Por Vinicius Carvalho
Foto: Larissa Cunha |
Os gaúchos do grupo de teatro “De Pernas
Pro Ar” vieram à Bahia, pela primeira vez, a convite do FILTE. Trouxeram dois
espetáculos de rua, “Mira” com seus bonecos gigantes, inspirados nas obras do
espanhol Miró e “Automákina - Universo Deslizante”. A trupe familiar se
instalou na Praça Municipal de Salvador na segunda (04) e na terça-feira (05)
em Lauro de Freitas, surpreendendo todos os transeuntes com uma engenhoca
gigantesca.
O mundo portátil, solitário e
impenetrável do soturno Duque de Hosain’g não tinha como não ser notado. A “Automákina”,
assim intitulada por seu criador, Luciano Wieser, encantou trabalhadores que
rotineiramente utilizam o Elevador Lacerda e passavam pelo local, além dos
idosos, universitários, os típicos turistas do centro histórico e
principalmente crianças.
Foto: Larissa Cunha |
Apesar de não ser um espetáculo
infantil, não especificamente, as crianças piram no ‘tiozinho’ de cabelo
estranho. Um garoto chegou a indagar a mãe que a peça se dividia em vários
episódios, alguns fizeram questão de apertar a mão e tirar foto com o ator após
o espetáculo. Sentado em meio ao público não foi difícil perceber o
estranhamento inicial de boa parte das pessoas presentes. Houve estranhamento
de muitos diante do espetáculos, alguns chegaram a dizer, “depois, o maluco sou
eu”, ou inusitadas frases como, “esse cara é pirado na goiaba” e ainda uma
ousada exclamação, “é o avô de Neymar?!”. Mas Wieser, ator em cena compreende
tudo isso: “As pessoas são livres, livremente podem vim, parar, assistir e ir
embora. Se gostar fica e quando termina fica essa sensação de ampla doação, de
que a gente recebe e que a gente deixa algo em cada um”, afirma o artista
acostumado com espetáculos de rua.
A nave, que exigiu dedicação integral
durante três anos, foi construída simultaneamente com a construção da
personagem. Wieser bebe um pouco de tudo, da magia do teatro de rua e suas
técnicas circenses ao simbolismo do teatro de bonecos e instrumentos musicais inusitados.
Sua formação de rua e autodidata o fez passar um mês em uma fábrica de pranchas
de surf para aprender a trabalhar com fibras além de perder cabelos e se ferir
ao produzir os moldes faciais dos bonecos que integram o espetáculo.
O cordão que isola o artista/obra do
público não demora ser rompido. A personagem entra em conflito consigo mesma e
dessa vez decide sair do seu mundo particular e impenetrável e interagir com a plateia:
“É nesse momento que as pessoas se sentem em meu trabalho. Eu construo o meu
mundo e todo mundo constrói os seus respectivos mundos. E a ideia é fazer com
que cada coisa que tu faz, tu deixa um lasca tua, deixa o teu DNA”.
Ao fim da apresentação o artista não
passou chapéu. Continuou a interação com o público recebendo todos que vieram
parabeniza-lo pelo trabalho, o que não foram poucos. “A gente não passa chapéu,
por entender que nosso trabalho é muito grande, é preciso ter outras formas de
recursos”.
Foto: Vinicius Carvalho |
O apoio financeiro para a execução do projeto da peça “Automákina -
Universo deslizante” vem de um edital da Secretaria Municipal de Cultura de
Porto Alegre (RS). Entendi o porquê de não passar o chapéu, mas Luciano Wieser confessou
ao me perguntar após a apresentação “dá pra viver de arte assim?” – Acho muito
difícil, infelizmente.
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