terça-feira, 23 de agosto de 2011

Em OFF: O que você não vê no Oficina de Notícias

Trechos que "não foram ao ar" da entrevista com Aninha Franco:

Ana Maria Pedreira Franco de Castro, baiana, poetisa, advogada, dramaturga, escritora, jornalista e porque não dizer, gourmet?!
Anarquista desde a adolescência Aninha vem, junto com outros pensadores baianos, moldando o cenário cultural do estado. A frente da Republica, um misto de encontro gastronômico, troca de ideia e acervo bibliográfico com mais de 7 mil livros, no Pelourinho, e com novos projetos teatrais para esse ano(junto com a atriz Rita Assemany), Aninha fala um pouco da diversidade que há em seu trabalho e em primeira mão, nos conta os segredos dos esperados espetáculos.


Oficina de Notícias - Na década de 80, você, junto com a atriz Rita Assemany, manteve um bar chamado O Blefe, no bairro do Rio Vermelho. O que ele representou para o cenário cultural de Salvador da época? Quem o frequentava?

Aninha Franco - O bar surgiu como uma opção de sobrevivência. Era o lugar alternativo da cidade porque era um lugar pensante. Tinha uma rádio ali. O bar ficava na frente do teatro Maria Bethânia, que hoje é a churrascaria Fogo de Chão, no Largo Colombo. Ali virou o coração da cidade.

ON - Alguma vez você usou esse espaço como fonte de pesquisa e referência em seus trabalhos?

AF - Nossa, eu aprendi sobre a alma humana, mas eu acabaria virando alcoólatra (risos). O maior problema das pessoas é que elas não conseguem conviver com elas mesmas. Seu primeiro interlocutor é você, você tem que conviver consigo,
conversar e decidir com você. Hanna Arendt, filósofa alemã, diz que o grande problema de um assassino é que quando ele mata alguém, é que ele vai conviver com um assassino. É em cima disso que ela vai, e pra isso que serve a filosofia, é pra você entender o ser humano. Geralmente o ser humano não faz essa relação dele com ele mesmo e ele quer o outro. Essa é a historia dos bares e um bêbado que quer isso é talvez a coisa mais insuportável que exista sobre a terra.

ON - Na época do bar você já escrevia?

AF - Comecei a escrever aos 7 anos de idade e nunca mais parei. Eu era a caçula. Meu pai sempre me trazia um livro de Monteiro Lobato todas às sextas- feiras. Eu era uma criança absolutamente energética e sempre ficava de castigo. Eu estava sempre tentando me conter. A única coisa que me concentrava, a única coisa que me parava era um livro e até hoje é assim.

ON - Em uma entrevista concedida à TVE, Rita Assemany comentou que vocês estavam produzindo uma peça. Quais os projetos para esse ano?

AF - Essa nova peça com a Rita é sobre sonhos, que é uma coisa que as pessoas estão precisando desesperadamente na vida. Paralelamente eu estou escrevendo Éramos Gays, com direção do Guerreiro. É um musical sobre como é maravilhoso ser viado. E tem uma música. Eu vou cantá-la em primeira mão... (letra em um box a parte, na versão física do mural)

ON - Na sua visão como se apropriar dos novos meios de comunicação do século XXI pra produção cultural independente?

AF - Porra, bicho, isso tudo tinha que tá linkado, né? Porque nós temos uma coisa preciosíssima, uma cultura linda e maravilhosa. Aí entra Obama para visitar o país e isso repercute no mundo inteiro. Ele cita dois pensadores brasileiros, Paulo Coelho, que não é pensador nem brasileiro, é esotérico, que é um país a parte. E Jorge Ben, com seu lindo Brasil, mas que é de 1968, que é "Moro num país tropical,abençoado por Deus e bonito por natureza.

É o Brasil com z, é a bunda e o carnaval. Uma das matérias que mais me emocionou ultimamente, foi sobre um homem chamado Tom Job Azulai. Ele é cineasta. Na época da ditadura, quando ele era embaixador, começou a ser pressionado a denunciar pessoas. Ele é brasileiríssimo, e conseguiu um filme sobre tortura no Brasil, mostrando dentro da embaixada e foi demitido, expulso, perdeu todas as regalias de um embaixador. Ele disse "Eu não podia. Antes de tudo vem a dignidade e a honra de um homem". E ele saiu do país pra fazer cinema, que era uma das coisas que ele podia fazer, acabou realizando um documentário lindo sobre os doces bárbaros.
ON - E você acha que isso tem a ver com a apropriação dos meios e comunicação independente?

AF - Isso tem a ver com tudo, eu acho que nós precisamos mostrar esse Brasil de homens dignos. A gente precisa mostrar isso. Bruna Surfistinha teve um lançamento tão extraordinário... Não tenho nada contra, mas precisamos mostrar outro Brasil. A gente tem que cuidar do país, tudo é questão de políticas publicas. É a mesma questão do crack, da falta de educação, as pessoas não são educadas para ver nada. Precisamos ser educados para ver, ouvir, assistir, entender e consumir.



Por Rafael Flores, Mariana Kaoos e Bárbara Jardim




Este texto foi postada originalmente para a 1ª edição d' O rebucetê



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