresentação ao vivo já conquistou um grande número de fãs e curtidas no Facebook.

O responsável por tudo isso, o multi-instrumentista Diego também é produtor musical e figurinha carimbada no cenário da música local. Agora também contribui para que Vitória da Conquista se incorpore ao circuito folk da música nacional.

Amanhã, no projeto Mais MPB, Benjamin faz pela primeira vez sua primeira grande aparição em público e as expectativas são das maiores. Para conhecer melhor e esquentar as turbinas para a noite de sábado que promete, O Rebucetê entrevistou Diego Oliveira que apresentou um pouco mais do seu novo trabalho e sobre música.

O Rebucetê: Todas as suas composições são em inglês e o folk também tem essa tradição de ter canções nesse idioma, mesmo quando de outros países. Quais os elementos do inglês que fazem dele uma ferramenta no folk?

Diego: A palavra tem ritmo. Por si só, isoladas, elas trazem informações muito além do seu sentido; têm o poder de conduzir de forma quase física. Imagine palavras como trust, love, faith, elas passam com sua dinâmica exatamente o que o sentido traz, são fortes, diretas. Agora imagine palavras como flowing, floating, percebe o ritmo? Imagine todas essas palavras combinadas e trazendo uma ideia, acho que isso ajuda a entender a grandiosidade do inglês no processo de composição e escrita. É por aí que eu me sigo e, dentro do folk especificamente, é conseguir um pulsar diferente, uma contraponto ao violão, que seja pertinente mas que seja honesto e natural. Não tenho tanta habilidade com o português pra conseguir os mesmos resultados, o que é uma pena, já que não sei se existe língua mais bonita que o português.

OR: Ainda falando do estilo folk, ele não é muito desbravado e conhecido no Brasil, mas existe uma cena ao seu redor. Qual o atual panorama do folk brasileiro? Que bandas você pode citar como referência no quadro nacional?

D: É, o folk vai "muito bem, obrigado"! É um cenário emergente que cativa de formas e intensidades diferentes em cada ponto no Brasil, mas que tem crescido e, o melhor, com extrema qualidade. O cenário paulistano é sem dúvidas algo a destacar, artistas como Phillip Long, The Outside Dog, Phillip Nutt, Gilmore Lucassen, Eric Taylor e ainda mais, bem mais, enfim... realmente tem muita gente de expressão que vem, cada um de sua forma, contribuindo como pode pra que a coisa aconteça. Isso sem falar nos festivais de folk que são maravilhosos. Acústico Folk Music Brazil, All Folks Fest, estão todos aí pra mostrar que a coisa tem seu público e apelo. Na Bahia eu não saberia dizer de verdade; não consigo imaginar como a coisa funciona porque, de todos os estados que me conectei através desse estilo, a Bahia foi o que menos se abriu.

OR: Apesar de não ter se apresentado em público muitas vezes, seu trabalho tem tido uma ótima repercussão nas redes sociais. A quais elementos você atribui essa receptividade?

D: Olha, eu diria que a simplicidade e informalidade que vem sendo feito, desde o processo de gravação das músicas do EP, quanto à forma que cuido das pessoas que estão por perto no Facebook e outros; estou sempre por lá, faço o que posso pra deixar claro que é muito honesta a minha entrega à minha arte e me parece que o recado tem sido entendido. Além disso, vem a gentileza das pessoas que estão acompanhando e compartilhando.

Foto: Diego Oliveira/ Divulgação

OR: Segundo o site Folk Music Brazil sua música tem “uma sinceridade que se pode sentir em cada sílaba e cada nota” e é, de fato, um trabalho para ser muito mais sentido que qualificado. Quais elementos você julga essenciais para dar essa atmosfera lúdica aos sons?

D: Não há muito o que dizer sobre isso, tudo está no verso. Meu verso vem falar do encontro, a alma se toca de alguma forma, com outra, com algo; o encontro se dá, nasce o verso e ele tem vida própria, pede uma cama, um descanso, uma estrada. Essa estrada é o som, o arranjo, a harmonia que aparece, eu só vou trabalhando as curvas.

OR: Apesar de o projeto Benjamin ser novo, sua atuação na cultura local já vem de tempos, trabalhando por exemplo com produção musical em estúdio de gravação. Por acompanhar de perto a rotina das bandas conquistenses, como vê o cenário musical da cidade hoje? Como as bandas têm evoluído dentro dessa nova lógica de produção colaborativa?

D: Grande cenário, só na teimosia é possível pensar o contrário. Temos qualidades em bandas, músicos, produtores, estúdios, quer mais o quê? A arte é um campo de guerra, parte do que você tem de enfrentar consigo mesmo pra fazer de forma honesta. Imagine trazer isso pra o mundo, não é fácil pra ninguém! Por isso, se alguma banda ou artista conquistense dessa nossa geração, ainda não é uma referência nacional, isso não é por falta de gabarito. Os ventos são de toda parte, uma hora sopra aqui, outra acolá.

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