Por
Luiza Audaz
Foto: Luiza Audaz |
Com
essa impressão, desci irrompendo pela avenida, cortando um aglomerado de
lojinhas, que em sua maioria, anunciavam nos cartazes de fundo amarelo quase
fluorescente - Toda Loja de R$1,00 a R$10,00 reais!
Continuei
caminhando e pensando no evento do dia seguinte àquele 31 de setembro; seria a
JAM no MAM (Museu de Arte Moderna) e seus 13 anos de música. Quase não percebi
quando entrei numa viela qualquer e me deparei com a Praça Castro Alves próximo
ao Centro Histórico. Logo ao lado, uma passada pelo Espaço Unibanco de Cinema
Glauber Rocha para conferir a programação de filmes brasileiros, seria também
uma boa pedida para aquela tarde, mas não, pois já comecei a conjecturar numa
longa odisséia de projeções mentais sobre o curso de Cinema trancado. Aniquilei
rapidamente a ideia e me vi, de fato, parafraseando o significado da
expressão Jam Session, numa jam pelas ruas soteropolitanas, improvisando os
caminhos a tomar em cada nova avenida enquanto a expectativa pelo MAM aumentava
em meu passeio pela cidade.
Seria
bonito dizer que no dia 1º de Setembro acordei linda, morena e salinizada
esperando veemente o horário próximo às 18 horas para partir em direção
à tão esperada jam. De fato, os primeiros momentos do dia apontavam para
uma noite assistindo a super Banda Base no Museu de Arte Moderna que naquela
noite reunir-se-ia com quase toda sua formação fixa (saiba mais aqui) e para um encontro com o
público alternativo da cidade que tem sido presenteado periodicamente com
sábados de Jazz e uma rica mistura de música brasileira, logo ali, no Solar do
Unhão.
Mas,
depois de um trânsito comumente infernal na cidade de Salvador, naquele sábado
desci a ladeira do Solar acompanhada por um amigo do cinema. Nos deparamos com
uma cordinha e uma frente de seguranças, muito simpáticos, diga-se de passagem.
Fomos em direção a um deles, que logo nos informou sobre um problema com os
ingressos, ou melhor, com a falta deles, emitidos numa quantidade relativamente
pequena a avaliar pelo espaço que podíamos ainda vislumbrar, vago, do outro
lado da cordinha e que parecia assim ter ficado até o horário que se findou o
show (fui embora pouco antes do fim).
Vamos
então aos lados práticos. A partir de meu trabalho com produção e com pessoas
da produção, sempre ouvi dizer "ô produção", "ei produção",
"a culpa é da produção" e coisas do tipo. Sempre ouvi dizer também, e
comprovei com pouco mais de um ano atuando nessa área, que o que reverbera na
boca do povo e das pessoas envolvidas no evento, deve ser ouvido e levado em
conta, seja como avaliação ou como crítica construtiva. Apesar de não saber
como o evento foi articulado e por quais meandros ele se estabeleceu, também
fiquei com essa impressão, procurando pela produção do evento, assim como
outras pessoas, que questionavam sobre a questão da pouca quantidade de
ingressos.
Passei
algum tempo rondando pelo Solar e ouvindo alguns lados das conversas e,
tentando entender a situação, um rapaz que não me conhecia, encostou por perto
e disse: "na minha época era de graça," reproduzindo o burburinho
estabelecido. A segurança pedia para as pessoas sem ingresso se afastarem da
entrada e, depois de tantos questionamentos, a vimos entrar em contato com a
produção pelo "radinho", perguntava se mais ingressos seriam
disponibilizados. Depois de um tempo de mais expectativa, a resposta negativa
viria dispersando parte das pessoas que aguardavam.
"A
expectativa é a raíz de toda mágoa" bufava William Shakespeare
insistentemente naquele quase fim de dia. Um
rápido olhar em volta era possível identificar os rostos de estudantes,
professores, artistas, músicos, cineastas, trabalhadores em geral, que com as
devidas ressalvas tomavam sua cerveja pacientemente, contemplando o fundo do
palco, apaziguados pela energia do MAM, do cais ao lado e do encontro bonito e
pacífico de diferentes pessoas, que mesmo do lado de fora, riam, conversavam e
se permitiam à comunhão do espaço.
Não
há dúvidas que a comemoração foi linda, proporcionando um encontro emocionado
entre público e músicos, que sorrateiramente faziam valer a Jam Session que,
naquele dia, não atinava para o sentido das iniciais Jazz after midnight¹, pois
ainda era cedo, mas construíam com percussões e seguimentos brasileiros a
improvisação advinda do jazz abaianado.
Parti
por outra Jam pela cidade, sem tantas expectativas, uma volta pelo Pelourinho,
talvez, para ouvir mais um pouco de música antes de partir, ainda cantarolando
uma rima besta na cabeça "ô produção! Ei produção, eu quero ver o Huol²
destruir na percussão", prometendo voltar para dessa vez entrar e
prestigiar o intercâmbio e a comunhão de artistas que o projeto JAM no MAM tem
tradicionalmente promovido.
¹
Jazz depois da meia-noite.
²
Apesar de Ivan Huol ser diretor musical e baterista da Banda Base.
Acessem:
www.jamnomam.com.br
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